
São dois locais com mais nada em comum: num deles, a falta de limite de velocidade corre historicamente mal; no outro, corre melhor do que nos sítios que limitam a velocidade nas autoestradas.
O primeiro de dois locais únicos no mundo sem limites de velocidade já é famoso no seio do motociclismo, muitas vezes, pelas piores razões.
A Ilha de Man, no Mar da Irlanda, perto do Reino Unido, é um conhecida pelas suas leis fiscais favoráveis e pelo desporto motorizado. Não tem limites de velocidade. Apenas zonas residenciais e áreas urbanas mantêm um limite padrão de 48 km/h. Fora destas áreas, os condutores podem acelerar à vontade.
A liberdade de velocidade tem custos. Com uma população inferior a 85.000 habitantes, a ilha regista uma elevada taxa de acidentes. Há quase sempre três ou quatro mortes em duas semanas específicas, durante o Tourist Trophy (TT), a famosa corrida anual de motos considerada a mais perigosa do mundo. Em estradas rurais, os corajosos ultrapassam os 300km/h.
O que muitos não sabem é que mesmo fora do período do TT, as estradas permanecem abertas a altas velocidades. Curvas apertadas, asfalto irregular, obstáculos urbanos e variações de altitude até 422 metros tornam as viagens altamente assustadoras. A meteorologia também contribui para o risco, com chuva frequente e neblina, características do clima entre a Grã-Bretanha e a Irlanda.
Autoestradas sem limite
Conhecida pela disciplina e regras rígidas, a Alemanha pode surpreender ao abrigar a Autobahn, uma extensa rede de autoestradas onde cerca de 70% não possuem limite de velocidade.
É uma presença garantida na lista de desejos dos apaixonados pela velocidade. Mas a realidade pode dececioná-los: a velocidade média nas secções sem restrição é de 141,8 km/h, de acordo com o IFL Science.
Vários fatores contribuem para esta moderação. Veículos comerciais continuam a respeitar limites, o que regula parcialmente o fluxo, e a manutenção constante da rede impede que os condutores arrisquem em estradas deterioradas. Além disso, a engenharia da Autobahn é pensada para a segurança: múltiplas camadas de betão, inspeções regulares e separadores de faixas com barreiras ou zonas verdes evitam colisões frontais e acidentes graves.
Estatisticamente, a ausência de limites não torna a condução mais perigosa. De acordo com o Instituto Federal Alemão de Pesquisa Rodoviária (2021), registam-se 1,41 mortes por cada mil milhões de quilómetros percorridos nas autoestradas, contra 3,45 nos EUA, 2,13 em França e 3,66 em Itália. Ou seja, mesmo sem restrições de velocidade, as estradas alemãs são mais seguras do que muitas que possuem limites legais.
Outro fator importante nesta segurança é a formação dos condutores. Para obter carta de condução na Alemanha é necessário cumprir rigorosos requisitos, incluindo um curso de primeiros socorros de oito horas, pelo menos 37 horas de instrução prática, entre outros.