Presidente ucraniano considera que o presidente russo “está num beco sem saída” e que o fracasso na Ucrânia pode levá-lo “a procurar outros territórios”

Volodymyr Zelensky voltou a lançar alertas sobre a segurança da Europa, afirmando que o Kremlin poderá desencadear novas operações militares fora da Ucrânia mesmo antes de o atual conflito terminar. Numa entrevista ao The Guardian, o presidente da Ucrânia insistiu que as fronteiras do seu país já não são o único palco de tensão.

A possibilidade de um ataque a um país europeu faz parte da “guerra híbrida contra a Europa”, em que Vladimir Putin está a testar a capacidade de resposta e a determinação da NATO, enquanto simultaneamente continua com a ofensiva no leste da Ucrânia. Questionado sobre a hipótese de um ataque russo noutro país europeu, Zelensky respondeu sem hesitações.

“Putin está num beco sem saída em termos de sucesso real. Para Putin, é mais um impasse”, afirmou o presidente ucraniano, prosseguindo: “É por isso que estes fracassos podem levá-lo a procurar outros territórios.” 

Volodymyr Zelensky deixa, por isso, um aviso aos aliados: “Temos de esquecer o ceticismo europeu geral de que Putin quer primeiro ocupar a Ucrânia e depois ir para outro lado. Putin pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo”, disse. 

A preocupação de Kiev intensificou-se após vários incidentes no espaço europeu, como os drones que atravessaram o território polaco e que sobrevoaram aeroportos em Copenhaga, Munique e Bruxelas. Para Zelensky, estes episódios estão diretamente ligados ao facto de a Rússia não conseguir avanços significativos no campo de batalha.  

Segundo Zelensky, o regime russo precisa de manter vivo o sentimento de ameaça externa para garantir a coesão interna. Argumentou ainda que “ser amigo da Rússia não é uma solução para a América”, acrescentando que a Ucrânia está “muito mais próxima” dos EUA em termos de valores. 

Com Donald Trump a rejeitar o futuro envolvimento militar dos Estados Unidos, alguns governos europeus, nomeadamente França e Reino Unido, admitem enviar tropas no âmbito de um futuro acordo de paz. Zelensky reconhece que gostaria de ver forças britânicas no terreno mais cedo, por exemplo para reforçar a fronteira com a Bielorrússia: “Claro que sim. Temos pedido muitas coisas, incluindo armas e a adesão à UE e à NATO.” 

Ainda assim, admite que o envio de militares europeus durante combates ativos continua a ser um tema politicamente delicado. “Os líderes têm medo das suas sociedades. Não querem envolver-se na guerra”, explicou, sublinhando que a decisão é exclusivamente dos governos europeus. Zelensky teme também que uma pressão excessiva da Ucrânia sobre os parceiros possa custar-lhe “o apoio financeiro e militar”. 

O presidente ucraniano confirmou ainda que as forças russas já controlam a maior parte de Pokrovsk, operação para a qual Moscovo terá mobilizado cerca de “170 mil homens”. Apesar disso, Zelensky insiste que a Rússia não obteve vitórias relevantes e que enfrenta perdas extraordinárias: só em outubro, Moscovo registou 25 mil mortos e feridos – números que descreve como inéditos. “É essa a história toda. Não há sucesso russo lá. E muitas baixas”, referiu. 

Com a aproximação de mais uma estação fria, Zelensky considera que o apoio europeu continua aquém do necessário. “Nunca é suficiente. Será suficiente quando a guerra acabar. É o suficiente quando Putin perceber que tem de parar.”