De acordo com a investigadora, transformar esta visão em realidade, porém, traz desafios para a pesquisa. O maior deles é combinar interligência, conectividade e sustentabilidade na mesma plataforma de materiais. “Hoje, a eletrónica é eficiente, mas ambientalmente cara; os materiais biodegradáveis são ecológicos, mas ainda não permitem processamento complexo de informação”, reconhece Kiazadeh, que vê na energia outro ponto crítico:
“Para que o IoT seja realmente sustentável, os dispositivos precisam de funcionar sem baterias, aproveitando a energia que existe no ambiente e comunicando com as redes móveis de forma muito eficiente e com baixo consumo.”
De acordo com a investigadora, Portugal tem tido um papel central no esforço de provar que a IoT sustentável não é apenas um conceito, mas uma nova geração de eletrónica circular e regenerativa.
“Na NOVA FCT, a nossa força está em ligar a ciência dos materiais à eletrónica inteligente. Estamos a desenvolver dispositivos que não só comunicam e recolhem energia, mas também processam informação localmente, inspirados no funcionamento do cérebro”, afirma. “Estamos a transformar a sustentabilidade num novo princípio de design para a computação. Este trabalho coloca Portugal na linha da frente de uma nova geração de hardware eco-inteligente, capaz de servir simultaneamente a transição digital e ambiental”, acrescenta.
O percurso de Asal Kiazadeh ajuda a explicar a ambição do seu projeto de investigação. Doutorada sob orientação do professor Henrique Gomes, hoje na Universidade de Coimbra, a iraniana desenvolveu parte da sua investigação em colaboração com a Philips Research, em Eindhoven. Há cerca de uma década, fixou-se em Lisboa, na Universidade NOVA, onde atualmente é professora auxiliar na FCT.
Durante o doutoramento, começou a explorar dispositivos eletrónicos capazes de reproduzir o comportamento sináptico. “Isso despertou a minha curiosidade sobre como os materiais podem aprender e adaptar-se — tal como o nosso cérebro. Com o tempo, percebi que inteligência e sustentabilidade têm de evoluir juntas.”
No seu centro de investigação, encontrou o ambiente certo para o desenvolvimento deste processo. “A colaboração e a curiosidade surgem naturalmente, e isso moldou a forma como vejo a investigação — como um esforço coletivo e multidisciplinar, que une diferentes áreas do conhecimento para criar soluções inovadoras e sustentáveis.”
A investigadora, que considera Lisboa a sua casa — os filhos nasceram por cá e são também os “professores mais divertidos, que corrigem o sotaque” —, acredita que o projeto em curso pode consolidar o protagonismo português nesta nova fronteira tecnológica. “Com o GAIA, esperamos posicionar Portugal como um dos protagonistas na eletrónica neuromórfica sustentável e inteligente, capaz de unir ciência de ponta e responsabilidade ambiental.”