Em outubro, quando foi anunciada a implementação de 12.600 GPU no centro de dados de Sines, a Start Campus revelou que a parceria entre a Microsoft e a Nscale para instalar os chips da Nvidia completou o primeiro edifício do complexo, que terá seis. Em entrevista ao Observador, Robert Dunn, CEO da Start Campus, explicou que a empresa está focada em captar clientes para o SIN02, o segundo edifício do complexo em Sines. Sobre se há conversas com a Start Campus sobre este tema, o diretor de produto da Nscale afirma apenas que “Portugal é uma localização massiva” para a empresa. “Vamos continuar a investir onde conseguirmos na região e, sim, eventualmente haverá mais informação sobre e quando acontecer.”
Mas reitera que a empresa “tem ambições globais”. “Queremos ser o próximo grande hyperscaler. Temos implementações ao longo de toda a Europa e obviamente estamos de forma ativa a trabalhar para esse objetivo, portanto imagino que seja feito muito mais em Portugal ao longo dos próximos anos.”
O executivo da Nscale não teve oportunidade de assistir na íntegra às declarações do ministro da Reforma do Estado português no arranque da Web Summit, que afirmou que Portugal “tem todas as condições para se tornar líder mundial na IA”. Mas partilha uma visão semelhante. “Concordo plenamente. Acho que Portugal vai ser uma das potências da Europa. Há alguns locais estratégicos na Europa que têm o mesmo acesso que Portugal a energia renovável”, dando como exemplo o norte da Noruega, onde a Nscale também já tem planos. “Portugal parece ter os ingredientes certos” para ser “um dos locais que vai servir a procura” de poder de computação de IA na Europa, diz o executivo.
Porém, responde negativamente sobre se já houve contactos com o Governo português feitos durante a Web Summit. O próprio Governo divulgou, nas suas redes sociais, um encontro entre Brad Smith, presidente da Microsoft, e Gonçalo Matias, ministro da Reforma do Estado, ainda na segunda-feira. Na terça-feira, foi a vez de o CEO da tecnológica de chips Qualcomm, Cristiano Amon, deixar no ar que iria reunir-se com o Governo português. “Na Web Summit não, mas falamos com toda a gente de forma regular. Não posso dizer muito mais sobre com quem é que nos reunimos”, acrescenta Bathurst.
A Nscale deriva da Arkon Energy, uma empresa que disponibiliza infraestrutura para mineração de bitcoin. “Mas são tipos de negócio completamente separados”, afirma o diretor de produto da startup britânica.
O negócio tem crescido à conta da “procura por infraestrutura de IA”, que “tem sido insaciável” nos últimos tempos. “Vimos uma oportunidade real de colocar a Europa no mapa e disponibilizar uma alternativa sediada na Europa a hyperscalers existentes”, ou seja, as empresas de grandes dimensões que disponibilizam serviços de infraestrutura para a inteligência artificial.
O desenvolvimento de IA tem associado um forte consumo de energia elétrica. “O acesso a energia é uma grande batalha”, reconhece o executivo. Nessa área, a Nscale considera-se “sortuda”. “Tivemos sorte. Todos os anúncios que foram feitos estão apoiados por contratos de energia já existentes.” E em Portugal? A resposta é mais uma oportunidade para enumerar as condições do mercado. “É uma excelente localização, boas renováveis, bom acesso a energia, talento. Parte da nossa equipa de fundação já viveu em Lisboa também. Isso ajudou. É uma boa localização e também foi por isso que escolhemos a Start Campus.”
Além de Portugal, a Nscale já anunciou planos para implementações de GPU nos EUA, Reino Unido e Noruega. Questionado sobre a evolução dos trabalhos — nenhum dos projetos está concluído — Daniel Bathurst refere que “todos os locais estão em desenvolvimento ativo hoje, liderados por Alex Sharp [diretor de operações da Nscale], que já construiu 54 data centers na sua carreira.”
Ter um negócio no mundo da infraestrutura de IA é intensivo em capital. Em setembro deste ano, foi anunciado que a Nscale assegurou um investimento de 1.100 milhões de dólares numa série B, liderada pela norueguesa Aker, incluindo a participação da Nvidia. Num anúncio separado, também em setembro, a Nvidia revelou que investiu 500 milhões de libras, o equivalente a 566 milhões de euros, na Nscale.
A Nvidia tem feito vários anúncios de investimentos em empresas que vão recorrer a chips desenvolvidos pela empresa. O movimento de circularidade nos investimentos, em que o capital circula entre o mesmo grupo de empresas, já foi sinalizado em algumas ocasiões por analistas que seguem o mercado da IA, estabelecendo algumas comparações com a bolha das dotcom. A Nscale não se mostra preocupada. “Da minha perspetiva não. O nosso modelo de negócio passa por fazer contratos de três anos ou mais e disponibilizar a coluna vertebral de infraestrutura. Vemos uma procura forte de muitos clientes para ter acesso”, avança. “Estamos com um foco preciso nas operações, em garantir que contratamos o talento certo, garantir que construímos uma infraestrutura com um bom padrão.”