Tudo o que pode acontecer ao Benfica acontece mesmo, confirmando a Lei de Murphy. Num jogo caseiro aparentemente controlado, diante de um adversário com muito menor orçamento e qualidade individual como o Casa Pia (que até despediu o treinador durante a semana), a equipa de José Mourinho perdeu pontos na corrida para o título.  

E, desta vez, fê-lo de uma forma risível… pelo menos para os adversários. Um auto-golo inacreditável de Tomás Araújo após um penálti defendido por Trubin, digno de um sketch de comédia, até arrancou sorrisos ao guarda-redes ucraniano. Esse momento trouxe instabilidade ao jogo e culminou num golo do empate aos 90+1m, de Nhaga, fazendo um impressionante 2-2. Os golos de Pavlidis e Sudakov de pouco serviram. 

Os ânimos exaltaram-se muito, especialmente em direção à equipa de arbitragem, numa segunda parte cheia de incidências e que virou o jogo de pernas para o ar. Um fim-de-semana pleno de associativismo encarnado acaba em tragédia. Após Santa Clara, Rio Ave e FC Porto, o Benfica empata pela quarta vez no campeonato. 

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Ambiente de união no estádio e um regresso ao onze

De muitos, um. Após um longo processo eleitoral terminado já na alvorada deste domingo, pondo término a meses de acusações, tensões e propostas num Benfica dividido em várias fações, a ‘última ceia’ no Estádio da Luz marcou uma pausa nas rivalidades internas, com um ambiente sem aparentes cisões no estádio, mesmo após as negas de João Noronha Lopes e de João Diogo Manteigas ao convite de Rui Costa.  

Após o desaire contra o Bayer Leverkusen, em casa, José Mourinho fez apenas duas alterações – uma forçada (rendeu o castigado Otamendi por António Silva, que herdou a braçadeira de capitão) e outra por opção – Barreiro regressou ao banco de suplentes, com Aursnes a avançar no terreno e Dedic a voltar à titularidade após recuperar de lesão. 

Mourinho apostou num 4-2-3-1 declarado, com Sudakov atrás do ponta-de-lança e, talvez de forma mais surpreendente, Aursnes na posição de extremo-esquerdo. Um pouco a lembrar a função que lhe foi confiada por Roger Schmidt, noutros tempos. Lukebakio recebia bem aberto na direita e Dedic tentava desequilibrar mais por dentro. 

Debaixo de apoio praticamente constante dos adeptos, o Benfica entrou mandão no jogo e não permitiu grandes aventuras aos forasteiros. A diferença de qualidade individual era notória, como tantas outras vezes no nosso campeonato. Com dinamismo, o golo acabou mesmo por chegar na primeira ocasião de real perigo. 

 

Golo à ‘futebol de praia’ de Sudakov

Passavam 17 minutos no relógio quando uma bela jogada coletiva deu azo ao 1-0. Pavlidis recebeu um cruzamento no peito à entrada da área e, para surpresa de José Fonte, libertou a bola rapidamente para Sudakov. Virado para a baliza, o ucraniano atirou de pé esquerdo com precisão para dentro da baliza. Parecia futebol de praia.  

O resto da primeira parte foi um exercício de estrangulamento do Benfica. Muito domínio de posse de bola, muitas aproximações à grande área contrária, mas normalmente a embater na muralha defensiva do Casa Pia. Na melhor chance pós-golo, Lukebakio apareceu na cara de Kevin Sequeira, mas o costarriquenho levou a melhor. Os gansos ameaçaram apenas uma vez, com Livolant a soçobrar no momento do remate. 

A segunda parte trouxe mais vida à partida. Trouxe não só futebol, como também um pouco de comédia. Mas já lá vamos. Mourinho decidiu mexer ao intervalo, lançando Prestianni no lugar do tocado Enzo Barrenechea. Aursnes deslocou-se para o meio e Prestianni assumiu o corredor esquerdo.  

Perto dos sessenta minutos, o Benfica chegou ao 2-0 na conversão de uma grande penalidade. Num canto, Larrazabal saltou de braços abertos e travou um cabeceamento de Ríos de forma ilegal. Ainda se queixou de um empurrão nas costas, mas a equipa de arbitragem não recuou. Pavlidis encarregou-se da decisão e atirou um míssil para o fundo das redes. 

 

Auto-golo de Tomás Araújo trouxe instabilidade ao jogo

Dois minutos depois, foi a vez do Casa Pia ganhar um penálti. António Silva desviou um remate de Livolant com o braço esquerdo e Gustavo Correia lá teve de apontar para a marca de onze metros. O ‘Inferno da Luz’ insurgiu-se – adeptos assobiaram, jogadores e elementos da equipa técnica protestaram (um foi expulso), mas manteve-se a decisão. 

Perante uma assobiadela brutal, Cassiano permitiu a defesa a Trubin. Quando os adeptos levantaram-se da cadeira para celebrar, Tomás Araújo marcou um autogolo digno de ‘apanhados’. Na tentativa do corte, atirou para dentro da baliza. Que momento anticlimático na Luz (mas o jovem mereceu aplausos dos adeptos durante o resto da noite). Até Trubin não escondeu o sorriso. 

Leandro Barreiro esteve perto ainda de uma entrada épica em jogo. Foi lançado aos 79 minutos para o lugar de Sudakov e aos 81m marcou. Reagiu bem ao segundo poste, o problema é que estava mais de 40 centímetros em fora-de-jogo. 

O golpe final estava marcado para os 90+1m. O menino Renato Nhaga, de 18 anos, ganhou uma bola a Richard Ríos no meio-campo, originando uma transição. A equipa estava descompensada atrás e, após uma má intervenção de Trubin, a bola sobrou para o miúdo da Guiné-Bissau. Encostou de pé esquerdo e empatou, atingindo um resultado incrível para o Casa Pia. A raiva dos benfiquistas dirigiu-se para a equipa de arbitragem, pedindo falta sobre Ríos.

Do nada, o Benfica voltou a tropeçar. Tudo o que pode acontecer a esta equipa… acontece mesmo.