As forças israelitas confirmaram ter bombardeado três cidades no sul do Líbano, na quinta-feira, atacando depósitos de armas e instalações da Força Radwan, a unidade de elite do grupo xiita Hezbollah. Ataques que o Irão, que apoia o movimento armado libanês, condenou e descreveu como “selvagens”.
O Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros apelou à “Nações Unidas, à comunidade internacional e aos países da região que confrontem a beligerância de Israel”.
Com aviões de guerra, Israel atacou as cidades libanesas de Kfar Dounime, Tayr Debba e Zawtar al-Sharquiya, apesar do acordo de cessar-fogo com o Hezbollah que está em vigor há quase um ano. As forças israelitas alertaram, horas antes, as populações dessas regiões do sul do Líbano para que se retirassem.
“As instalações estavam localizadas em bairros residenciais, mais um exemplo do Hezbollah a colocar civis libaneses em risco ao usá-los como escudos humanos”, acusaram os militares israelitas na rede social X, acrescentando que foram tomadas medidas para mitigar os danos para as populações.
Na mesma mensagem, o exército israelita justifica que “as infraestruturas terroristas e os depósitos de armas atingidos violam os entendimentos entre Israel e o Líbano”, referindo-se ao cessar-fogo em vigor desde novembro de 2024.
As forças israelitas tinham anunciado anteriormente que estavam a preparar ataques contra alvos do Hezbollah no sul do Líbano, após o grupo xiita reivindicar o direito à defesa e rejeitar negociações entre Beirute e Telavive. Israel reivindicou os bombardeamentos “em resposta às tentativas proibidas da organização de retomar as operações na região”.
O Centro de Operações de Emergência do Ministério da Saúde Pública do Líbano confirmou que uma pessoa ficou ferida em Tayr Debba, sem confirmação de vítimas mortais.
Israel responde com agressão à oferta de diálogo
O exército libanês considerou que os ataques israelitas visavam “impedir a conclusão” do destacamento na região, em conformidade com o acordo de cessar-fogo que pôs fim à guerra entre o Hezbollah e Israel a 27 de novembro de 2024.
O Hezbollah, que afirma respeitar o acordo, foi severamente enfraquecido pela guerra. Israel intensificou seus ataques no Líbano nas últimas semanas, alegando que deseja impedir o movimento islâmico de reconstruir sua infraestrutura.
O presidente libanês acusou Israel de responder com agressão à disponibilidade para negociações.
“Quanto mais o Líbano expressa a sua disponibilidade para negociações pacíficas, a fim de resolver as questões pendentes com Israel, mais Israel continua a sua agressão contra a soberania libanesa”, criticou Joseph Aoun.
Em comunicado, o líder libanês lamentou que Israel mantém “desprezo pela resolução 1701 do Conselho de Segurança” da ONU e “continua a violar as suas obrigações ao abrigo do acordo de cessar-fogo”, em vigor desde novembro de 2024 e que suspendeu as hostilidades entre as forças israelitas e o grupo xiita libanês apoiado pelo Irão.
Ainda segundo Aoun, estes bombardeamentos são um “crime total”, tanto ao nível político como em relação ao direito internacional humanitário, que proíbe causar o pânico entre a população civil e obrigá-la a abandonar as suas casas.
Numa carta aberta à população e aos líderes libaneses, o Hezbollah justificou a recusa do diálogo com a alegada tentativa de Israel de arrastar o Líbano para um acordo que “não serve o interesse nacional”.
ONU pede respeito por tréguas
Nos termos do acordo de tréguas assinado no ano passado, o Hezbollah deve desarmar-se, ambas as partes devem cessar os ataques mútuos e Israel deve retirar-se do território libanês. Contudo, Israel ainda mantém cinco posições no Líbano.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU) apelou ao respeito pelo cessar-fogo no Líbano, após as forças de Israel terem bombardeado alegados alvos do grupo xiita Hezbollah no sul do país.
“Instamos mais uma vez as partes a respeitarem a cessação das hostilidades e a absterem-se de qualquer ato ou atividade que possa pôr em risco a população civil“, disse ainda na quinta-feira Farhan Haq, porta-voz de António Guterres.
O porta-voz confirmou que a ONU recebeu “relatos de ataques aéreos israelitas no sul do Líbano, incluindo na área de operações” da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL).
Do Médio Oriente surgem reações de repúdio destes ataques. Tanto o movimento islamita palestiniano Hamas e a Jihad Islâmica condenaram a vaga de ataques israelitas no sul do Líbano pelo exército israelita.
Em comunicado, o Hamas condenou os ataques e declarou “total solidariedade para com o Líbano, o seu Estado, o seu povo e a resistência”, numa referência ao Hezbollah, que tal como o movimento palestiniano é apoiado militar e financeiramente pelo Irão.
“O inimigo não conseguirá quebrar a vontade da resistência nem impor o seu projeto expansionista face à firmeza dos povos da região”, proclama o movimento, considerado terrorista por Israel e grande parte dos países ocidentais.
Também envolvida nos ataques de outubro de 2023 contra Israel, a Jihad Islâmica enfatizou que os ataques violam o direito internacional e o acordo de cessar-fogo no Líbano, e “representam uma continuação da política sistemática de opressão que a ocupação [israelita] aplica” contra o país-vizinho.
O Hezbollah integra o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão e envolveu-se em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, em apoio do aliado palestiniano Hamas.
c/ agências