Um pequeno peixe prateado, do tamanho de uma moeda de cinquenta centavos, foi flagrado nadando nas águas do Taiti, no Oceano Pacífico, com uma larva de anêmona-do-mar presa entre as barbatanas. A cena, registrada durante um mergulho noturno e publicada no Journal of Fish Biology, revelou uma estratégia de sobrevivência inédita e inesperadamente engenhosa: o peixe utiliza o invertebrado como escudo contra predadores.

O protagonista da descoberta é o pampo-de-Myers (Brama myersi). Segundo o mergulhador e consultor do Museu de História Natural da Flórida, Rich Collins, a tática consiste em aproveitar as células urticantes da anêmona para dissuadir possíveis atacantes. “Eles encontram algo nocivo ou urticante e simplesmente carregam consigo”, explicou Collins em comunicado.

Embora pareça uma curiosidade isolada, fenômenos semelhantes já foram observados em outras regiões. Em West Palm Beach, na Flórida, cientistas registraram peixes recém-eclodidos segurando larvas de anêmona na boca. Em vez de comê-las, os animais as mantinham presas por um tempo e depois as libertavam ilesas — um comportamento que sugere cooperação, e não predação.

A relação entre peixes e anêmonas é amplamente conhecida pelo famoso peixe-palhaço, que vive entre os tentáculos venenosos de sua parceira marinha. No entanto, as novas observações indicam que essa simbiose pode ser muito mais diversa e dinâmica do que se imaginava. Segundo o pesquisador Gabriel Alfonso, autor principal do estudo, as duas espécies podem sair ganhando: enquanto o peixe obtém proteção, a anêmona é transportada para novas áreas do oceano, expandindo seu alcance — um caso clássico de mutualismo.

Importância

As imagens foram capturadas durante mergulhos noturnos em águas profundas, uma técnica chamada fotografia de águas negras. Nesse método, os mergulhadores derivam à noite em mar aberto para registrar organismos pelágicos, que vivem suspensos na coluna d’água. A prática, que vem crescendo entre cientistas cidadãos, permite documentar comportamentos e cores naturais que dificilmente seriam observados em laboratório.

Segundo a ‘Revista Galileu’, para os pesquisadores, a descoberta reforça a importância de observar a vida marinha em seu ambiente natural. Como destacam os autores do estudo, esses registros revelam informações antes inacessíveis, mostrando que até as menores criaturas do oceano escondem estratégias de sobrevivência tão complexas quanto fascinantes.