No julgamento, que arrancou hoje, em Lisboa, a testemunha disse que entrou na barbearia com o Fernando Silva, o arguido, depois de o ir buscar a um restaurante, perto de Saldanha. “Cumprimentei o Pina e o Fábio, seu colega, e assim que virei as costas para sair, ouvi um disparo. Vi o Pina cair e fugi para não ser o próximo a morrer”, relatou Hugo Pereira, que disse que Fernando Silva era como se fosse seu “irmão”, sofria de esquizofrenia e teve um surto nesse dia.

Hugo Pereira contou que, minutos antes dos crimes, a mulher de Fábio telefonou-lhe para os irem buscar perto da Maternidade Alfredo da Costa, onde Fernando Silva estaria a provocar desacatos num restaurante. “Vivia com eles e fui com o pai do Fernando. Ele devia ter tido um episódio esquizofrénico no restaurante, já estava calmo e, no percurso para casa, disse que queria ir cortar o cabelo ao Pina. Na barbearia Ganda Pente, entrámos os dois e logo aconteceu o crime. Eu fugi logo para não ser o próximo a morrer”, insistiu.

A acusação descreve que Fernando Silva pediu para cortar o cabelo e, perante a recusa de Carlos Pina, matou-o a ele e a um casal que se encontrava no exterior. Hugo Pereira desmentiu esta versão, garantindo que não ouviu nenhuma troca de palavras.

“Eu tinha medo de ser o próximo a morrer porque ele sofre de esquizofrenia desde há cinco anos e já me atirou com um cutelo. Se não me desviasse, matava-me”, recordou a testemunha.

A acusação também descreve que Hugo Pereira fugiu com Fernando Silva e o seu pai após o crime. “É mentira”, disse a testemunha. “Eu fugi a pé com o rapaz que cortava o cabelo e depois tive que me ausentar do bairro durante uns meses com medo de represálias porque era amigo da família de Fernando”.

Hugo Pereira disse ainda que toda a família de Fernando Silva sofria com a doença deste, que lhe foi diagnosticada há cinco anos, quando ele tinha 28. “No início tivemos que recorrer a um advogado para insistir, no delegado de saúde, para o internar. Corríamos perigo em casa e ele teve cinco internamentos no Hospital Julio de Matos. Chegou a tentar matar-se ao atirar-se da varanda de casa”.

A testemunha disse que, nos últimos anos, Fernando Silva era medicado e, quando deixava de tomar a medicação, tornava-se um perigo para si e para os outros.