Mesmo tendo perdido as eleições, o PS vai apresentar uma candidatura para presidir à Assembleia Municipal de Lisboa (AML), na eleição que ocorre esta tarde após a tomada de posse dos órgãos municipais. Os socialistas entendem que devem ser eles a apontar o presidente da AML porque têm a maior bancada municipal (24 deputados contra 22 do PSD). Depois das negociações ao centro terem falhado, as atenções estão viradas para o Chega, que terá nas mãos a possibilidade de viabilizar Margarida Mano, candidata escolhida por Moedas para presidir a AML.
Este cenário coloca-se porque o PS não abdica de apresentar um candidato para liderar a mesa da AML e Moedas não aceita que os socialistas se mantenham no cargo, depois dos últimos quatro anos de presidência da socialista Rosário Farmhouse. “O PS quer impor aos lisboetas o que os lisboetas recusaram”, diz fonte próxima do presidente da Câmara ao Observador.
Por norma, apenas o maior grupo parlamentar apresenta uma candidatura à presidência da AML, mas, desta vez, o partido que lidera a coligação mais votada não é o que tem mais deputados. Assim, tudo indica que serão apresentadas duas candidaturas: uma encabeçada por Margarida Mano (PSD) e outra encabeçada por André Moz Caldas (PS).
Ao contrário do que aconteceu há quatro anos, a coligação eleitoral de Carlos Moedas tem mais deputados municipais (32) do que a coligação liderada pelos socialistas (30). Por outro lado, a soma de eleitos de PS/Livre/BE/PAN com os da CDU (7) dá uma vantagem clara à esquerda sobre o total de PSD/IL/CDS. Contudo, o Observador sabe que a CDU não aceitou integrar a candidatura do PS à mesa da AML — que continuaria a não ser suficiente para garantir a eleição — e os socialistas vão insistir em propor André Moz Caldas sem ter a garantia do voto favorável dos comunistas.
Além disso, foram também feitos vários contactos entre PS e PSD para negociar uma candidatura conjunta — são sempre apresentados um presidente e dois secretários, sendo que os lugares podiam ser distribuídos entre os dois partidos. De acordo com uma fonte próxima do processo, numa fase em que as posições ao centro já estavam mais afastadas, IL e PS chegaram mesmo a discutir a possibilidade de um reedição local daquilo que foi acordado entre PS e PSD na Assembleia da República, em 2024: neste caso, a primeira metade do mandato seria com um presidente da AML socialista e a segunda com um social-democrata.
No final de contas, o PSD não aceitou esse cenário e nenhum dos dois partidos quis abdicar de apontar o primeiro nome numa lista conjunta. Assim sendo, tudo aponta para que os dois partidos do centro votem contra a candidatura um do outro. Tudo somado, o Chega terá nas mãos a possibilidade de desempatar a eleição.
Neste cenário, os sociais-democratas têm mais margem porque a soma dos assentos de PSD, IL, CDS e Chega dá a maioria absoluta na AML, por margem mínima (38 deputados municipais). Por sua vez, para os socialistas elegerem André Moz Caldas teriam de contar com o voto favorável de toda a esquerda e ainda de um deputado da direita — algo que se perspetiva mais difícil.
À medida que a votação desta tarde se aproxima, a probabilidade de um entendimento ao centro diminui e o PS parece apostado em empurrar Moedas para os braços do Chega. Com uma nova geometria na AML, os socialistas querem, desde já, desafiar o presidente reeleito com a questão das linhas vermelhas. Se o Chega viabilizar a candidatura de Moedas, “está apresentado o mandato de 2025-2029”, diz um socialista ao Observador.