O momento em que Andrew McGowan e Shallen Yu trocaram olhares através da montra de uma loja foi como se algo tivesse passado entre eles. Andrew teve a certeza de que a sua vida estava prestes a mudar.

“Vi-a através da janela e pensei: ‘Vou casar com aquela rapariga’”, conta Andrew à CNN.

Andrew e Shallen eram completos desconhecidos. Nunca tinham falado antes. Vinham de mundos totalmente diferentes.

Mas contra todas as probabilidades, Andrew tinha razão.

Um golpe do destino numa viagem de pesca

Era o verão de 2013 e Andrew, um estudante universitário com pouco mais de 20 anos, estava de férias no Parque Nacional de Yellowstone, conhecido pela sua vida selvagem, paisagens vulcânicas e vistas deslumbrantes.

De férias com toda a família – irmãos e os seus companheiros, sobrinhos, pais, tios e tias – o principal objetivo de Andrew era evitar dinâmicas familiares complicadas e tentar apanhar uns quantos peixes.

“Os meus pais chamaram-lhe uma reunião de família”, recorda Andrew. “Mas eu estava principalmente interessado em pescar com o meu irmão.”

A família McGowan vivia no Utah e costumava acampar em Yellowstone de alguns em alguns anos.

Andrew e o irmão passavam, desde sempre, o tempo em Yellowstone a pescar trutas.

“Crescemos a pescar”, conta Andrew. “O que aconteceu de diferente nesta viagem foi que a minha família nunca tinha acampado na zona do Canyon de Yellowstone. Aconteceu acamparmos lá naquele ano, e a Shallen estava a trabalhar na vila mesmo ao lado do nosso acampamento.”

Andrew cresceu numa pequena cidade conservadora no Utah, como um dos sete irmãos de uma grande família mórmon.

No verão de 2013, tinha acabado de regressar das Filipinas, onde passou dois anos em missão religiosa – um rito de passagem típico para jovens mórmons que se voluntariam para espalhar os ensinamentos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Mas enquanto esteve fora, alguns membros da família de Andrew começaram a questionar a doutrina mórmon, e os pais acabaram por deixar a igreja.

“Os meus pais eram mórmons muito conservadores durante toda a minha infância”, recorda Andrew. “Depois afastaram-se. Abandonaram completamente.”

Para Andrew, isto foi desorientador. Embora já não partilhasse o sistema de crenças da família, continuavam muito próximos. E assim, os McGowan foram para Yellowstone para um fim de semana de caminhadas, churrascos e convívio familiar.

Enquanto a maioria da família montava o acampamento, Andrew e o irmão foram à loja mais próxima para comprar licenças de pesca.

“E entrámos na loja onde ela, por acaso, estava a trabalhar”, recorda Andrew.

“Ela” era Shallen. Uma estudante de Taiwan, também com vinte e poucos anos, que estava a trabalhar em Yellowstone nesse verão ao abrigo de um programa de trabalho para estudantes internacionais.

Shallen, que estudava Sistemas de Informação Geográfica, estava entusiasmada com a ideia de trabalhar no parque nacional durante várias semanas.

“Nunca tinha estado lá antes. Era mágico, era lindo”, conta à CNN.

Para Shallen, o verão nos EUA era uma experiência nova – embora já tivesse estado fora de Taiwan anteriormente.

“Nunca tinha feito nada assim especificamente, mas a minha mãe costumava enviar-me para campos de férias em países de língua inglesa quando era criança”, recorda.

Antes de Andrew entrar na loja, viu Shallen pela janela. Entrou determinado a falar com ela – mesmo quando percebeu que ela não era quem vendia as licenças de pesca.

“Ela estava noutra caixa”, recorda Andrew. “Então comprei leite com chocolate na caixa onde ela estava, só para poder falar com ela.”

Para Andrew, foi algo próximo de amor à primeira vista. Para Shallen, não foi bem isso. Mas foi um primeiro encontro memorável – um rapaz loiro, alto, a sorrir de forma contagiante a olhar para si.

“Ele estava a sorrir muito e parecia congelado”, recorda Shallen, entre risos.

