As emissões de gases de efeito de estufa são 10% mais elevadas em 2025 do que há dez anos, quando a Conferência do Clima das Nações Unidas de 2015 terminou com a aprovação do Acordo de Paris, que pretendia reduzir a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que lançamos para a atmosfera, e que causam as alterações climáticas.
Olhando para os gráficos, o que vemos é que as emissões estabilizaram, com uma ligeira tendência de alta, em alguns casos. Prevê-se que em 2025 a quantidade de CO2 na atmosfera aumente 1,1% em relação ao ano passado, diz a equipa internacional do Global Carbon Project em artigos publicados nesta quinta-feira nas revistas científicas Earth System Science Data Discussions e Nature.
Na verdade, este valor é superior à taxa de crescimento média da última década, de 0,8% ao ano.
A concentração de CO2 na atmosfera chegou em 2024 a 423 partes por milhão (ppm) e agravou o aquecimento global causado pela actividade humana para 1,36 graus. Espera-se que dentro de poucos anos, possivelmente até ao fim desta década, o limiar de 1,5 graus de aquecimento que era previsto no Acordo de Paris seja ultrapassado de forma consistente, e não apenas esporadicamente, como está já a acontecer.
“Apesar de ter havido progresso em muitas frentes, após estes dez anos as emissões de CO2 continuam a subir sem dar tréguas”, afirmou Glen Peters, investigador do Centro CICERO para Investigação Internacional sobre o Clima, em Oslo, na Noruega, citado num comunicado de imprensa.
Não se espera que a tendência abrande nos próximos anos, porque segundo o relatório anual da Agência Internacional de Energia, World Energy Outlook 2025, divulgado nesta quarta-feira, a procura global por petróleo e gás natural deve continuar a crescer até 2050.
No caso do petróleo, o pico da procura só deve chegar em 2030 e, quanto ao gás natural liquefeito, aumentaram muito os investimentos neste sector em 2025. Espera-se que a entrada em operação de uma capacidade anual de cerca de 300 mil milhões de metros cúbicos até 2030, o que representa um aumento de 50% da oferta disponível, diz o relatório.
A procura global de energia deve aumentar 90 exajoules (um quintilião de joules, uma unidade de energia muito grande) até 2035, o que representa um crescimento de 15% em relação aos níveis actuais.
Mesmo o carvão, o combustível fóssil mais poluente e com emissões de gases de estufa, continua a crescer em termos globais: a projecção é de mais 0,8% em 2025, para chegar a outro nível recorde. Na União Europeia, e provavelmente na China (os dados não são claro) as emissões do carvão reduziram-se este ano, mas aumentaram nos Estados Unidos (que representam 13% de todas as emissões mundiais), Índia e no resto do mundo.
No total, as emissões dos EUA devem crescer 1,9% até ao final do ano, e o forte crescimento dos gases de estufa libertados pela queima de carvão (mais 7,5%) são a principal causa desse aumento, dizem os investigadores.
Na China (32% das emissões globais), o crescimento das emissões deve ser de 0,4% em 2025, mas só com a análise dos dados em 2026 será possível confirmar os números. Projecta-se que as emissões do carvão aumentem ligeiramente na China, mas a incerteza ainda é tanta que também é possível que se tenham reduzido ligeiramente. Aumentaram os gases de estufa relativos ao consumo de gás (1,3%) e petróleo (2,1%), mas este crescimento é moderado, em comparação com anos anteriores, dizem os cientistas.
Incerteza sobre a China
“Não há um pico claro nas emissões de CO2 da China em 2025”, comentou Jan Ivar Korsbakken, investigador do CICERO. “O crescimento fraco de vários sectores industriais reduziu a programa de energia, e o crescimento forte das renováveis conseguiu absorver o aumento da procura de electricidade”, acrescentou.
Na União Europeia, que representa 6% das emissões globais, projecta-se um crescimento de 0,4% em 2025, mas ainda há uma grande incerteza em relação aos números. Se diminuiu ligeiramente o uso de carvão (0,3%), os europeus consumiram mais petróleo (0,6%) e mais gás natural (0,9%).
A previsão é que as emissões de CO2 do uso de petróleo cresçam 1% em 2025, com todas as regiões do planeta a sofrerem aumentos. A aviação, que deve recuperar para níveis anteriores à pandemia de covid-19, é um dos factores desta aceleração das emissões relacionadas com o petróleo. Outro motor deste aumento é a actividade industrial, como produtos petroquímicos para alimentar o gado, segundo a Agência Internacional de Energia.
O uso de petróleo para gerar energia, no entanto, está em tendência decrescente. Quando à produção de combustíveis rodoviários, a procura de petróleo deve manter-se estável até 2035, em relação aos valores de 2024, com os veículos eléctricos a aumentarem nas estradas em todo o mundo, em especial na China.
Algumas boas notícias
Nem tudo são más notícias: 35 países tiveram um decréscimo significativo das suas emissões de CO2, o que representa 27% de todas emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis durante a última década. Entre 2005 e 2014, antes do Acordo de Paris, apenas 21 países registaram diminuições estatisticamente significativas nas suas emissões.
“Há muitos sinais positivos ao nível dos países, com um forte crescimento da energia solar, eólica, veículos eléctricos, baterias e reduções da desflorestação”, afirma Glen Peters. Manter a vegetação e zonas húmidas, por exemplo, permite manter a sua função de sumidouros de carbono, ou seja, absorvem carbono lançado em excesso para a atmosfera em resultado da actividade humana.
Nas coisas boas, a principal mensagem é que as mudanças que se têm verificado na economia para reduzir as emissões de gases de estufa “não são suficientes para acelerar o mundo para atingir o objectivo de neutralidade carbónica”, comenta ainda Glen Peters. Ou seja, o momento em que tanto CO2 é lançado para a atmosfera como a quantidade que conseguimos retirar, através de processos naturais como as florestas, ou desenvolvendo tecnologias capazes de o extrair – que, por ora, estão ainda longe de serem uma verdadeira opção.