Ksenia Chernaya / Pexels

Casaram-se, mas ela continuou a viver com o ex-namorado enquanto ele dava o corpo no campo de batalha. Indemnizações ultrapassam os 155 mil euros. Redes sociais têm facilitado a procura de soldados para efetuar o golpe.

Na Ucrânia, uns veem guerra; outros, desgraçados, veem amor e outros, oportunidades de negócio.

O WSJ deu conta, no passado dia 4, de que há mulheres a seduzir soldados russos com o objetivo de se casarem com eles e, então, receberem indemnizações caso estes morram no campo de batalha.

As “viúvas negras” são cada vez mais frequentes desde o início do conflito, em 2022, dizem especialistas legais e autoridades russas. A guerra na Ucrânia obrigou o Governo russo a oferecer salários elevados, bónus de recrutamento e melhores  pagamentos às famílias de soldados mortos — e isso atraiu interessadas.

Dependendo da patente e das circunstâncias, as indemnizações podem ultrapassar os 155 mil euros.

Em algumas regiões mais pobres da Rússia, de onde muitos soldados são recrutados, o fenómeno gerou conflitos familiares. Casos que enchem o tempo da justiça, citados pelo WSJ, referem por exemplo pais afastados e avós a reclamar parcelas das indemnizações, por considerarem que ajudaram a criar os filhos ou netos enviados para a frente de batalha.

As redes sociais têm facilitado a procura de soldados “a jeito”. Na plataforma VK, existem dezenas de grupos com nomes sugestivos, como “Encontros com Soldados” ou “Encontros com Insígnias de Ombro”, especificamente dedicados a mulheres à procura de militares em serviço na Ucrânia.

Embora o número exato de casos seja difícil de determinar, investigações identificaram pelo menos meia dúzia de processos em tribunais russos onde se alegou ou se concluiu que soldados ou familiares foram enganados através de casamentos simulados para apropriação indevida das indemnizações.

Um dos enganados foi Sergey Khandozhko, soldado russo de 40 anos. Em outubro de 2023, Khandozhko casou-se subitamente, num breve cerimonial de apenas 20 minutos, sem troca de alianças e com apenas um convidado. Mas todos estranharam quando a sua nova esposa continuou a viver com o ex-marido e os filhos.

Pouco tempo depois, Khandozhko morreu em combate na Ucrânia e a esposa recebeu a indemnização paga aos familiares dos soldados mortos, que ascendia a 14,5 milhões de rublos (cerca de 155 mil euros).

Um tribunal civil russo concluiu que Elena Sokolova, a esposa, teria enganado o soldado para se casar com ela apenas pela indemnização. O casamento foi anulado e Sokolova foi multada em 3.000 rublos (cerca de 31 euros), embora tenha apresentado recurso da decisão.

Entretanto, na esfera política, alguns parlamentares vão apelando a a medidas mais severas contra os esquemas, nomeadamente penas mais duras e limitações às indemnizações que beneficiários obtêm através de casamentos fraudulentos. Para

“Estes monstros escolheram desonrar a coisa mais sagrada: o cuidado com as famílias dos heróis caídos”, declarou o líder do Partido Liberal Democrata da Rússia Leonid Slutsky, referindo-se às mulheres que procuram os casamentos, comparando-as a saqueadores do Cerco de Leninegrado, durante a Segunda Guerra Mundial.


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