Os funcionários da loja usavam crachás com o seu nome e nacionalidade. O crachá de Shallen dizia que era de Taiwan. Andrew decidiu tentar apresentar-se em mandarim. Tinha algum talento para línguas; aprendeu tagalog enquanto viveu nas Filipinas e estudou um pouco de mandarim na universidade.

Ainda assim, nunca tinha tentado namoriscar em mandarim. E o que saiu, segundo Shallen, foi “um mandarim muito pobre”.

“E depois foi-se embora”, conta. “Havia tantos clientes que nem pensei muito nisso.”

Enquanto Shallen atendia os clientes seguintes, Andrew sentou-se no carro do irmão, a pensar no que fazer a seguir. Licenças compradas, podiam começar a pescar. Mas Andrew não conseguia parar de pensar em Shallen.

“O meu irmão disse: ‘Temos de voltar’. E eu disse: ‘Não, tenho de falar com aquela rapariga outra vez'”, recorda Andrew.

“Ele já tinha ligado o carro, estava a começar a fazer marcha atrás, e eu disse: ‘Não, vou lá outra vez’. Então saltei do carro.”

Deixando o irmão perplexo, Andrew correu de volta para a loja. Encontrou Shallen e ela sorriu.

“Ela viu-me”, recorda. “Estava a sorrir, como se estivesse à espera que eu dissesse alguma coisa.”

Durante um momento, apenas sorriram um para o outro. Sem dizer uma palavra.

“E então eu disse: ‘Tens namorado?’” lembra Andrew.

“Ele disse isto em mandarim”, acrescenta Shallen. “Foi direto: ‘Tens namorado?’”

Ela abanou a cabeça e disse que estava solteira.

Ainda num fraco mandarim, Andrew perguntou se podia levá-la a jantar naquela noite.

“E eu disse ‘não’, porque estávamos no meio do nada, e jantar parecia demasiado formal”, recorda Shallen. “Pensei: ‘Isto é estranho.’”

No entanto, ficou intrigada com Andrew. “Então disse: ‘Se quiseres praticar o teu mandarim, podemos ir comer um gelado.’”

“O meu pensamento na altura era: ‘Não te conheço, estou nos EUA sozinha. Se ficarmos em frente à loja, há muitas pessoas por perto’. Muitos reformados trabalham em Yellowstone no verão, alguns deles podiam ser meus avós… Estaria em segurança.”

“Está combinado”, disse Andrew. “Vamos fazer isso.”

Marcaram o encontro para dois dias depois.

Um encontro para comer gelado

Nos dias seguintes, Andrew e o irmão passaram horas a pescar, enquanto Andrew sonhava acordado com o encontro. Esqueceu-se de pôr protetor solar e acabou com queimaduras depois de uma caminhada longa.

“A zona onde estávamos a pescar chamava-se Slough Creek e até hoje foi a melhor pesca de truta que já experimentei”, recorda Andrew.

No dia do encontro, Andrew pediu roupa emprestada ao irmão, pois a sua “cheirava a trilho e suor”. Escondeu as marcas de queimaduras e encontrou-se com Shallen à porta da loja.

Cumprimentaram-se, um pouco nervosos, mas sorridentes. Shallen apontou para a geladaria, que ficava mesmo ali ao lado.

“Fomos àquela loja rústica, estilo faroeste, e comprámos gelados”, recorda Andrew.

“E então a irmã dele viu-nos”, diz Shallen.

“A minha irmã estava a ir à loja comprar qualquer coisa, e tinha a máquina DSLR com ela”, recorda Andrew. “Ouvi gritar… ‘Drew!’ Ela é a única pessoa no mundo que me chama Drew…”

Andrew virou-se, Shallen também. E a irmã tirou várias fotografias, como se fosse um paparazzi, contam. Nas imagens, Andrew e Shallen parecem surpreendidos, mas felizes. A química era evidente.

A irmã do Andrew tirou estas fotografias do primeiro encontro do casal (Shallen e Andrew McGowan)

Entre colheres de gelado de chocolate, começaram a abrir-se um com o outro. O mandarim hesitante de Andrew não ia muito longe, por isso passaram ao inglês. Shallen falou sobre o que a tinha levado até Yellowstone naquele verão. Andrew contou-lhe sobre as suas viagens. Shallen quis saber como ele tinha aprendido mandarim.

