Os Estados Unidos pediram nas últimas horas ao Conselho de Segurança da ONU que se “una” para adotar o seu projeto de resolução que endossa o plano de paz de Donald Trump para Gaza, alertando para o risco de consequências “graves” para os palestinianos caso isso não aconteça.
“As tentativas de semear a discórdia enquanto um acordo sobre esta resolução está a ser ativamente negociado têm consequências graves, tangíveis e totalmente evitáveis para os palestinianos em Gaza”, disse um porta-voz da missão dos EUA na ONU, em comunicado.
“O cessar-fogo é frágil e apelamos ao Conselho para que se una e avance para garantir a paz tão necessária“, acrescentou o porta-voz, descrevendo-o como “uma oportunidade histórica para preparar o caminho para uma paz duradoura no Médio Oriente, apoiando esta resolução”.Na semana passada, os americanos iniciaram
oficialmente as negociações no Conselho de Segurança sobre um projeto de
texto que endossa o plano do presidente dos EUA, o qual levou à
implementação de um frágil cessar-fogo nos territórios palestinianos em
10 de outubro.
A terceira versão do texto, a que a AFP teve acesso, contempla ainda a criação de um “comité de paz” que deverá ser presidido por Donald Trump, um órgão de “governação transitória” com mandato até ao final de dezembro de 2027.
Autoriza ainda o destacamento de uma “força internacional de estabilização” (FIE) que poderá utilizar “todas as medidas necessárias para cumprir o seu mandato de acordo com o direito internacional”: apoio à segurança das fronteiras em cooperação com Israel e o Egipto, desmilitarização de Gaza, desarmamento de “grupos armados não estatais”, proteção de civis e a formação de uma força policial palestiniana.Ao contrário das versões anteriores, o novo texto aborda o futuro de um possível Estado palestiniano.
Após a reforma da Autoridade Palestiniana e os progressos alcançados na reconstrução de Gaza, “podem finalmente estar reunidas as condições para um caminho credível rumo à autodeterminação e à formação de um Estado palestiniano”, refere o texto, assegurando que os Estados Unidos estabelecerão um “diálogo entre Israel e os palestinianos” para chegar a um acordo sobre “um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera”.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, manifestou na quarta-feira otimismo em relação a esta resolução, afirmando que “há progressos na redação” e esperando uma votação “muito em breve”.

Contudo, embora pareça que os membros do Conselho de Segurança apoiem o princípio da criação do “comité de paz” e da força, fontes diplomáticas observaram que o texto levanta uma série de questões, particularmente no que diz respeito à ausência de um mecanismo de monitorização por parte do Conselho, ao papel da Autoridade Palestiniana e aos detalhes do mandato das Forças de Segurança Israelitas (FSI).
Trump descartou o envio de soldados norte-americanos para a Faixa de Gaza, mas as autoridades descreveram uma força de cerca de 20 mil soldados e estão em negociações com a Indonésia, Emirados Árabes Unidos, Egito, Catar, Turquia e Azerbaijão para que contribuam com tropas.Rússia também propõe resolução da ONU
Também na quinta-feira a Rússia avançou com a sua própria proposta de resolução da ONU sobre Gaza, em desafio à tentativa dos EUA de aprovar o seu próprio texto no Conselho de Segurança, que endossaria o plano de paz para Gaza do presidente Donald Trump, segundo uma cópia da proposta vista pela Reuters.
Segundo a Reuters, “a missão da Rússia na ONU afirmou ainda numa nota
aos membros do Conselho de Segurança que a sua contraproposta é
inspirada na proposta dos EUA”.
“O objetivo da nossa proposta é permitir ao Conselho de Segurança desenvolver uma abordagem equilibrada, aceitável e unificada para alcançar uma cessação sustentável das hostilidades”, acrescenta a nota.
A proposta russa solicita ao secretário-geral da ONU que identifique opções para uma força internacional de estabilização para Gaza e não menciona o “Conselho de Paz” proposto pelos EUA como administração de transição para Gaza.Hamas tenta alargar controlo de Gaza
Da regulação do preço do frango à cobrança de taxas sobre os cigarros, o Hamas procura alargar o seu controlo sobre a Faixa de Gaza à medida que os planos dos EUA para o futuro da região tomam forma lentamente, dizem os habitantes do enclave, aumentando as dúvidas dos rivais sobre se o grupo cederá autoridade como prometido.
