Há muitos séculos que os elefantes são conhecidos na Índia como animais sagrados. Mas a vida dos que vivem em cativeiro, e são usados para transportar turistas, por exemplo, não parece poder ser descrita como sagrada.

Desde a pandemia que esta actividade turística tem visto alterações: o fluxo turístico aumentou e a legislação mudou, mas os activistas pelos direitos dos animais querem alterações. No estado do Rajastão, o turismo compõe cerca de 15% do PIB, apontam dados do relatório económico de 2024/2025 da região.

Por todo a Índia estima-se que haja cerca de 27 mil elefantes, sendo o país com a maior população de elefantes no mundo. As condições de vida destes animais por todo o país são muito diferentes. No sul do país, sobretudo no Rajastão, Kerala e Tamil Nadu, todos os elefantes são mantidos em cativeiro, em santuários. Segundo o El País, na Índia, entre 2 700 e 3500 elefantes vivem em cativeiro, e mais de 75% desses participam em actividades turísticas. A Wildlife SOS aponta que “é importante salientar que muitos dos elefantes em cativeiro na Índia são adquiridos de forma ilegal.

A ideia dos santuários era proteger a espécie, mas a realidade é diferente. Hoje, a maioria desses animais são usados para fins turísticos: passeios, transportar turistas, procissões religiosas, eventos políticos ou apenas para os turistas lhes tocarem e tirarem fotografias. Segundo a BBC, nestes três estados morreram mais de 70 elefantes em cativeiro, entre 2015 e 2017.

O relatório da World Animal Protection (WAP) considera que foi na Índia que começou a prática de “domesticar os elefantes para uso pelos humanos”. A mesma organização alerta para a falácia da “domesticação” destes animais. No mesmo relatório a WAP garante que definir os elefantes como “domesticados” é errado, já que esta espécie nunca passou por esse “longo processo biológico”. Lidar com estes animais continua a apresentar riscos, visto que “mantêm os comportamentos” de uma espécie que é selvagem.


Suparna Ganguly, presidente do Wildlife Rescue and Rehabilitation Center, disse à BBC que que a ignorância dos cuidadores é um dos maiores problemas, e que é motivo de morrerem muitos dos elefantes mantidos em cativeiro. Os elefantes são forçados a passar horas e horas em alcatrão, o que “por si só já é suficiente para os deixar doentes”. A dieta destes animais, na vida selvagem, é rica e diversificada – ao contrário dos elefantes dos santuários, que têm uma dieta demasiado restrita, disse a presidente à BBC.

A PETA garante que muitos dos elefantes usados para fins turísticos são violentados pelos cuidadores. “Batem-lhes com utensílios de metal afiados”, têm “graves problemas nas patas” e “é-lhes negada água e comida”. O resultado de manter os elefantes nestas condições é que muitos acabam por atacar. O stress e frustração devem-se aos cuidadores que não garantem um estilo de vida semelhante àquele de uma vida livre, selvagem. Em 2024, em Kerala, morreram nove pessoas por ataques de elefantes mantidos em cativeiro. Kushboo Gupta, da PETA Índia, explicou ao El País que “estes elefantes atacaram humanos por pura frustração, por serem usados para montar”.

As últimas alterações à lei quanto aos animais não são satisfatórias para a PETA Índia. Em 2022 a Lei de Protecção da Vida Selvagem de 2022 foi alterada e no ano passado entraram em vigor as Normas para a Transferência de Elefantes em Cativeiro. A organização considera que estas “facilitam as transferências entre estados e diluem a fronteira entre conservação e exploração”.

O turismo cresceu muito, mas quem lucra com o negócio turístico dos elefantes continua a ter preocupações sobre o futuro. Para muitos mahouts, os cuidadores dos elefantes, esta é a única fonte de rendimento. O presidente do Comité de desenvolvimento da aldeia dos elefantes de Jaipur, Ballu Khan, disse ao El País que 15 mil pessoas dependem dos 65 elefantes da aldeia, e que a diminuição dos preços dos passeios turísticos (cerca de 15 euros) só “piorou a situação”. “É um problema sério”, apontou.

A PETA Índia apresenta uma solução: elefantes robô. A iniciativa pretende que se utilize esta réplica durante os eventos religiosos, para que não haja mais incidentes e os eventos aconteçam “de forma segura e livre de crueldade”. A ideia da organização é substituir todos os elefantes vivos em santuário por réplicas como esta, e reforçam a mensagem “Os elefantes não são mercadoria”.