“Dei-lhe um ‘mais cinco’ por algumas coisas em comum de que falámos, mas já não me lembro exatamente do que eram”, afirma Andrew.

Desde o início, havia uma ligação muito natural entre os dois.

Shallen diz que, naquela altura, era “mais uma ligação do que um namorisco propriamente dito.”

Mas sentia-se “como se já conhecesse aquela pessoa há muito tempo.”

Introvertida assumida, Shallen normalmente demorava a abrir-se com alguém.

“Mas com ele… não me senti desconfortável. Simplesmente falámos e falámos”, conta. 

“Eu gosto de falar com pessoas novas, mas não costumo criar ligações profundas com facilidade”, explica Andrew. “Com ela, tudo fluiu. Gostei da forma como ela falava sobre tudo. Percebi logo que era uma pessoa muito curiosa.”

Ao falarem sobre a beleza de Yellowstone, Andrew mencionou um local chamado Artist Point, um miradouro sobre falésias.

“A loja de gelados em si não era particularmente cénica, por isso conduzimos até ao Artist Point, que tem uma vista incrível”, conta.

Andrew levou-a lá na carrinha do irmão. Falaram durante todo o caminho. No miradouro, ficaram lado a lado a apreciar a cascata, moldurada por rochas avermelhadas, ainda imersos na conversa.

“Falámos sobre a beleza de Yellowstone”, recorda Andrew. “Para mim era mais comum, pois cresci nas montanhas e já tinha estado em Yellowstone muitas vezes. Mas fiquei impressionado e encantado com a forma como a Shallen o apreciava.”

A conversa foi interrompida por uma família que lhes pediu para tirar uma fotografia.

Eram das Filipinas.

“Acabámos por falar um pouco em tagalog”, recorda Andrew. “Depois ofereceram-se para nos tirar uma foto, o que achei estranho, por ser o nosso primeiro encontro, mas a Shallen foi descontraída e disse que sim. Ainda bem que o fez, porque agora temos aquela foto do nosso primeiro encontro.”

Andrew e Shallen no seu primeiro encontro no Artist Point, em Yellowstone (Shallen e Andrew McGowan)

Foto tirada, voltaram a centrar-se um no outro.

“A conversa estava a fluir tão bem. Nenhum de nós queria que acabasse. E depois recebi uma mensagem da minha irmã a dizer que a família estava a fazer crumble de pêssego”, recorda Andrew.

Sem pensar muito, convidou Shallen para se juntar ao convívio familiar.

“Eu não sabia o que era crumble de pêssego, e eu adoro doces. Ele explicou-me o que era e eu disse: ‘Claro que vou’”, lembra Shallen. “E só pensei na sobremesa. Nem me passou pela cabeça que ia conhecer toda a família dele.”

“Por isso, ela conheceu a minha família no primeiro encontro”, afirma Andrew.

No momento, o mais importante para ele era continuar a ligação com Shallen. E não teve qualquer problema em apresentá-la à família.

“A minha família é muito calorosa, e a minha mãe ficou encantada com ela logo de imediato”, explica. 

Revendo o momento, Shallen sugere que o entusiasmo também se devia à esperança da mãe de Andrew de que o filho conhecesse alguém fora da igreja e se afastasse do mormonismo.

“Ela também gostou de ti”, responde-lhe Andrew.

Entre colheradas de crumble de pêssego, os irmãos e familiares de Andrew acolheram Shallen num ambiente que Andrew descreve como “caótico mas sempre caloroso.”

“A minha irmã tinha levado os cães e o meu sobrinho andava a persegui-los pelo acampamento. A minha sobrinha tinha 7 meses e a minha cunhada disse: ‘Toma, segura o bebé’, à Shallen”, conta Andrew.

Shallen adorava bebés, por isso nem hesitou. Pegou na criança enquanto a família preparava a sobremesa.

Mais tarde, ao tirar uma foto de família, convidaram Shallen a juntar-se.

