Durante muito tempo, os super-heróis na televisão eram vistos como entretenimento simples e exagerado, sem profundidade emocional ou ambição artística. Eram histórias lineares, com personagens quase estáticos e pouca reflexão sobre seus conflitos internos ou sobre o mundo ao redor. Porém, ao longo das últimas décadas, algumas séries romperam esse molde e demonstraram que o gênero podia ser tão sofisticado e impactante quanto qualquer grande drama.
A virada começou nos anos 1990, com a animação Batman: The Animated Series (1992–1995). A produção trouxe uma atmosfera noir inédita, visualmente refinada e narrativas que exploravam psicologia, medo, trauma e moralidade. A estética e as atuações marcantes de Kevin Conroy e Mark Hamill definiram, para muitos, a versão definitiva de Batman e do Coringa. A série não apenas influenciou outras produções animadas, como também moldou jogos e quadrinhos.
No mesmo período, X-Men: The Animated Series (1992–1997) mostrou que animação de super-heróis também podia ser política e emocional. Suas tramas abordaram preconceito, exclusão e identidade de forma direta, aproximando-se mais dos arcos clássicos dos quadrinhos do que muitas adaptações live-action da época. Foi ela que apresentou uma geração inteira ao universo mutante de maneira séria e envolvente.
Já nos anos 2000, Smallville (2001–2011) trouxe uma abordagem mais intimista ao mito do Superman. Ao focar no crescimento de Clark Kent antes do uniforme, a série explorou dilemas pessoais, laços familiares e o peso das expectativas. A ideia de desenvolver heróis pela construção de caráter, e não apenas por batalhas, marcou um novo caminho para o gênero e influenciou diretamente o surgimento posterior do Arrowverse.
Super-heróis evoluíram nos últimos anos
Quando Demolidor (2015–2018) chegou à Netflix, a percepção sobre o universo Marvel na TV mudou drasticamente. A produção apostou no realismo, na violência coreografada e no conflito moral como força dramática. Matt Murdock era falho, dividido entre fé, justiça e violência. A série mostrou que histórias de heróis podiam assumir o tom de um drama urbano complexo, com peso emocional e impactos narrativos duradouros.
Enquanto isso, The Boys seguiu o caminho oposto do ideal heroico tradicional. Ao retratar super-heróis como produtos corporativos manipuláveis, a série desmontou o mito da virtude e revelou a relação entre poder, imagem pública e corrupção. Ácida, violenta e provocadora, reposicionou o gênero como ferramenta de crítica social.
Por fim, WandaVision (2021) mostrou que o gênero também pode ser experimental. Misturando sitcom, metalinguagem televisiva e drama psicológico, transformou o luto de Wanda Maximoff em uma jornada que atravessa décadas de formatos televisivos. Aqui, a fantasia não é escapismo: é um mecanismo emocional.
Essas seis séries, cada uma ao seu modo, não apenas redefiniram o que significa contar histórias de super-heróis na televisão, como também ampliaram as possibilidades estéticas, temáticas e emocionais do gênero. Sem elas, o cenário atual de heróis no audiovisual seria muito mais limitado e menos ambicioso. Elas provaram que, por trás de capas e poderes, o que sustenta uma grande história são seus sentimentos, suas contradições e suas perguntas.