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O nosso terceiro visitante interestelar perdeu uma enorme quantidade de massa depois de passar pelo Sol, e apareceu-nos com uma anti-cauda e uma cauda “fumegante”, diz o astrónomo Avi Loeb. Mas “qualquer pessoa que já tenha calculado a órbita de um cometa” discorda do astrofísico britânico.

O misterioso objeto interestelar 3I/ATLAS passou recentemente pelo seu ponto mais próximo do Sol, ou periélio, e tornou-se mais brilhante nas observações à medida que a radiação solar o fez libertar gases a um ritmo imenso.

Ao ressurgir após a sua passagem por trás do Sol, o objeto, considerado um cometa (por quase todos os astrónomos), parece ter perdido uma quantidade impressionante de massa, disse esta segunda-feira o Futurism, baseando-se num post do astrónomo britânico Avi Loeb no seu blog.

Segundo o astrofísico de Harvard e atento observador do 3I/ATLAS, a massa perdida é tanta, na verdade, que o cometa interestelar pode ter acabado de se fragmentar em mais de uma dúzia de pedaços.

As opiniões de Loeb sobre o 3I/ATLAS têm sido alvo de escrutínio crescente, em particular depois de ter especulado que se trata de uma nave extraterrestre. A maioria dos investigadores está convencida de que se trata de um objeto natural.

Além disso, diz o Live Science, os fãs do misterioso cometa podem desde já ficar descansados: segundo consideram vários astrónomos que o têm observado, o 3I/ATLAS não explodiu.

Os cálculos de Loeb

No seu post, Avi Loeb consideram que novas imagens captadas no passado domingo pelos astrónomos britânicos Michael Buechner e Frank Niebling mostram o corpo celeste a ganhar uma enorme “cauda inversa”, ou “anti-cauda”, e um rasto “fumegante” independente.

Estes jatos estendem-se a cerca de 1 milhão de quilómetros em direção ao Sol e a 3 milhões de quilómetros na direção oposta, observa Loeb.

Para um cometa natural, espera-se que, à distância a que o 3I/ATLAS está do Sol, a velocidade de ejeção dos jatos seja de 400 metros por segundo. A essa velocidade, os jatos devem ter persistido durante 1 a 3 meses”, detalha o astrónomo.

No entanto, segundo os cálculos do astrónomo britânico, o 3I/ATLAS teria precisado de absorver uma quantidade enorme de energia do Sol para conseguir sublimar as enormes quantidades de gelo de dióxido de carbono e de água necessárias para perder uma proporção tão grande da sua massa.

“À sua distância do periélio, o Sol forneceu 700 joules por m² por segundo“, escreveu Loeb. “Isto significa que a área de absorção do 3I/ATLAS deve ter sido superior a 1600 quilómetros km²”, ou seja, o equivalente a uma esfera com um diâmetro de 23 quilómetros.

Este valor é quatro vezes maior que a estimativa anterior de tamanho do objeto, calculada em pelo menos 5 quilómetros de diâmetro, com uma massa de pelo menos 33 mil milhões de toneladas.

Embora se espere que os cometas do sistema solar percam massa à medida que se aproximam do Sol, o 3I/ATLAS continua a parecer uma exceção.

“A área de superfície necessária do 3I/ATLAS para proporcionar a perda de massa inferida a partir da mais recente imagem pós-periélio é pelo menos 16 vezes maior do que o limite superior aqui derivado da sua imagem do Hubble de 21 de Julho de 2025″, escreveu Loeb. “Quando os dados do Webb foram recolhidos, a 6 de Agosto de 2025, o 3I/ATLAS perdia apenas 150 kg por segundo“.

Por outras palavras, o misterioso visitante passou de perder várias centenas de quilogramas por segundo em Agosto, para estar agora, perto do seu periélio, a a perder 2 mil toneladas por segundo — “um aumento dramático”, segundo Loeb.

“Será esta dramática perda de massa e o brilho do 3I/ATLAS no periélio uma evidência de que se desintegrou?”, questiona o astrónomo. “A fragmentação aumentaria a área de superfície do seu material.”

Loeb sugere que o 3I/ATLAS pode ter-se dividido em pelo menos 16 pedaços iguais, “e provavelmente muitos mais“, o que significaria que o 3I/ATLAS explodiu no periélio e estamos a testemunhar os fogos de artifício resultantes.”

Não, o 3I/ATLAS não explodiu

Os amantes do cometa 3I/ATLAS não precisam de desesperar: o nosso visitante interestelar favorito provavelmente não explodiu. Colocando as coisas de uma forma simpática: os outros astrónomos discordam de Loeb. Não é a primeira vez…

“Todas as imagens que vi mostram um cometa com aparência bastante normal e saudável”, diz Qicheng Zhang, investigador do Lowell Observatory, no Arizona, que tem estudado o cometa, num e-mail enviado ao Live Science. “Não há qualquer sinal de que o núcleo se tenha fragmentado”.

“Vi o blog de Loeb, e parece que ele construiu um castelo de cartas em cima da sua alegação infundada sobre a aceleração do cometa, que foi uma interpretação totalmente errada dos parâmetros orbitais do cometa”, acrescenta Zhang.

Qualquer pessoa que já tenha calculado a órbita de um cometa reconheceria imediatamente como incorreta esta interpretação”, conclui Zhang.

No domingo, Jason T. Wright, professor de astronomia e astrofísica na Penn State University, escreveu no seu blog que não existiam indicações de que 3I/ATLAS fosse uma nave alienígena, desmontando ponto por ponto as alegações de Loeb sobre “anomalias” não naturais no cometa.

É obviamente um cometa”, diz Wright.

Tal como Zhang, Wright questiona também a competência de Loeb e critica os seus posts e artigos científicos. “Nestes artigos e no seu blog, ele revela regularmente desconhecimento de conceitos bem estabelecidos da ciência planetária, interpreta mal artigos e chega a conclusões erradas“.

Com efeito, Avi Loeb tem visto ETs um pouco por todo o lado, e invariavelmente as suas teorias e as suspeitas que levanta revelam-se infundadas.

Foi o caso recente das vibrações nas esférulas encontradas pelo astrónomo no fundo do Oceano Pacífico, que não eram sinais de uma nave alienígena; tinha sido causadas por um camião.

Apesar das dúvidas se o cometa terá explodido ou não, o astrónomo britânico não está ainda disposto a descartar que o fascinante 3I/ATLAS possa ser “algo diferente de um cometa natural” — se as próximas observações revelarem que não foi dizimado pelo Sol e manteve a sua integridade como um corpo único.

Felizmente, teremos várias oportunidades de observar mais de perto o misterioso visitante interestelar: espera-se que o 3I/ATLAS atinja o ponto mais próximo da Terra a 19 de Dezembro. Quanto do seu núcleo restará até essa altura, está por ver — tal como se é, afinal, um cometa ou uma nave extraterrestre.


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