Para Shallen, tudo aquilo parecia surreal. Mas decidiu não pensar demasiado. Sentia-se feliz, descontraída e acolhida. “Estou a viver um ótimo momento”, lembra-se de pensar.

Sentiu também que nunca tinha vivido algo assim em Taiwan.

“A minha família é muito tradicional e protetora”, explica. “Nunca me deixariam fazer uma coisa destas. Mesmo sendo adulta, em Taiwan ainda se é visto como ‘uma criança’ na casa dos 20.”

Mas naquela noite, sentiu uma sensação de liberdade. “Posso fazer escolhas por mim, e estou a ter esta ligação maravilhosa com este rapaz que acabei de conhecer”, pensava.

À medida que a noite avançava, a família voltou às tendas. Mas Andrew e Shallen ficaram junto à fogueira, a conversar.

“Ficámos a falar até tarde”, conta Andrew. “Pegámos na carrinha do meu cunhado e fomos ver as estrelas”.

“O nosso primeiro encontro durou seis, sete horas”, afirma Shallen.

“Foi mais do que isso”, garante Andrew. “Ficámos fora até às 2 da manhã.”

No dia seguinte, Andrew tinha de deixar Yellowstone. No entanto, trocaram números de telefone antes da despedida.

Ambos se tinham divertido – muito mesmo – mas Shallen não encarava aquilo como algo para o futuro.

“Pensei: ‘Quando acabar o trabalho, volto para Taiwan e ele fica aqui’”, conta. “Nunca pensei que isto fosse dar em algo sério. Mas ele voltou em agosto para acampar.”

“Voltei para a ver”, corrige Andrew.

Dessa vez, Shallen apresentou-o ao grupo de amigos do trabalho. Todos juntos, fizeram uma fogueira e nadaram no rio Firehole.

“Saltámos para o rio e divertimo-nos imenso”, afirma Shallen.

A ligação era cada vez mais forte. “Houve mais conexão”, refere Shallen. “E os meus amigos gostaram todos dele.”

Semanas depois, Shallen foi a Utah conhecer os amigos de Andrew – que não acreditavam que ela existia.

“Os amigos dele achavam que estava a mentir”, conta entre risos. “Estavam sempre a perguntar ‘Como é que conheceste alguém em Yellowstone assim do nada?’”

“Gostaram todos dela”, afirma Andrew. “Acharam-na muito engraçada.”

Mas, num piscar de olhos, o verão acabou.

Uma viagem a Taiwan

Depois de viverem o verão perfeito, Andrew e Shallen não sabiam o que o futuro lhes reservava (Shallen and Andrew McGowan)

Andrew e Shallen tinham pouco mais de 20 anos. Ainda estavam na universidade. Viviam em lados opostos do mundo. Não era claro qual o caminho a seguir.

“Eu estava mais naquela de: ‘Vamos fazer isto resultar.’ Ela estava mais: ‘Vamos ver o que acontece’”, recorda Andrew.

Andrew era intenso, sentia as coisas profundamente. Quando estava certo de algo, estava mesmo certo. Shallen era mais cautelosa. E tinha a certeza de que a família em Taiwan não aprovaria a relação.

“Uma parte de mim pensava: se eu voltar para casa, sei que a minha família vai desaprovar”, explica. “E de facto desaprovaram.”

Mas Shallen estava a apaixonar-se por Andrew. Gostava muito de passar tempo com ele e gostava da ideia de um futuro juntos, mesmo sem saber como isso poderia funcionar. Por isso, concordou que deviam manter contacto.

“Voltei para Taiwan, e começámos uma relação à distância”, conta Shallen.

Os dois enfrentaram o desafio do fuso horário, marcando videochamadas, trocando mensagens constantemente.

“Ligava-lhe de manhã cedo enquanto ela se preparava para dormir”, recorda Andrew.

Durante os nove meses que se seguiram, Andrew e Shallen mantiveram contacto diário. Entretanto, Andrew começou a poupar “o máximo de dinheiro possível” para comprar um bilhete para Taiwan.

“Trabalhei em dois empregos, como carpinteiro numa empresa de construção de um amigo e como mentor juvenil num centro para rapazes em custódia do Estado”, explica.

