Investigação que associa o microbioma intestinal a comportamentos de risco visa criar estratégias de prevenção mais precoces e personalizadas
Equipa do grupo de investigação do i3S «Glial Cell Biology», liderada por Joana Ferreira Gomes (em baixo à esquerda), quer reduzir a impulsividade e os comportamentos de risco e proteger a saúde emocional, mental e física dos adolescentes. Foto: DR
A ligação entre o microbioma intestinal e os comportamentos de risco na adolescência – como a condução imprudente, o consumo excessivo de álcool, a atividade sexual desprotegida e o consumo de substâncias ilícitas – é ainda uma área de investigação em desenvolvimento, mas os dados disponíveis apontam para uma relação estreita entre as bactérias do intestino e o funcionamento do cérebro. Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), liderada por Joana Ferreira Gomes, quer identificar estas ligações para desenvolver estratégias de prevenção que possam reduzir a impulsividade e os comportamentos de risco e proteger a saúde emocional, mental e física dos adolescentes. Para isso, estão a recrutar voluntários, com idades entre os 12 e os 18 anos. As amostras serão recolhidas no i3S.
A equipa de Joana Ferreira Gomes, que integra investigadores do grupo «Glial Cell Biology» do i3S, vai recorrer à recolha de amostras de fezes e sangue em adolescentes dos 12 aos 18 anos para analisar a composição da microbiota intestinal e avaliar marcadores hormonais e inflamatórios no sangue.
“Estes dados serão depois cruzados com os resultados de questionários e tarefas comportamentais, que permitirão avaliar o grau de impulsividade, a procura por experiências intensas, a regulação emocional e a predisposição para assumir riscos”, revela a investigadora.
“Sabe-se que o microbioma comunica com o sistema nervoso central através do chamado eixo intestino-cérebro, influenciando funções cognitivas, emocionais e comportamentais. As bactérias intestinais produzem substâncias químicas, como a serotonina e a dopamina, que atuam como mensageiros e regulam o humor, a impulsividade e a tomada de decisão”, explica a investigadora e também professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
De acordo com Joana Ferreira Gomes, “estas substâncias químicas são particularmente relevantes na adolescência, fase marcada por maior instabilidade emocional e vulnerabilidade a fatores externos, como o stress ou a pressão social”.
A adolescência, especifica, é caracterizada por um aumento das taxas de mortalidade e morbilidade, “sobretudo devido ao maior envolvimento em comportamentos de risco, como a condução imprudente, o consumo excessivo de álcool, a atividade sexual desprotegida e o consumo de substâncias ilícitas”, fatores que “aumentam significativamente a probabilidade de consequências adversas para a saúde”.
Estudos com modelos animais indicam que alterações na microbiota durante este período – provocadas, por exemplo, pelo uso excessivo de antibióticos – podem ter impactos duradouros na memória, no comportamento e na saúde mental. É com base nestas evidências, sublinha a investigadora, que “queremos aprofundar o conhecimento sobre como o microbioma pode ser um fator protetor contra comportamentos de risco”.
Ao mapear as interações entre o microbioma e o sistema neuro-imuno-endócrino e identificarmos as suas ligações com os comportamentos “poderemos desenvolver estratégias de prevenção mais precoces, precisas e personalizadas”, frisa Joana Ferreira Gomes. A longo prazo, acrescenta, “estes dados podem contribuir para intervenções baseadas na modulação do microbioma como forma de promover o equilíbrio emocional, reduzir a impulsividade e os comportamentos de risco prejudiciais e proteger a saúde mental e física dos adolescentes”.
Esta investigação, que está a ser desenvolvida no âmbito do projeto MINDSET (Mapping INteractions of the biDirectional gut-brain axiS in adolEscent risk-Taking behaviour), foi recentemente distinguida com a Bolsa Nacional para Projetos de Investigação em Microbiota, atribuída pela Biocodex Microbiota Foundation.