Até a primeira evacuação fornece pistas sobre o desenvolvimento do sistema imunitário e a saúde futura.
Kathy Schrey Meteored Alemanha 09/11/2025 09:03 5 min
Um pequeno monte na fralda: discreto, mas um verdadeiro tesouro para a ciência. Os investigadores suspeitam que possa conter pistas sobre a saúde futura de uma pessoa.
Como relata a BBC, as primeiras fezes que um bebé produz podem revelar informações sobre o seu sistema imunitário, a sua suscetibilidade a doenças e até o seu bem-estar emocional.
A grande experiência das fraldas em Londres
Num laboratório do Queen’s Hospital, em Londres, foram analisadas 3.500 fraldas. O projeto, apropriadamente chamado “Bioma do Bebé”, visa compreender como os primeiros micróbios no intestino de um recém-nascido afetam a sua vida posterior.
Os primeiros dias são cruciais
Porque, ao nascimento, inicia-se uma colonização microscópica que pode ser crucial. “Nos primeiros dias após o nascimento, surge uma espécie de microbiota nascente no intestino”, afirma o epidemiologista Nigel Field, do University College London. Só ao fim de três ou quatro dias se forma uma comunidade bacteriana estável, e esta parece moldar o sistema imunitário.
Uma vantagem natural ou um germe hospitalar
Os bebés que nascem por via vaginal recebem uma importante vantagem inicial: ao passarem pelo canal vaginal, ingerem bactérias do intestino da mãe, principalmente Bifidobacterium longum e Bifidobacterium breve.
Estes microrganismos ajudam a digerir os açúcares complexos do leite materno e produzem ácidos gordos de cadeia curta que ativam o sistema imunitário, reforçam a barreira intestinal e controlam os germes nocivos. Este contacto inicial “programa” essencialmente o sistema imunitário e pode influenciar a capacidade da criança para combater infeções ou reagir a alergias mais tarde na vida.
Nos bebés nascidos por cesariana, esta colonização precoce é diferente: não recebem automaticamente bifidobactérias da mãe, mas frequentemente Enterococcus faecalis, uma bactéria comummente encontrada em ambientes hospitalares.
Lançam as bases para o desenvolvimento do sistema imunitário, a resposta às vacinas e, potencialmente, o risco de infeções respiratórias, alergias ou obesidade na idade adulta.
Estes microrganismos não são necessariamente nocivos, mas não possuem as bactérias “boas” iniciais que garantem um ambiente intestinal saudável e com baixo teor de oxigénio, inibindo o crescimento de germes patogénicos. Estudos mostram que estas diferenças geralmente desaparecem durante o primeiro ano de vida, mas os primeiros dias e semanas podem ser cruciais.
Bactérias protetoras
A diferença não é meramente teórica. O estudo Baby Biome mostrou que os bebés cujo intestino foi colonizado precocemente com Bifidobacterium longum — uma espécie particularmente eficiente na utilização do leite materno — apresentaram menor probabilidade de sofrer infeções respiratórias. Aparentemente, esta bactéria ajuda a “treinar” e a acalmar o sistema imunitário, em vez de o manter em constante estado de alerta.
Impressão precoce, consequências a longo prazo
A investigação sugere, portanto, que a interação entre o método de parto, a nutrição e o microbioma deixa marcas a longo prazo. Isto parece uma recomendação clara, mas não é assim tão simples.
Trocas de fraldas e flora intestinal: as bactérias iniciais moldam o sistema imunitário do recém-nascido.
Nem todos os bebés nascidos por parto vaginal possuem automaticamente as bactérias “certas”, e nem todos os bebés nascidos por cesariana estão em risco.
Entre a esperança e o risco
As tentativas de repovoar artificialmente o intestino — por exemplo, através dos chamados procedimentos de “sementeira vaginal” ou transplantes fecais — são atualmente consideradas controversas.
Especialistas como a investigadora de microbioma Archita Mishra preferem probióticos específicos e seguros. A longo prazo, a esperança é que as misturas bacterianas personalizadas possam ajudar cada bebé a desenvolver uma flora intestinal ideal.
Referência da notícia
BBC, “What a baby’s first poo can tell you about their future health”, veröffentlicht am 4. November 2025.

