Nanovacina prova ser eficaz no tratamento de cancros induzidos pelo Vírus do Papiloma Humano. Foto: Rosa Pinto
Uma vacina de nanopartículas desenvolvida para combater cancros induzidos pelo Vírus do Papiloma Humano (VPH) erradicou tumores num modelo animal de doença metastática em estágio avançado, relatam cientistas do UT Southwestern Medical Center.
As conclusões do novo estudo, já publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mostram os resultados podem levar ao desenvolvimento de um novo tipo de vacina que poderá ser usada para tratar diversos tipos de cancro.
“O nosso estudo oferece uma maneira segura e eficaz de tratar cancros que se espalharam ou não podem ser removidos cirurgicamente”, referiu Jinming Gao, investigador UT Southwestern, que coliderou o estudo com Shuang Chen e Shuyue Ye. “Criar uma nanovacina para uso sistémico em cancros metastáticos não é fácil devido à potencial toxicidade, mas superamos esses desafios com esta nova terapia.”
Há mais de dois séculos que cientistas vêm desenvolvendo vacinas que ativam o sistema imunológico para prevenir diversas doenças. Mas, mais recentemente, os cientistas têm vindo a desenvolver um número crescente de vacinas terapêuticas, que utilizam o sistema imunológico para controlar ou tratar doenças preexistentes, como o cancro. Uma nanovacina utiliza minúsculas partículas para encapsular e transportar antígenos até as células imunológicas, desencadeando a resposta protetora do organismo.
O VPH causa, por ano, cerca de 37.800 novos casos de cancro, só nos EUA, um número que continua a crescer. Embora exista uma vacina eficaz para prevenir o VPH, uma infeção sexualmente transmissível, não existem vacinas terapêuticas para tratar os cancros relacionados ao VPH.
Uma vacina para ser usada para tratar pacientes com cancro relacionados ao VPH, como o cancro de colo do útero e de cabeça e pescoço, que se disseminaram ou estão em locais inacessíveis a intervenções cirúrgicas ou onde a radioterapia não é viável, seria de grande utilidade para salvar vidas, dado que, atualmente são poucos tratamentos eficazes para estes subtipos da doença.
Para desenvolver uma vacina terapêutica contra cancros relacionados ao VPH, o investigador Jinming Gao e outros investigadores envolvidos no estudo combinaram um polímero e um fármaco de pequena molécula que ativam o estimulador de genes de interferon (STING) – uma proteína que desencadeia a atividade imunológica – com um antígeno proteico chamado E7, derivado do VPH. Juntos, esses componentes formaram nanopartículas com cerca de 25 a 30 nanómetros de diâmetro (1 milímetro é dividido em 1 milhão de nanómetros).
No estudo foram usados ratos de laboratório aos quais foi administrada a nanovacina, os investigadores verificaram que a vacina foi absorvida pelo baço, um órgão que abriga células imunológicas responsáveis pela vigilância de partículas estranhas, como vírus. As nanopartículas que penetraram nas células imunológicas decompuseram-se nos seus componentes, com o polímero e o fármaco a estimular a atividade da proteína STING e a proteína viral preparando o sistema imunológico para combater as células que a transportavam.
Os testes demonstraram que a nanovacina erradicou tanto tumores primários relacionados ao VPH como nódulos metastáticos de cancro que se espalharam para outros órgãos. Num modelo de rato de laboratório de cancro de pulmão metastático relacionado ao VPH, 71% dos animais que receberam a nanovacina ainda estavam vivos 60 dias após o tratamento, enquanto os animais que receberam inibidores de checkpoint imunológico – medicamentos considerados o padrão atual para o tratamento de cancros metastáticos relacionados ao VPH – morreram da doença durante esse período.
Quando os cientistas combinaram a nanovacina com a terapia de checkpoint, 100% dos ratos sobreviveram. Os cientistas indicaram que a nanovacina se mostrou segura, não tendo causado danos a órgãos, perda de peso ou atividade imunológica além daquela direcionada aos cancros.
Para Jinming Gao os resultados demonstram o potencial de uma abordagem para o tratamento de cancros relacionados ao VPH e que essa abordagem poderá ser adaptada a outros tipos de cancro por meio da personalização da proteína tumoral alvo da vacina. Os investigadores envolvidos no estudo continuam a testar a abordagem em modelos animais, com o objetivo de, eventualmente, também realizar ensaios clínicos em pacientes.
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