O Tribunal de Contas francês emitiu um relatório sobre o roubo no Museu do Louvre, em Paris, considerando que a administração do espaço preferiu investir na promoção da sua imagem, deixando para trás coisas importantes, como a segurança.
“Apesar dos recursos abundantes, o museu, devido à falta de hierarquização dos seus numerosos projetos, enfrenta um obstáculo de investimentos”, alerta o Tribunal num relatório referente à gestão do museu entre 2018 e 2024.
O relatório é lançado três semanas após o assalto a um dos museus mais famosos do mundo e já se esperava que nele constassem criticas à sua gestão.
Este caso “é, sem dúvida, um alerta contundente sobre o ritmo lamentavelmente inadequado” da renovação e atualização dos equipamentos de segurança no museu, disse o presidente daquela autoridade fiscalizadora francesa, Pierre Moscovici, em conferência de imprensa.
Segundo a BFM TV, o Tribunal de Contas alega que o museu “privilegiou operações visíveis e atraentes em detrimento da manutenção e renovação dos edifícios e instalações técnicas, nomeadamente de segurança e proteção”.
Recorde-se que os resultados de uma auditoria divulgados na quarta-feira revelam igualmente que há mais de 10 anos que o museu ‘vive’ com graves vulnerabilidades de cibersegurança.
O jornal francês Liberatión teve acesso a documentos confidenciais que dão conta de várias falhas no sistema de segurança. Por exemplo, o facto de a palavra-passe do sistema de videovigilância ser nada mais nada menos que… ‘Louvre’.
A administração do Louvre reagiu, dizendo aceitar “a maioria das recomendações” feitas, embora tenha defendido que o relatório “não reconheceu” várias medidas, designadamente no capítulo da segurança.
Como já constava de um documento preliminar, o tribunal destacou “um atraso considerável no ritmo dos investimentos” face à “deterioração acelerada” do museu, que recebeu nove milhões de visitantes em 2024, dos quais 80% turistas estrangeiros.
Moscovici contrariou também os sindicatos de trabalhadores do setor, na opinião dos quais o furto só foi possível, em parte, pela falta de pessoal da segurança, argumentando que “são possíveis melhorias na segurança sem um aumento significativo no número de funcionários”.
“O roubo de 19 de outubro (…) demonstra, pelo contrário, que foi facilitado graças aos equipamentos de segurança inadequados”, afirmou o presidente do tribunal.
Já tinham existido alertas do género nas conclusões preliminares do inquérito instaurado pelo Ministério da Cultura, na sequência do assalto.
A ministra da tutela, Rachida Dati, declarou ter existido uma “subestimação crónica e estrutural do risco de intrusão e roubo” por parte do museu e também “medidas de segurança inadequadas”.
Dati anunciou então medidas para lidar com a “grave falha de segurança” nas imediações do Louvre, incluindo “medidas anticolisão e anti-intrusão”, que garantiu irem ser executadas “antes do final do ano”.
A ministra francesa pediu ainda à diretora do museu, Laurence des Cars, que preside à administração desde setembro de 2021, para “rever o modelo de governo da instituição” e criar “um novo departamento de segurança, que responda perante a presidência” do Louvre.
A administração do Louvre tem marcada para sexta-feira uma reunião de extraordinária, depois de Laurence des Cars ter admitido falhas no sistema de segurança na audiência perante a Comissão de Cultura do Senado francês, que a questionou.
Tudo aconteceu há 19 dias, numa manhã de domingo e com o museu a funcionar normalmente, quando quatro ladrões pararam uma máquina empilhadora numa das ruas adjacentes ao histórico edifício e dois entraram na Galeria de Apolo, através da plataforma elevatória.
Arrombada uma janela, roubaram joias reais e imperiais, recorrendo a rebarbadoras para abrir as vitrinas onde estavam as peças, antes de se porem em fuga pelo mesmo método.
Até agora, há quatro pessoas suspeitas, detidas e indiciadas – três alegadamente por participação direta no furto -, mas o paradeiro das joias continua desconhecido.
[Notícia atualizada às 12h58]
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