Um novo estudo, publicado na revista Scientific Reports na última quinta-feira, 6, apontou que diferentes espécies de aves conseguem imitar os sons eletrônicos do famoso robô R2-D2, da icônica saga Star Wars. A pesquisa, conduzida por uma equipe de cientistas das Universidades de Amsterdã e Leiden, ambas localizadas na Holanda, focou nas habilidades vocais de nove espécies de papagaios e estorninhos-comuns.

Essas aves são conhecidas por sua capacidade de replicar não apenas vozes humanas, mas também alarmes de veículos e toques de celular. Contudo, a relevância dessa habilidade transcende a mera curiosidade; ela oferece pistas valiosas sobre a evolução da comunicação e das capacidades cognitivas entre os animais. Com o apoio de uma comunidade global de entusiastas da ornitologia, os pesquisadores tiveram a oportunidade de realizar uma comparação inédita sobre como distintas espécies reproduzem os mesmos sons complexos.

Segundo a revista Galileu, a análise se baseou em 115 vídeos enviados por voluntários do Bird Singalong Project, um projeto dedicado à coleta de gravações sonoras de aves ao redor do mundo. As gravações incluíam papagaios e estorninhos imitando tanto sons monofônicos — caracterizados por um único tom — quanto sons multifônicos — que apresentam diversas tonalidades, semelhantes aos emitidos pelo droide R2-D2.

Os resultados da pesquisa foram surpreendentes: aves menores, como periquitos e calopsitas, mostraram maior precisão na imitação dos bipes do robô. Em contrapartida, papagaios maiores, que possuem cérebros mais desenvolvidos e estruturas neurais complexas, demonstraram uma performance inferior nessa tarefa.

Os pesquisadores destacaram: “Em nosso estudo, descobrimos que papagaios com cérebros maiores, e também núcleos periféricos relativamente grandes, imitavam sons monofônicos com uma precisão significativamente menor do que periquitos e calopsitas que têm regiões periféricas menores e regiões centrais maiores.” A descoberta marca um avanço importante, uma vez que permitiu a comparação direta das capacidades vocais entre diversas espécies.

A anatomia vocal desempenhou um papel crucial no desempenho das aves durante as imitações. Os estorninhos-comuns, por exemplo, se destacaram na reprodução de sons multifônicos devido à estrutura única da siringe, o órgão vocal das aves. Este órgão possui duas fontes sonoras independentes nos estorninhos, permitindo a emissão simultânea de múltiplos tons. Por outro lado, os papagaios, assim como os seres humanos, são limitados a produzir apenas um tom por vez.

A busca pelo talento vocal das aves não se restringe aos ambientes acadêmicos. Criadores e aficionados têm tentado ensinar seus pássaros a reproduzir cenas icônicas de Star Wars, especialmente aquelas envolvendo droides. Vídeos disponíveis em plataformas como YouTube e Instagram mostram papagaios e estorninhos imitando R2-D2 e já acumularam milhões de visualizações.

Além disso, há tutoriais específicos destinados a auxiliar os tutores no treinamento de seus animais, utilizando repetições dos sons originais acompanhadas por pausas cronometradas para facilitar o aprendizado. Essa tendência se transforma em uma maneira inovadora de conectar entretenimento à ciência e ao estudo do comportamento animal.

A famosa voz do robô foi criada por Ben Burtt e foi produzida a partir de um sintetizador modular ARP 2600 com o auxílio de um modulador em anel — um dispositivo que combina múltiplos sinais sonoros para gerar saídas multitonais. Essa complexidade sonora representa um desafio até mesmo para as aves mais habilidosas.

As conclusões do estudo reforçam a ideia de que a mímica vocal entre animais é mais intricada do que se pensava anteriormente. O tamanho do cérebro e as características anatômicas são apenas parte da narrativa. Pequenas aves com estruturas vocais versáteis e comportamentos exploratórios continuam a surpreender tanto cientistas quanto aficionados pela cultura pop.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.