Este domingo começou com triunfo largo de Rui Costa nas eleições do Benfica e terminou com empate da equipa de futebol na I Liga. O 2-2 na recepção ao Casa Pia significa a continuação da agonia no Benfica, depois de mais uma derrota europeia a meio da semana – e foi também mais uma vantagem perdida no campeonato, depois dos empates com Santa Clara e Rio Ave.
A equipa “encarnada” não fez um jogo do outro mundo – termina a partida com apenas 1,27 golos esperados (excluindo penáltis) –, mas foi, ainda assim, a única equipa a querer vencer, frente a um Casa Pia que quis pouco deste jogo.
Mas uma desconcentração de Richard Ríos (saiu assobiado) já depois dos 90’ deu um lance de transição ao Casa Pia e golo de Nhaga. Tudo numa fase em que ao Benfica só bastava gerir a partida com bola, virtude que nesta temporada já demonstrou não ter.
A direita do Benfica
Na estreia do treinador Gonçalo Brandão, o Casa Pia levou à Luz um 5x4x1 muito pouco audaz, com a equipa a defender em cerca de 30 metros. A ideia era bloquear a largura, com cinco defesas, e fechar também o espaço interior, com os alas numa divisão permanente de tarefas entre ajudarem os laterais e fecharem bem a zona mais central.
O problema é que só de um lado a lição ia bem estudada. À direita (esquerda do Benfica), Livolant conseguia entender-se bem com Geraldes. À esquerda, Nsona não fazia o mesmo com Larrazabal. O ala pareceu muito perdido, já que se posicionava sempre com foco na zona interior, mas ia depois avidamente à pressão na largura para ajudar o lateral com Lukebakio – fez o dois contra um em vários momentos sem nexo, deixando Dedic e Ríos com espaço para fazerem movimentos interiores.
No golo de Sudakov aos 17’, por exemplo, tudo começou com Nsona muito dentro quando Dedic estava com o corredor aberto. E quando o ala “acordou” já foi tarde e teve de ser Larrazabal a ir cobrir – o lateral tinha sido bem arrastado por Lukebakio para o espaço interior e, quando foi apertar Dedic, acabou a deixar espaço dentro para Sudakov. O lance teve cruzamento de Dedic, grande trabalho de Pavlidis e excelente finalização do ucraniano de primeira, no ar e de pé esquerdo – o menos forte.
Mas houve mais momentos em que Nsona e Larrazabal se entenderam mal e Lukebakio e Dedic puderam jogar.
Livolant perdeu
Era, ainda assim, um jogo globalmente pachorrento do Benfica, que estava com muita dificuldade para colocar Sudakov e Pavlidis em jogo – frente a uma defesa tão baixa e tão densa fica mais difícil ao ucraniano jogar entre linhas e, sobretudo, fica mais difícil ao grego ser útil em apoios frontais, uma das principais soluções de uma equipa ainda pouco variada em ataque posicional.
A solução foi muitas vezes o um contra um de Lukebakio, mas o belga, apesar de sempre bastante ligado ao jogo, continua a decidir muitas vezes mal – aos 39’ perdeu isolado na cara do guarda-redes.
Este lance, já perto do intervalo, era resultado de um jogo diferente após o golo do Benfica. Não que a partida não continuasse amplamente dominada pelos “encarnados”, mas o Casa Pia já conseguia esticar-se mais no terreno – daí que o Benfica tenha explorado um par de vezes o espaço nas costas com jogo mais directo.
O Casa Pia teve um lance perigoso aos 38’, numa boa oportunidade perdida por Livolant, mas teria sido um golo pouco lógico para o que se passava.
Ríos ofereceu
O Benfica regressou do intervalo com um ala mais capaz de provocar confusão – Prestianni na esquerda onde estava Aursnes –, mas isso não trouxe nada do outro mundo, já que o argentino jogou muito colado à linha.
À medida que os minutos passavam havia mais espaço entre linhas, em parte pela maior predisposição ofensiva do Casa Pia e em parte também pelo cansaço dos visitantes – cada vez mais atrasados a chegar ao portador da bola. Espaço entre linhas era tudo o que queria Sudakov. O ucraniano começou, nessa medida, a oferecer lances de requinte técnico e visão de jogo.
Foi nessa fase – ainda que sem impacto directo – que o Benfica chegou ao 2-0. Houve canto de Sudakov, penálti assinalado por mão na bola de Larrazabal ao segundo poste e pontapé forte de Pavlidis para golo.
Logo a seguir houve outro penálti por mão na bola, mas de António Silva (muito contestada pelos “encarnados”, pois a bola bateu no peito do benfiquista e só depois foi à mão). Foi Cassiano a rematar forte, Trubin a fazer uma grande defesa e Tomás Araújo a tratar da recarga para golo — um autogolo bizarro do central português, que tentava afastar a bola daquela zona.
Toda esta animação trouxe emoção e drama ao jogo, mas nem por isso bom futebol. Se a primeira parte já tinha sido assim-assim, a segunda estava a ser ainda pior, com muito poucas aproximações relevantes às balizas.
Numa fase em que bastava gerir a partida com bola, Richard Ríos quis gerir demasiado – “adormeceu” e ofereceu uma bola que acabou em transição e golo de Nhaga, jogador de 18 anos.