Fortes emoções, luz no fim do túnel, alívio e esperanças com a vitória esmagadora do muçulmano socialista Zohran Mamdani na capital mundial do capitalismo. Saudades de Nova York, onde morei oito anos na década de 1990, e aprendi a conhecer e amar a cidade. Você pode sair de Nova York, mas ela não sai de você.

Só podia ser em Nova York, a mais rica, moderna e mais cosmopolita cidade de imigrantes e símbolo do sonho americano. “If you can make it there, you make it anywhere” (“Se você consegue fazer lá, consegue em qualquer lugar”), como diz a canção-hino da cidade “New York, New York”. Mamdani acreditou.

Justamente em Nova York, onde Donald Trump nasceu, cresceu, fez negócios, deu trambiques, e é detestado, ele perde de lavada em todas as eleições. Assim como na Califórnia, rica e liberal. É nos grotões, na América profunda, na Middle America da caipirada ignorante, dos racistas, que Trump vence. Mas 60% já desaprovam seu governo, muitos se arrependem de ter votado nele.

A vitória de Mamdani foi uma tripla punhalada em Trump, como imigrante, muçulmano e socialista, e um jovem de 34 anos, de classe média e bem educado, filho de um professor universitário e uma cineasta indiana: todas as afrontas a Trump em um só homem. Só isso já é motivo de grande alegria, e orgulho para os nova-iorquinos, que mostraram independência e quebraram preconceitos elegendo um candidato improvável de alta qualidade, e alto risco. Seu estilo de campanha, sem dinheiro mas com redes sociais e propostas fortes, é a inspiração para os democratas conquistarem nas próximas eleições maioria na Câmara, onde Trump nada de braçada e faz o que bem quer.

Além de estilo, Nova York tem caráter. Sofreu para aprender, de uma das cidades mais corruptas e violentas do mundo nos anos 1970 a uma das mais seguras e livres atualmente. Já teve prefeito negro, judeu, gay, ítalo-americano, como prova de falta de preconceitos e respeito pela diversidade, como uma preparação para a chegada de Mamdani.

NYC tambem tem um nível cultural acima da média americana, um nível maior de exigência da sociedade, um nível maior e mais esclarecido de politização. E uma concentração de dinheiro e poder muito acima da média americana. Onde Trump é odiado e ridicularizado, ao longo de toda sua história. Nova York o conhece, e por isso o rejeita. Sua campanha de insultos e difamação acabou sendo um grande cabo eleitoral para Mamdani.

Mas Nova York também é novidadeira, aberta a inovações, fofoqueira, com seus tabloides e shows de rádio, onde a vida acontece em um ritmo que não existe em nenhuma outra cidade, em que tudo tem um sentido de urgência e pressa. A mesma urgência que elegeu Mamdani como um sacode no trumpismo e um sinal de vigor e esperança da democracia americana.

Se fizer uma boa administração e realizar suas promessas de campanha socialistas, mas na verdade social-democratas, logo será chamado pela direita de comunista, e se tornará uma grande estrela da política americana e da oposição a Trump.