As aplicações de encontros (dating apps nessa língua franca que é o inglês) chegaram ao mercado como solução para encontrar o par perfeito, mas a realidade mostra que a promessa nem sempre se cumpre.

Os sinais são visíveis tanto nos mercados financeiros como nos ecrãs dos utilizadores: as ações da Bumble e da Match Group (proprietária do Tinder) caíram e o número de inscritos ativos diminuiu.
De acordo com dados da Sensor Tower, citados pela revista “The Economist”, os encontros online parecem estar a perder o encanto. Os números falam por si: no ano passado, as aplicações deste segmento foram descarregadas 237 milhões de vezes, uma queda em relação aos 287 milhões em 2020.
Também o número de pessoas que utilizam estas apps pelo menos uma vez por mês diminuiu de 154 milhões em 2021 para 137 milhões em 2024. Segundo a revista, os utilizadores estão desiludidos, gastam menos dinheiro nestas aplicações e passaram a privilegiar os encontros presenciais.

Um recente working paper escrito por três economistas, Yujung Hwang, Aureo de Paula e Fanzhu Yang, tenta esclarecer se as dating apps nos tornam mais seletivos. Como nas redes sociais, existem forças em ambas as direções: algumas permitem que as pessoas filtrem o quem veem por categorias como religião e nível de escolaridade. Esses filtros, explicam os autores, podem contribuir para uma maior polarização, levando as pessoas a namorar apenas indivíduos semelhantes.

No entanto, o paradigma pode estar prestes a mudar. Depois do swipe, chegou a era da Inteligência Artificial. Um exemplo. A startup japonesa Loverse AI está a revolucionar o conceito de romance ao substituir perfis reais por avatares gerados por IA, criando interações virtuais que pouco se distinguem das interações humanas. Sem necessidade de validação de identidade ou exposição pública, estas apps prometem ligações profundas, seguras e altamente envolventes com parceiros que não existem.

“A IA não está a substituir a intimidade. Apenas dá uma certa vantagem aos solteiros”, diz Amanda Gesselman, psicóloga do Instituto Kinsey. “Para uma geração sobrecarregada com tantas opções, ferramentas que tragam clareza e agilidade são mais do que bem–vindas”, acrescenta.

Para enfrentar perda de clientes, o Tinder, o Grindr, o Bumble e o Hinge têm vindo a testar funcionalidades como concierges a sugerir locais de encontro, roupa a usar e desbloqueadores de conversa. A nova tendência pode passar, também, por substituir escolhas rápidas baseadas em fotografias por perfis construídos com dados emocionais, abrindo espaço a ligações mais verdadeiras.
Aliás, esta é uma ideia que tem vindo a ser defendida pela fundadora do Bumble. Whitney Wolfe Herd passou quase toda a sua vida profissional no negócio de encontros e defende que a IA pode desempenhar o papel de cupido nos dias de hoje.