O fundador da UGT, ex-deputado e eurodeputado do PS, José Manuel Torres Couto, ficou tetraplégico na sequência de um acidente de viação há cerca de duas semanas, durante uma deslocação entre Lisboa e Setúbal.
“A princípio, a minha vontade era morrer, mas agora faço tudo. Com dor, com lágrimas, com um sofrimento horrível, mas faço tudo para melhorar os meus movimentos”, confessou o antigo dirigente sindical em entrevista à TVI esta terça-feira.
O acidente aconteceu num dia de chuva. “Ia na faixa do meio da autoestrada e de repente começou a chover bastante. Quem conduzia era a minha mulher e eu até disse para ela abrandar, mas ela ia a 90 quilómetros por hora e não tinha como. Nesse preciso momento, vem um BMW, o condutor perde controlo, pega no telefone ou distrai-se, e vem bater na nossa traseira”, explicou.
“Deslizámos quase 300 metros na autoestrada, a fazer piões, e fomos chocar contra outro carro”, prosseguiu José Manuel Torres Couto, destacando que, logo no momento em que o carro bateu, sentiu o cinto de segurança predê-lo “Ao prender-me, fiquei logo tetraplégico”. Caso não tivesse usado cinto de segurança, o dirigente sindical frisou que teria morrido.
Na entrevista, José Manuel Torres Couto recordou que a primeira preocupação foi o estado de saúde da mulher — que saiu ilesa do acidente. No entanto, o dirigente sindical pensou inicialmente que a “mulher teria morrido”. “Mas eu já não tinha sensibilidade nenhuma do pescoço para baixo. Felizmente vi-a fora do carro, o que me deu tranquilidade. Mas perdi tudo. Só pensei que ia morrer naquele instante”, continuou.
Após o acidente, o fundador da UGT disse que o condutor do BMW “entrou na ambulância” e “pediu-lhe perdão”. Torres Couto destacou ainda as “dores completamente descomunais” que sentiu quando estava na ambulância. “É como receber 300 ou 400 choques elétricos a cada instante. É uma coisa horrível, horrível, horrível”, descreveu, acrescentando: “Tento lutar, porque a minha família está desesperada com a situação em que me encontro.”
José Manuel Torres Couto deixou ainda um alerta sobre a sinistralidade rodoviária: “Os portugueses são o único povo da Europa que conduzem da mesma maneira, com muita chuva ou com muito sol. E isso é uma causa. A segunda causa são os telemóveis. O governo tem que fazer uma campanha mais agressiva e tem de haver uma vigilância implacável ao uso dos telemóveis na condução”.