O que poucos sabem, porém, é que o astro vencedor do Emmy, BAFTA e Globo de Ouro, que morreu em 2016, aos 69 anos, devido a um câncer no pâncreas, quase abandonou o papel que o consagrou no imaginário popular. Mas, pouco tempo depois que a ideia de se demitir da icônica saga se formou em sua cabeça, ela já foi descartada.
Em seus diários, que escrevia desde 1992, Rickman revelou que retornar para o mundo de Harry Potter, depois das pausas entre uma gravação e outra – ele participou de todos os oito filmes da saga –, era como um “sonho” que nunca tinha acabado. Entretanto, durante um dia de gravações do terceiro filme, ‘Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban’ (2004), ele teve “uma perda de memória” e passou o “dia inteiro” em melancolia.
Além disso, ele escreveu que sua relação com o diretor daquela produção, Alfonso Cuaron, não era das melhores – apesar de eles terem se resolvido depois, fora do estúdio. “Alfonso [Cuarón, o diretor] era um pouco selvagem comigo. Eu o amava muito para deixar isso durar por muito tempo, então eu resolvi as coisas fora do filme com ele”, contou nas suas anotações sobre o cineasta mexicano que tinha uma visão bastante ambiciosa – anos depois, ele se tornaria um dos grandes diretores do cinema, vencedor do Oscar por ‘Gravidade’ (2013) e ‘Roma’ (2018).
Alan Rickman ainda falou sobre como a agenda apertada – comum em grandes franquias – causava tensão, principalmente com o elenco jovem, que “precisava de orientação”. Ele revelou que, muitas vezes, as câmeras já estavam rodando antes dos atores estarem preparados. Segundo ele contou, a interpretação de Emma Watson, que viveu Hermione, era uma das mais “duras” nos primeiros takes.
Mesmo com as dúvidas sobre continuar ou não, e a exaustão crescente, Rickman resolveu permanecer na saga – o que possibilitou que ele estabelecesse fortes relação com os atores mirins. E, segundo revelou, ele deixou suas frustrações com ‘Harry Potter’ de lado por um motivo bastante pessoal: mesmo que se sentisse drenado e preso criativamente, ele acreditava na complexidade do seu personagem.
Nos bastidores, porém, ele não era tão intimidador quanto o seu papel – apesar de ter sido um mentor tão quieto quanto ao jovem elenco de ‘Harry Potter’. “Ele encurtou uma viagem ao Canadá para me ver [na peça] ‘Equus’. Ele viu todas as peças que eu fiz enquanto ele estava vivo”, Daniel Radcliffe, o Harry Potter, contou sobre o veterano colega para a revista ‘Variety’.
Já Emma Watson, a eterna Hermione Granger, refletiu sobre a conexão que teve com Rickman. “Eu me sinto muito sortuda de ter trabalhado e passado tempo com um homem e um ator tão especial”, declarou ao jornal ‘The Guardian’. E até mesmo Tom Felton, intérprete de Draco Malfoy, elogiou Alan, o descrevendo como “muito, muito gentil e com um senso de humor perverso” em depoimento para a ‘People’.