A psicoterapia feita com uma pessoa em abstinência e a feita com alguém que ainda consome são diferentes uma da outra?
A abordagem terapêutica é a mesma: o foco particular nos assuntos específicos é que é diferente. E levou-me a criar um mapa com nove tarefas terapêuticas, que se apoiam umas nas outras. A terapia nunca é linear. Quando me pergunto, “hoje o que traz esta pessoa à sessão”? “Em que me preciso de focar?” As tarefas ajudam-me. A primeira passa por criar segurança e uma aliança, baseada em reconhecer dignidade à pessoa; de seguida, desenvolver uma relação curativa; a terceira é aumentar a capacidade das pessoas se autoregularem, de gerirem os sentimentos desconfortáveis que as possam levar ao consumo; depois, recorrer à mindfulness para poder refletir sobre o impulso que leva ao comportamento aditivo; em quinto lugar, avaliar o comportamento e dar-lhe significado; de seguida, abraçar a ambivalência, porque em muitos dos tratamentos tradicionais só se fala do porquê de se querer parar, mas não se fala da parte da pessoa que adora ficar sob o efeito de substâncias, parte que também tem que ser respeitada no processo terapêutico; em sétimo, estabelecer objetivos de redução de riscos, porque se eu bebo para gerir a ansiedade, posso desenvolver outros meios de compreender, resolver, gerir esse sentimento; depois, criar uma estratégia para chegar aos objetivos; e finalmente gerir a contratransferência [os sentimentos de empatia por que passa o terapeuta quanto ao paciente durante o processo terapêutico].

O processo de tratamento tem uma duração? Ou o psicólogo pode acompanhar o paciente toda a vida?
Bem, se for possível… Mas o processo de terapia pode acontecer numa sessão: pode haver uma interação que crie este tipo de nova experiência relacional, sobre a qual a pessoa possa não ser capaz de agir naquele momento. Mas com o tempo, isso pode levar a um envolvimento. Este trabalho é altamente individualizado. Estou disposto a trabalhar com as pessoas da forma mais flexível possível. Trabalho com algumas há anos. Outras, vejo uma vez por mês.

E como define o que é o uso moderado de substâncias?
Penso que isso é definido pelo indivíduo. O que podemos dizer é que há medidas objetivas de consumo problemático, mas esse consumo precisa de ser realmente definido pela pessoa. Penso que em geral, o consumo moderado é o que não é problemático, e um objetivo de redução de risco: um padrão de uso que maximize o benefício e minimize o malefício ou o risco. É uma definição desafiante, porque leva o indivíduo a pensar quais são os benefícios que está a obter e que quer manter. Qual é a motivação para continuar a querer consumir? E quais são os riscos que quer minimizar? E trabalha nisso para desenvolver o que eu chamo de um plano ideal de consumo. Algumas pessoas reconhecem que os benefícios são maximizados ao não consumir de todo. Podemos criar um plano de consumo ideal, e experimentar na vida real. Ver como funciona ou não, voltar e afinar o plano ao longo do tempo.