Segundo o relatório oficial da empresa, em 27 de Setembro de 2025, a iRobot tinha em caixa e equivalentes cerca de 25 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros), contra 41 milhões de dólares (35 milhões de euros) em 28 de Junho de 2025. A empresa declara que, “neste momento, não possui fontes às quais possa recorrer para capital adicional”.

No último trimestre, as receitas caíram 33% nos EUA, 13% na EMEA (Europa, Médio Oriente e África) e 9 % no Japão (mantendo-se estáveis excluindo câmbio). O CEO da iRobot, Gary Cohen, comentou que os resultados ficaram “bem abaixo das expectativas internas”, referindo “ventos contrários contínuos no mercado, atrasos na produção e perturbações imprevistas no transporte”.

O histórico e o ambiente de concorrência

A iRobot foi pioneira no segmento de aspiradores-robô, com o primeiro Roomba lançado em 2002. No entanto, ao longo dos anos, o mercado tornou-se muito mais competitivo. Marcas chinesas como a Xiaomi, a Roborock ou a Ecovacs intensificaram a concorrência, tanto em funcionalidade como em preço, pressionando a iRobot. Em 2022, a iRobot aceitou uma proposta de aquisição pela Amazon que parecia vir a ser a solução para reforçar o seu posicionamento, mas a operação não avançou — o negócio acabou por falhar, parcialmente por escrutínio regulatório.

Como consequência desse desfecho, a iRobot procedeu a cortes: despedimentos de uma parte significativa da equipa, saída do fundador e CEO Colin Angle, e reestruturação da actividade.

Quanto à tecnologia, a marca tentou recentemente reinventar-se: passou de uma navegação predominantemente VSLAM (assente na análise das imagens captadas por câmaras) para sistemas que incorporam LiDAR (“radar” de luz), adoptando em parte a abordagem de concorrentes mais agressivos no mercado.

E se a iRobot desligar a ficha?

Num documento regulatório apresentado em Novembro de 2025, a empresa alertou que poderá vir a ser “forçada a procurar protecção contra falência” caso não consiga garantir financiamento adicional.

A publicação norte-americana The Verge questionou a iRobot sobre o que aconteceria aos aspiradores dos clientes caso a empresa encerrasse. A responsável de comunicação corporativa, Michèle Szynal, referiu-se ao documento regulatório (Form 8-K) que confirma uma extensão de perdão de dívida até 1 de Dezembro de 2025, enquanto se exploram “alternativas estratégicas”, como venda ou refinanciamento. A iRobot garante, por agora, que as operações diárias se mantêm.

Ou seja: o cliente de uma unidade Roomba pode continuar a utilizá-la, mas há incerteza sobre o futuro dos serviços associados.

O fantasma do robot “offline”

Para perceber o risco, convém olhar para o precedente da Neato Robotics, fabricante americana de aspiradores-robô que encerrou em 2023. A Neato deixou de produzir novos modelos, passando a contar com uma equipa reduzida para garantir suporte — a empresa-mãe Vorwerk Group comprometeu-se inicialmente a manter os serviços de nuvem (cloud) e peças sobressalentes por cinco anos.

No entanto, em Outubro de 2025, o The Verge confirmou que os servidores da Neato começaram a ser desligados, privando muitos utilizadores de funcionalidades dependentes da nuvem, como controlo via app, agendamento remoto ou divisão específica. Os robots passaram a ser apenas operáveis em modo manual ou básico.

Se a iRobot seguir esse caminho, os Roomba continuarão a funcionar no nível físico (botão de iniciar/pausar, regressar à base), mas funcionalidades “smart” — personalização, mapeamento em detalhe, comandos de voz — poderão deixar de estar garantidas.