Houve confrontos, na terça-feira, entre manifestantes e seguranças na Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), que se realiza na cidade amazónica de Belém, quando um grupo de indígenas e não indígenas invadiu o centro de convenções em Belém.
Várias dezenas de homens e mulheres, alguns com toucados de penas coloridas, correram pela entrada, arrancando pelo menos uma porta das dobradiças, antes de passarem pelos detetores de metais e entrarem na Zona Azul.Os seguranças da ONU apressaram-se a impedi-los, o
que levou a confrontos. Pelo menos um homem não indígena transportava
uma faixa com a frase “As nossas florestas não estão à venda”. Outros
vestiam t-shirts com a inscrição “Juntos”.
Os manifestantes agitaram faixas e entoaram cânticos até serem retirados à força. Um porta-voz da ONU para o clima disse que dois seguranças sofreram ferimentos ligeiros e que houve pequenos danos no local.
Após o confronto, os manifestantes abandonaram o local, cerca das 19h30 (20h30 em Lisboa) e os bombeiros formaram um cordão para bloquear a entrada.
A COP30 decorre na cidade brasileira amazónica de Belém, no Brasil, até 21 de novembro.
Ainda não é claro quem foi o responsável pela invasão. Mas pelo menos um observador ficou impressionado: “Finalmente, algo aconteceu aqui”, afirmou à Associated Press (AP) Juan Carlos Monterrey-Gómez, negociador climático panamiano.
Já Agustin Ocaña, da Global Youth Coalition, frisou à AP que algumas das pessoas que entravam gritavam “não podem decidir por nós sem a nossa presença”, referindo-se às tensões sobre a participação dos povos indígenas na conferência.
Enquanto seguranças e manifestantes se confrontavam, Ocaña disse ter visto manifestantes e seguranças a agredirem-se uns aos outros com pequenos recipientes usados para guardar objetos perto das entradas de segurança. Um guarda estava a sangrar após ter sido atingido na cabeça, relatou.
Ocaña afirmou que algumas comunidades indígenas estavam frustradas por verem recursos a serem despejados na construção de “uma cidade inteiramente nova” em Belém, quando era necessário investimento na educação, saúde e proteção florestal noutras áreas. “Não estavam a fazer isto por serem más pessoas. Estão desesperados, tentando proteger as suas terras, o rio [Amazonas] ”, acrescentou.
Impacto da crise climática na saúde
“A crise climática é uma crise de saúde”, entoavam ainda os participantes na marcha, entre os quais havia profissionais de saúde e indígenas amazónicos, segundo a agência Efe.Em poucas regiões se sente tanto o impacto das
alterações climáticas na saúde como na Amazónia, onde se situa Belém e
que, em 2024, foi atingida por uma seca histórica, agravada por
múltiplos incêndios.
“Vivi décadas em Belém e nunca tive dengue; agora toda a gente apanha… tornou-se uma doença urbana“, afirmou à Efe a manifestante Lena Peres, uma infetologista de 63 anos que trabalha para o Ministério da Saúde do Brasil.
Já o jornal brasileiro Folha de São Paulo indicou que vários manifestantes gritavam que era necessário “taxar os bilionários”, e que entoaram cânticos contra a exploração de petróleo na perto da foz do rio Amazonas.
“Governo Lula, que papelão, destrói o clima com essa perfuração”, diziam, segundo o jornal brasileiro.
O porta-voz da ONU afirmou que os agentes de segurança brasileiros e das Nações Unidas tomaram “medidas de proteção para garantir a segurança do local, seguindo todos os protocolos de segurança estabelecidos” e que estão a investigar o incidente. “O local está totalmente seguro e as negociações da COP continuam”, afirmaram.“Cúpula dos povos”
Ao contrário das três COP anteriores, realizadas em países com diferentes graus de autoritarismo, os anfitriões brasileiros estão a encorajar ativamente a sociedade civil e as manifestações de rua a desempenharem um papel nesta conferência.
Os grupos indígenas e as ONG já são mais visíveis dentro e fora do local, ajudando a equilibrar a presença de lobistas que dominaram os recentes encontros climáticos. Uma “cúpula dos povos” vai decorrer entre quinta e
sexta-feira, e uma manifestação global da juventude terá lugar na
sexta-feira, estando a maior manifestação agendada para sábado.
O número de ativistas tem vindo a aumentar na última semana e já estão a organizar até quatro eventos por dia, todos pacíficos até então. Na terça-feira, registaram-se protestos de um coletivo feminista, apoiantes da Palestina e de um grupo de saúde e ambiente.
Muitos outros ativistas chegarão quinta-feira numa flotilha, com cerca de 100 embarcações, liderada por dois dos mais respeitados líderes indígenas da floresta amazónica, Raoni Metuktire e Davi Kopenawa Yanomami.
c/ agências