O geneticista James Watson, que venceu o prémio Nobel da Medicina em 1962 por ser um de três cientistas a participar na descoberta da estrutura do ADN, morreu esta sexta-feira, aos 97 anos, em Long Island. A morte foi confirmada pelo seu filho, Duncan, ao New York Times, que morreu devido a uma infeção sofrida enquanto era tratado nos cuidados paliativos.
Watson, juntamente com Maurice Wilkins e Francis Crick, descobriu que a estrutura em dupla hélix que faz parte da composição da maior parte dos seres vivos. Esta inovação que abriu a porta à manipulação genética e abriu portas a novas descobertas nesta área, incluindo na identificação com base em amostras de ADN e nos alimentos geneticamente modificados.
“Crick e eu fizemos a descoberta do século, isso estava bastante claro”, disse Watson à Academy of Achievment, em 1986
Depois de receber o Nobel, Watson trabalhou durante décadas na área da genética, tendo participado no Projeto do Genoma Humano, uma iniciativa colaborativa internacional dedicada a mapear e sequenciar o ADN humano que durou entre 1998 e 1993.
O cientista foi ainda o primeiro presidente do Conselho Científico da Fundação Champalimaud. Em comunicado, a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, diz que “James Watson foi uma figura incontornável da ciência”, afirmando que as suas “descobertas essenciais na área da biologia foram determinantes na definição do rumo da Ciência como a conhecemos hoje”.
Enquanto presidente, lê-se no texto, organizou um encontro no Cold Spring Harbour Laboratory, no estado de Nova Iorque com “alguns dos mais reputados cientistas do mundo” em que se definiu “o modelo de funcionamento” da Fundação Champalimaud, que diz estar “para sempre em dívida com James Watson” e que o cientista é “parte do ADN da Fundação”.
Em 2007, Watson sugeriu que as pessoas negras não eram tão inteligentes como as brancas numa entrevista ao The Sunday Times, algo que, dizia, o deixava “intrinsecamente pessimista quanto às perspetivas para África”. Na mesma entrevista, dizia acreditar que “pessoas que têm de lidar com empregados negros” saberiam que “não é verdade” que brancos e negros eram iguais.
O cientista acabou por pedir desculpas e retratou-se, como noticiou o New York Times, dizendo que tinha sido mal citado e que “não havia base científica para esta crença”. Mesmo assim, foi demitido do cargo de chanceler pela instituição, mantendo-se ligado a cargos honorários ao laboratório.
Em 2014, Watson voltou à ribalta por ter vendido a sua medalha do Prémio Nobel num leilão por cerca de 3,5 milhões de euros, dizendo querer angariar dinheiro para a investigação científica. A medalha Nobel foi comprada pelo oligarca russo Alisher Usmanov, que dissera depois que queria devolver o galardão.
Cinco anos depois, em 2019, após ser questionado sobre estas declarações num documentário sobre si da televisão PBS, Watson disse que aquelas ideias que tinha expressado na entrevista não tinham mudado.
“Gostaria que eles tivessem mudado, que houvesse novos conhecimentos que dissessem que a educação é muito mais importante do que a natureza. Mas não vi nenhum conhecimento. E há uma diferença média entre negros e brancos nos testes de QI. Eu diria que a diferença é genética”, disse então.
As novas declarações levaram a que o laboratório, que liderou entre 1968 e 1993, retirasse-lhe todas os cargos honorários que ainda mantinha, incluindo o de “chanceler emérito”.
“As declarações que ele fez no documentário são completa e totalmente incompatíveis com a nossa missão, valores e políticas, e exigem o corte de quaisquer vestígios remanescentes do seu envolvimento”, disse então o Cold Spring Harbour Laboratory, em comunicado.
Statement by Cold Spring Harbor Laboratory addressing remarks by Dr. James D. Watson in “American Masters: Decoding Watson”https://t.co/irMnebcI3K
— Cold Spring Harbor Laboratory (@CSHL) January 11, 2019