Acompanhe o nosso artigo em direto sobre o mau tempo

Dois idosos de 88 anos morreram esta manhã na sua casa em Fernão Ferro, no concelho do Seixal, devido a uma inundação. A notícia foi adiantada pelo Correio da Manhã e confirmada pelo Observador junto do Comando Territorial de Setúbal da Guarda Nacional Republicana.

As duas vítimas morreram encurraladas numa divisão da sua residência que alagou devido ao mau tempo que se tem feito sentir. São as primeiras mortes registadas devido à depressão Cláudia.

De acordo com a fonte contactada pelo Observador, “a GNR e os bombeiros depararam-se com a casa inundada e foram forçados a partir as janelas para entrar dentro da residência”. Ao entrar no local, “rapidamente localizaram as vítimas” em paragem cardiorespiratória.

Pelo que foi possível apurar pelo Observador no local, o casal de octogenários terá sido surpreendido pela subida das águas enquanto dormiam e, tendo mobilidade reduzida, não teve tempo de se colocar em segurança. A CNN Portugal adianta, inclusive, que tinham um botão de pânico, mas este não foi acionado, reforçando a ideia de que foram apanhados de surpresa.

A casa fica numa urbanização afastada do centro desta freguesia do Seixal e que se foi desenvolvendo após o 25 de Abril, tratando-se hoje de uma Área Urbana de Génese Ilegal (AUGI). Localizada junto a um pinhal, a zona nas imediações encontra-se totalmente inundada, assemelhando-se a um enorme lago.

Segundo os vizinhos, que alertaram as autoridades pelas 9h15 desta quinta-feira, o nível das águas subiu drasticamente durante a noite numa ribeira que passa nas traseiras da casa das vítimas. Já nesta manhã, a subida foi tal que a água chegou a uma das janelas, deixando-a muito perto de ficar submersa.

Foi devido ao volume de água em redor do edifício que as autoridades foram obrigadas a partir não só uma janela, mas um muro também, para poderem entrar. Foi montado um perímetro de segurança junto à casa, mantido pela GNR, sendo que agentes da Polícia Judiciária também estiveram no local para fazer peritagem. Os familiares das vítimas também estiveram nas imediações.

Este caso ocorreu no distrito de Setúbal, um dos mais afetados do país pelo mau tempo provocado pela depressão Cláudia, tendo estado sob alerta vermelho emitido pelo IPMA até às 10h00 desta quinta-feira. Por esse motivo, é também o distrito onde foram registadas mais ocorrências pela Proteção Civil até ao início da tarde, cerca de 200.

Há informação de várias estradas inundadas e veículos imobilizados devido à chuva forte nos concelhos do Montijo e do Seixal — neste, inclusive, a Estrada Nacional 378 teve de ser encerrada devido ao alagamento da via.

Presente junto à casa em Fernão Ferro onde morreram os dois idosos para prestar esclarecimentos, Joaquim Tavares, vereador da Câmara Municipal do Seixal com o pelouro da Proteção Civil descartou responsabilidades camarárias, sublinhando a natureza ilegal da habitação em que viviam.

Questionado quanto ao que poderia ter sido feito para evitar este desenlace, em que a casa sofreu uma inundação repentina, o autarca respondeu que, “em primeiro lugar, não deveria ter havido estas construções nestes sítios”, referindo-se ao facto de a casa estar  numa Área Urbana de Génese Ilegal (AUGI).

Todavia, Joaquim Tavares não só admitiu não conhecer o processo quanto a esta casa em si nem se foram feitas diligências no passado quanto à sua segurança, como foi omisso quanto ao futuro desta e de outras habitações.

Questionado se estava para ser demolida, respondeu aos jornalistas que “está numa situação de construção ilegal, como estão tantas outras na região” e que “estão a ser vistas soluções para que se possa desativar estas habitações”, sem afirmar abertamente se há algum tipo de demolição planeada. Por outro lado, indagado se o plano passava, ao invés, por legalizá-la, respondeu: “Não, está numa zona ilegal, como é que podia ser legalizada?”

Como o Observador apurou junto de alguns moradores no local, assim como familiares das vítimas, existe a suspeita de que o alagamento que ocorreu nas imediações da casa possa ter sido causado por um projeto de obras públicas iniciado há cerca de um ano mas que tem avançado a baixo ritmo. Como consequência, apontam que se tem gerado entulho e que, mesmo com a criação de sarjetas junto à estrada, não acreditam que estejam a funcionar em condições.

Confrontado com a possibilidade de estas obras terem propiciado este alagamento repentino por eventualmente terem dificultado a drenagem das águas pluviais, o autarca afirmou que “os moradores todos têm opinião nestes momentos” e que não está em condições de garantir que houve uma relação de causa-efeito. “Todos sabem que estamos numa área urbana de génese ilegal”, optou por afirmar, e “é no contexto dessa realidade que estão a ser realizadas obras pela administração da AUGI, que é quem tem a competência nessa matéria”, completou.

Joaquim Tavares justificou ainda a ocorrência com o facto de esta ter sido “uma situação muito particular, de uma grande intensidade da chuva”, lembrando ao mesmo tempo que casas com a afetada “existem há muitos anos e os problemas que tiveram nunca foram desta natureza”.