A companhia tem um projeto para construir uma fábrica de componentes de baterias em Sines e já tem fundos europeus disponíveis.

O ano de 1940 foi trágico para a Europa. A máquina de guerra nazi avançava sem parar por todo o continente. Em abril desse ano. a Dinamarca acabaria por ser invadida. Um jovem engenheiro foi apanhado pelo ‘blitzkrieg’ nazi.

Haldor Topsoe preparava-se para abandonar o país umas semanas antes com a sua família rumo aos EUA, onde até já tinha trabalho numa das maiores químicas mundiais, mas as crianças apanharam pneumonia e a partida foi adiada. Impedido de sair, acabou por fundar a sua própria empresa a 10 de abril de 1940, um dia depois da invasão pelo Terceiro Reich do país escandinavo.

Agora, 65 anos depois da sua fundação, os dinamarqueses da Topsoe estão a preparar um investimento numa fábrica de componentes para baterias de lítio em Sines, sabe o JE.

O projeto NextGen Cam vai fabricar cátodos para equipar as baterias de iões de lítio para carros elétricos e para armazenamento de energia.

O processo tem estado envolvido no maior secretismo com os dinamarqueses a preferirem a maior discrição possível, uma das suas marcas de água e à boa maneira escandinava, pois é assim que acreditam que devem ser feitos os negócios.

O projeto é mais um da fileira do lítio em Sines, a par do projeto dos chineses da CALB que preveem investir dois mil milhões de euros numa fabrica de baterias em Sines.

“O  Nextgen Cam quer satisfazer a futura procura de baterias da União Europeia através do cátodo LNMO [lítio-níquel-manganês] sem cobalto utilizado nas baterias de iões de lítio para carros elétricos e para armazenamento de energia”, segundo o comunicado divulgado na Comissão Europeia na semana passada.

O JE colocou várias perguntas à Topsoe sobre este investimento, mas não obteve resposta.

Atualmente, existem dois tipos de baterias de iões de lítio: níquel, cobalto e manganês (NCM) e fosfato de ferro e lítio (LFP).

“Porque as reservas de níquel e de lítio são limitadas, acreditamos que devem ser aproveitadas ao máximo desde uma perspectiva de custos e de recursos”, segundo a companhia. “O LNMO entrega performance a par com baterias de iões de lítio com níquel de qualidade, mas com um custo muito mais baixo e com benefícios ambientais na cadeia de abastecimento”.

A companhia, que não é cotada, gerou receitas de quase 8,4 mil milhões de coroas dinamarquesas (1,12 mil milhões de euros) e para este ano espera receitas de 1,178-1,298 mil milhões de euros.

A Topsoe é detida pela família Topsoe com quase 68% do capital, com o restante a ser detido pela Dahlia Investment, que pertence à Temasek de Singapura.

A Topsoe começou por ser uma consultora de engenharia, mas evoluiu para uma companhia química ao longo dos anos, com a procura por fertilizantes a disparar após a Segunda Guerra Mundial.

Em meados da década de 50, controlava 30% do mercado global de amónia, sem contar com a URSS e a China.

Reconhecido como o ‘Engenheiro do Século’ em 1999 pela Sociedade Dinamarquesa de Engenheiros, Haldor Topsoe acabou por morrer em 2013, com 99 anos de idade.

A companhia tem vindo a evoluir para novas áreas de negócio como o hidrogénio verde ou combustíveis sustentáveis, mas continua a produzir catalisadores para refinarias, químicas ou redução de emissões.

A Comissão Europeia anunciou recentemente que o projeto de Sines foi um dos 61 que vão receber 2,9 mil milhões de  financiamento europeu em diversos países. Foi o único projeto nacional a receber fundos nesta ronda do Fundo de Inovação.