Por décadas, Eddie Murphy se manteve afastado do “Saturday Night Live”, o programa que o tornou uma superestrela —e que ele ajudou a manter vivo durante alguns dos seus anos mais difíceis na década de 1980.A ruptura se tornou uma das mais famosas rixas do mundo do entretenimento.

Murphy, que retornou para apresentar o programa em 2019, após um intervalo de 35 anos, discutiu as origens de sua ira. Ele ofereceu sua reflexão mais detalhada no novo documentário da Netflix, “Eu, Eddie”, que captura o alcance e a influência de sua longa carreira.

O ator diz que ficou chateado porque o programa atacou um dos seus ex-integrantes. Ele havia se juntado ao elenco aos 19 anos em 1980, quando o programa buscava uma nova identidade após a saída de todos os membros do elenco original. Ele ajudou o “SNL” a fazer exatamente isso antes dele próprio encontrar um sucesso ainda maior como estrela de muitos sucessos de bilheteria na sua carreira solo. Seu filme de 1995 “Um Vampiro no Brooklyn” não foi um desses, arrecadando menos de US$ 20 milhões no mercado americano.

Esse foi o contexto para o momento que iniciou a rixa. No “Saturday Night Live”, o membro do elenco David Spade mostrou uma foto de Murphy sorrindo durante seu segmento Hollywood Minute no Weekend Update.

“Olhem, crianças, é uma estrela cadente”, disse ele, fazendo um jogo de palavras como se Murphy, uma estrela, estivesse em decadência . “Façam um pedido.”

A piada provocou um misto de risadas e choque na plateia.

Murphy não ficou chateado apenas com Spade, pois sabia que qualquer piada no programa precisava passar pela chefia antes de ser aprovada.

“É como se sua alma mater estivesse atacando você”, disse Murphy no documentário. “Atacando minha carreira, não o quão engraçado eu era. Me chamou de estrela decadente.”

Murphy não compareceu ao especial de 25 anos do programa, em 1999. Ele retornou para o especial de 40 anos do programa e abraçou Spade nos bastidores.

No ano passado, Murphy disse ao New York Times que achou a piada racista.

“A maioria das pessoas que saem daquele programa não têm carreiras incríveis”, disse ele. “Foi pessoal. Foi tipo, ‘Cara, como você pôde fazer isso?’ Minha carreira? Sério? Uma piada sobre minha carreira? Achei que foi um golpe baixo. E foi meio que, eu pensei —senti que foi racista.”

Spade abordou a piada em seu livro de 2015, “Almost Interesting” (quase interessante, em inglês).

“Tento não pensar nas vítimas quando faço piadas pesadas, mas às vezes há consequências”, escreveu ele. “Sei com certeza que não consigo suportar quando isso vem na minha direção. É horrível pelos mesmos motivos. Cheguei a entender o ponto de vista de Eddie sobre isso.”

O documentário capturou o tão esperado retorno de Murphy ao Estúdio 8H em uma noite em que ele revisitou alguns de seus personagens mais memoráveis, como Buckwheat e Gumby.

Murphy lembrou que Lorne Michaels, criador do “SNL”, teve a ideia de reunir os comediantes negros Morgan, Chris Rock, Dave Chappelle e Kenan Thompson para se juntarem a ele em seu monólogo.

“Foi um dos maiores ‘SNL’s de todos os tempos”, disse Rock no documentário. “E eu fui até Lorne Michaels quando acabou, e disse: ‘Você deveria se aposentar agora. Não vai ficar melhor que isso.'”

Michaels ainda está no comando, é claro, e Murphy apareceu no especial de 50º aniversário do programa.

“Aquele pequeno atrito que tive com o ‘SNL’ foi há 35 anos”, disse ele no documentário. “Não tenho nenhum problema com David Spade. Não tenho ressentimento com nada disso ou com ninguém. Eu pensei: ‘Ei, vou ao ‘SNL’ e vou resolver tudo isso.’ E foi o que fiz.”