Elogios, sorrisos e até um vestido reutilizado. Felipe VI e Letizia aterraram esta segunda-feira na China, onde estão de visita oficial. Os monarcas espanhóis já estiveram na cidade de Chengdu, onde marcaram presença num fórum económico organizado entre os dois países. Os representantes da Coroa têm encontros marcados com os altos dirigentes chineses, incluindo o Presidente Xi Jinping, e terão direito a um jantar de gala esta quarta-feira. Esta é mais uma forma de fortalecer os laços entre Madrid e Pequim — em contraciclo com as restantes capitais da União Europeia (UE).

Desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca, o presidente do governo espanhol tem-se aproximado da China. Pedro Sánchez considera que Espanha e também a União Europeia devem procurar outros parceiros económicos e comerciais face à imprevisibilidade do líder dos Estados Unidos da América (EUA). A China — a principal rival dos EUA — tem sido uma aposta de Madrid, que tem também transmitido a mensagem de que esta cooperação não deve ser vista como uma ameaça a outras parcerias internacionais. Mas se internamente a escolha não é contestada pelos parceiros de governo à esquerda do PSOE, na União Europeia a ação já foi criticada. 

Letizia aposta em visual reciclado em visita à China

Apesar da incerteza oriunda do outro lado do Atlântico, a maioria dos Estados-membros da União Europeia ainda consideram os Estados Unidos um parceiro preferencial — e olham para a China com muita desconfiança. Ainda recentemente, a Alemanha anunciou que ia rever o comércio com Pequim, formando uma comissão para estudar melhor os setores em que Berlim deve reduzir a dependência. Na mesma senda, França tem defendido uma maior autonomia estratégica em relação à China.

Indiferente a alguma apreensão que reina na União Europeia em relação ao gigante asiático, Pedro Sánchez mantém a mesma postura de aproximação à China. Segundo avança a rádio espanhola Onda Cero, a viagem foi “cuidadosamente” incentivada pelo chefe de governo espanhol, sendo que cabe ao executivo supervisionar e definir o teor político das visitas oficiais dos reis: “A viagem tem uma visão estratégica que procura posicionar Espanha como um interlocutor privilegiado de China dentro da União Europeia”.

A visita oficial dos reis tem um verdadeiro significado simbólico e diplomático. É a primeira viagem de um monarca espanhol em 18 anos à China; o último a visitar o país foi Juan Carlos. Além disso, a Coroa espanhola afasta-se da neutralidade que pauta a relação recente entre muitas casas reais europeias e o governo chinês, sendo que o último rei a visitar Pequim foi o norueguês Harald V em 2018.

Na comitiva que acompanha Felipe VI e Letizia, estão também vários membros do governo de Pedro Sánchez, como o ministro da Economia, Carlos Cuerpo, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares. No Fórum Económico de Chendgu, estiveram também representadas 180 empresas espanholas, de maneira a apresentá-las ao mercado chinês. Em abril deste ano, o líder do governo espanhol já tinha estado em Pequim, onde foi recebido com pompa e circunstância por Xi Jinping.