No verão de 2014, Andrew reencontrou-se com Shallen em Taiwan.

“Adorei Taiwan porque é uma ilha semi-tropical, verdejante, agrícola”, conta. “Cresci numa cidade pequena, rural, e sempre tive uma atração por lugares verdes. Taiwan era esta ilha linda, com imensa beleza natural. E fiquei muito impressionado com as cidades, como funcionavam… Podíamos andar por todo o lado de transportes públicos.”

Sempre que estavam juntos, a comer em Taipei ou a fazer trilhos na natureza, tudo era fácil. Também viajaram até às Filipinas, onde Andrew mostrou a Shallen os locais onde tinha vivido. Sentiam-se mais próximos do que nunca.

No entanto, a relação de Andrew com a família de Shallen era complicada. Eles deixaram claro que Andrew não era o que imaginavam para a filha.

“Para a minha família, o padrão é: ‘Já se licenciou? Já tem casa própria?’”, explica Shallen. “É uma cultura muito tradicional do Leste Asiático. Para a minha mãe isto era ‘uma brincadeira de crianças’”.

Andrew sentia-se intimidado pela família, que tinha conquistado grandes feitos académicos.

“A mãe dela era uma profissional de sucesso na área das finanças”, explica. “Quando nos conhecemos, ela disse: ‘Pronto, vou mostrar-te as redondezas.’ Acho que estava a reagir do género ‘Ok. Tenho de lidar com isto'”.

“Levou-me a jogar golfe, a um campo para praticar, e eu nunca tinha jogado golfe antes. Ela tentou ensinar-me. Acho que pensou que eu era meio burro, não sei, porque não acertava uma”, conta.

Quando Andrew finalmente conseguiu bater numa bola em condições, ela voou por cima da vedação e acertou num carrinho de golfe.

Acontece que dentro do carrinho estava uma amiga da mãe de Shallen.

“Ela disse: ‘Este americano estúpido, este estrangeiro acertou no meu carrinho’”, recorda Andrew.

Enquanto a relação com a família era difícil, os amigos de Shallen adoraram Andrew desde o primeiro dia. 

“Os meus amigos divertiam-se porque ele tentava mesmo aprender mandarim”, conta.

“Tu tens um dom para línguas”, diz Shallen para Andrew. “Não acho que qualquer pessoa aprendesse mandarim assim. Mas tu és muito curioso. Tinhas muitas perguntas e fazias-nos rir. Todos os meus amigos gostavam de ti.”

Depois da visita, e querendo passar mais tempo com Shallen, Andrew candidatou-se a um semestre de intercâmbio na Universidade Normal de Taipei para estudar mandarim. Foi aceite e começou em janeiro de 2015.

“Foi aí que as coisas se tornaram mais sérias”, explica Shallen. “Ele foi viver comigo para o meu apartamento.”

Começaram a falar em casamento pela primeira vez. Discutiram a hipótese de Shallen se mudar para os EUA.

“E foi aí que a família dela disse: ‘De maneira nenhuma’”, recorda Andrew.

Após muitas conversas difíceis e tensas, Shallen tomou a decisão de não seguir a vontade dos pais.

“Não obtivemos a aprovação da minha família”, afirma. “Por isso, fugimos.”

“Pensámos: ‘Eles não vão apoiar-nos, mas temos de fazer o que nos faz felizes’”, explica Andrew. “E então decidimos: ‘Sim, vamos casar, seja de que forma for.’”

Um novo capítulo a dois

No verão de 2015, dois anos após o primeiro olhar em Yellowstone, Andrew e Shallen fugiram e casaram-se nas colinas do Utah, perto da cidade natal de Andrew.

“A cerimónia foi mesmo pequena”, conta Andrew. “Os meus melhores amigos ajudaram-me a levar mesas e mantas. Estavam lá cerca de 20 pessoas.”

Embora tenha sido um dia especial, havia emoções mistas. Shallen estava magoada pela ausência da sua família. A família de Andrew também não esteve presente, mas apoiava totalmente a sua decisão de casar com Shallen.

Shallen, por sua vez, sentia que estava a romper com as expectativas familiares. Não sabia como seria a sua relação com os seus entes queridos dali em diante.

