A “ganância” de “alguns hotéis em Lisboa” está a criar “um problema real de preços abusivos” durante os dias em que decorre mais uma edição da Web Summit na capital portuguesa, acusa o co-fundador do evento de tecnologia.
Nas várias mensagens publicadas este sábado na rede social X, Paddy Cosgrave denuncia que algumas unidades de alojamento na cidade “aumentaram os preços em mais de 100% em relação à semana anterior”, valores “exorbitantes” que, face à procura elevada, até considera “compreensíveis e razoáveis”.
“Mas quando certos hotéis aumentam os preços em mais de 300% e, por vezes, 500%, em comparação com as tarifas normais de Novembro, e depois se queixam publicamente dos hóspedes que recorrem ao Airbnb, é difícil ter simpatia”, criticou o presidente executivo da Web Summit.
As publicações no X surgiram poucos dias depois de a organização do evento alertar os participantes para a escassez de slots para jactos privados no Aeroporto de Lisboa, que estava “a ter dificuldades na gestão do volume de tráfego” devido ao evento, com alguns “aviões maiores” a serem desviados para outros aeroportos, incluindo em Espanha.
“Alguns hotéis de Lisboa tornaram-se inacessíveis ao mercado devido aos preços e agora culpam a Airbnb pela falta de procura. Estes hotéis só podem culpar-se a si próprios”, defende, dando como exemplo um hotel de quatro estrelas em que uma noite passou de cerca de 130€ para 700€, representando “uma inflação de aproximadamente 570%”.
“Considero balela qualquer tentativa de hotéis ou associações hoteleiras de distrair as pessoas ou confundir os jornalistas da realidade de que existe um problema real de preços abusivos por parte de alguns hotéis em Lisboa”, acrescentou, apesar de frisar que a maioria das unidades hoteleiras da cidade “é excelente”. No entanto, remata, “há sempre alguns que se deixam cegar pela ganância e têm a ousadia de continuar a queixar-se”.
Em declarações ao Expresso, o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) diz ter “dificuldade em perceber sobre o que fala” o CEO da Web Summit. “Se eu fosse o sr. Paddy não me preocupava tanto com os preços. Afinal mais de metade do fee anual que a Web Summit recebe de Portugal vem das taxas turísticas, cobradas aos hotéis em Lisboa”, acrescenta Bernardo Trindade.
Numa era de tarifas dinâmicas, impulsionadas pelos algoritmos das plataformas tecnológicas, é expectável que os preços da hotelaria subam em resposta a picos de procura. No entanto, o presidente da AHP defende que a “Web Summit já não é o que era”, referindo-se aos anos iniciais do evento, em que os preços disparavam e a hotelaria esgotava.
No Booking.com, mais de 90% dos alojamentos na plataforma estão indisponíveis para os dias do evento de tecnologia, que abriu esta segunda-feira e decorre até dia 13. Já no alojamento local, o evento “não está a trazer ocupação total” nem grandes “aumentos de preços”, apesar de “ajudar a tornar melhor uma época que sempre foi, por tradição, baixa”, afirmou Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (Alep), ao Expresso.
A Web Summit arrancou em Lisboa em 2016 e o regresso anual ao país está garantido até 2028. Para esta décima edição, é esperada a presença de mais de 70 mil participantes, acima de 2500 startups e mais de mil investidores.