As autoridades monitorizam tudo o que entra nas zonas da Faixa de Gaza controladas pelo Hamas, cobrando taxas sobre alguns produtos importados por particulares, incluindo combustível e cigarros, e multando os comerciantes que alegadamente praticam preços abusivos, afirmaram à Reuters habitantes, três deles comerciantes com conhecimento direto da situação.Um importador de alimentos afirmou à agência, que o
Hamas monitoriza tudo o que entra, com postos de controlo ao longo das
rotas, e mandam parar os camiões e interrogam os condutores, disse, que
preferiu não ser identificado.
Após o cessar-fogo iniciado no mês passado, o Hamas rapidamente restabeleceu o seu controlo sobre as áreas das quais Israel se retirou, matando dezenas de palestinianos acusados de colaboração com Israel, roubo ou outros crimes. As potências estrangeiras exigem que o grupo desarme e abandone o governo, mas ainda não chegaram a acordo sobre quem os irá substituir.
Os manipuladores de preços são multados, o que ajuda a reduzir alguns preços, mas ainda são muito mais elevados do que antes do início da guerra e as pessoas queixam-se de que não têm dinheiro.
O Governo do Hamas em Gaza chegou a empregar até 50 mil pessoas, incluindo polícias, antes da guerra.
Hatem Abu Dalal, proprietário de um centro comercial em Gaza, disse que os preços eram elevados porque não havia bens suficientes a entrar na Faixa de Gaza. Os representantes do governo tentavam organizar a economia, percorrendo a região, verificando as mercadorias e definindo os preços, acrescentou.
No entanto, Ismail Al-Thawabta, chefe do gabinete de imprensa do governo do Hamas, disse que as notícias sobre a cobrança de impostos sobre os cigarros e os combustíveis pelo Hamas são imprecisas, negando que o Governo esteja a aumentar quaisquer impostos.
As autoridades estariam apenas a realizar tarefas humanitárias e administrativas urgentes, ao mesmo tempo que fazem “esforços intensos” para controlar os preços, realçou Thawabta.
O chefe de gabinete de imprensa do Governo do Hamas, reiterou a disponibilidade do Hamas para entregar o poder a uma nova administração tecnocrata, afirmando que o objetivo era evitar o caos em Gaza: “O nosso objetivo é que a transição decorra sem problemas”.O plano de Donald Trump para o cessar-fogo na Faixa
de Gaza prevê o estabelecimento de uma autoridade de transição, o
destacamento de uma força de segurança multinacional, o desarmamento do
Hamas e o início da reconstrução.
Questionado sobre os relatos dos residentes de Gaza relativos à cobrança de taxas pelo Hamas sobre alguns produtos, entre outras atividades relatadas, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou: “É por isso que o Hamas não pode nem vai governar Gaza”.
O novo executivo da Faixa de Gaza poderá ser formado assim que as Nações Unidas aprovarem o plano de Trump, disse o porta-voz, acrescentando que houve progressos na formação da força multinacional.
A Autoridade Palestiniana está a pressionar para a participação no novo governo de Gaza, embora Israel rejeite a ideia de voltar a governar Gaza. A Fatah e o Hamas divergem sobre a forma como o novo órgão de governo deve ser formado.
Munther al-Hayek, porta-voz do Fatah em Gaza, disse que as ações do Hamas “indicam claramente que o Hamas quer continuar a governar”.
Nas zonas controladas por Israel, os pequenos grupos palestinianos que se opõem ao Hamas mantêm uma base, representando um desafio persistente para o grupo.
Os habitantes de Gaza continuam a enfrentar condições terríveis, embora tenha entrado mais ajuda desde o cessar-fogo.
Quase todos os dois milhões de habitantes de Gaza vivem em zonas controladas pelo Hamas, que assumiu o controlo do território da Autoridade Palestiniana (AP) do Presidente Mahmoud Abbas e do seu Movimento Fatah em 2007.