“Fico muito emocionada quando falo da minha família”, explica.

Mas tanto Shallen como Andrew estavam entusiasmados por iniciar um novo capítulo. E com o tempo, a família de Shallen acabou por aceitar a decisão.

“A minha mãe pensou: ‘A minha filha não vai voltar para mim’”, recorda Shallen. “Foi a um adivinho chinês… deu-lhe as nossas datas de nascimento. E o homem disse: ‘São muito compatíveis. Vão ter diferenças, mas vão se resolver sempre.’ E por causa disso, a minha mãe lá disse: ‘Pronto, está bem.’”

Em 2016, um ano depois do casamento, celebraram a data com uma grande festa no Utah. A família de Andrew estava toda presente. E desta vez, também muitos dos entes queridos de Shallen participaram.

“A minha mãe, o meu irmão, a mulher dele e o bebé; vieram todos, assim como duas das minhas melhores amigas”, conta.

Durante a festa, lembraram-se do primeiro encontro em Yellowstone:

“O catering que contratámos…” começa Andrew.

“… Metade era gelado,” diz entre risos Shallen.

Andrew e Shallen no dia do seu casamento, em 2015. Celebraram a data novamente um ano depois com uma grande festa (Mila Adams)

Esse dia também representou um momento de cura para o casal, rodeado por ambas as famílias.

“A família dela aceitou e agora vê como somos felizes”, conta Andrew. “E temos filhos adoráveis, são mesmo muito fofos, por isso não há razões para se queixarem.”

Andrew e Shallen tiveram dois filhos, em 2017 e 2019. Quando o segundo nasceu, deixaram o Utah e mudaram-se para a Califórnia.

Com o tempo, Andrew afastou-se da religião mórmon e acabou por sair da igreja.

A mudança para a Califórnia trouxe-lhes uma nova comunidade. “Estamos num sítio muito multicultural, por isso é melhor para nós os dois”, afirma Andrew.

“E melhor para os nossos filhos”, acrescenta Shallen.

O amor pelos filhos é um dos pilares da relação. “Sempre dissemos: ‘Vamos construir a nossa família. Vamos ser nós e os nossos filhos. E isso é tudo o que importa’”, conta Andrew.

Quando se trata de educar os filhos e viver a vida em conjunto, Shallen e Andrew orgulham-se de funcionar como equipa.

“Ajudamo-nos, tentamos ver o outro, perceber como crescer juntos”, conta Shallen.

Do amor à primeira vista ao trabalho de equipa

Andrew e Shallen a fazer uma caminhada com os filhos. O casal orgulha-se de ser uma equipa (Shallen e Andrew McGowan)

Enquanto Andrew acredita que o momento em que viu Shallen foi amor à primeira vista, quase como destino, também sabe que o romance é uma escolha ativa.

“Acho que, de certa forma, o universo juntou-nos. Mas fomos nós que nos escolhemos um ao outro”, considera. “E continuamos a escolher, a respeitar e cuidar da nossa relação.”

O resultado é uma ligação profunda, defende.

“Sinto que ela é uma extensão de mim, e eu dela”, afirma Andrew. “E conseguimos funcionar como equipa.”

E sempre que chega o verão, lembram-se daquele primeiro encontro.

“Quando comemos gelado, lembramo-nos sempre”, admite Shallen.

O casal já levou os filhos a Yellowstone.

“Contámos-lhes: ‘Foi aqui que nos conhecemos’”, conta Shallen. “Foi muito querido.”

Embora os filhos ainda fossem pequenos demais para perceber a importância do local, para Andrew e Shallen foi um momento muito especial.

Voltaram ao Artist Point, olharam para a cascata, para a paisagem, e recordaram o primeiro encontro e aquele primeiro olhar que trocaram na loja.

“Quando entrei e a vi, para mim foi amor à primeira vista”, afirma Andrew. “Na altura, claro que não sabia onde esta viagem nos levaria. Mas se pudesse voltar atrás, fazia tudo outra vez. Mesmo com os momentos difíceis, repetia tudo mais cem vezes, sem dúvida”.