Troy Parrott já é, seguramente, herói nacional na Irlanda. A seleção do pequeno país insular integrava o Grupo F da qualificação para o Mundial 2026 com Portugal, Hungria e Arménia. Os nomes davam alguma esperança à seleção irlandesa, talvez para um segundo lugar. A realidade mostrou que ambicionar chegar ao Mundial… não é fácil.

Isto porque a Irlanda chegou a este estágio de novembro com quatro pontos, em terceiro lugar no Grupo. Portugal tinha dez pontos, a Hungria cinco. O primeiro lugar seria quase inalcançável, mas o segundo, que dá acesso ao play-off de apuramento, era uma ambição legítima. Faltava, para isso, ganhar.

E a Irlanda venceu mesmo os dois últimos jogos. O primeiro, em casa, diante de um Portugal recheado de estrelas mas que brilhou muito pouco. A expulsão de Cristiano Ronaldo ajudou ao 2-0 dos irlandeses. Troy Parrott, avançado do AZ Alkmaar, bisou e foi o herói da noite. Mas não se ficou por aí.

Neste domingo, num duelo de alta importância, a Irlanda deslocou-se até à Hungria para discutir o segundo lugar. Em Budapeste, a Hungria até marcou primeiro, mas Parrott empatou de grande penalidade aos 15 minutos. Varga (que também marcou a Portugal), voltou a pôr a Hungria na frente aos 37 minutos.

A Irlanda perdia ao intervalo, mas celebrou no apito final. Parrott bisou aos 80m (com um ‘picadinha’ à brasileira) e fez o golo da euforia aos 90+6m, já depois dos cinco minutos de compensação dados pelo árbitro. Uma jogada de futebol direto, bem britânico, deu a vitória aos irlandeses. A celebração foi incrível.

Depois deste jogo de muitas emoções, Troy Parrott desabou após o apito final, com um discurso interrompido pelas lágrimas.

«Estou muito emocionado, desculpem. São lágrimas de alegria. Não consigo acreditar. É por isto que amamos o futebol. Amo de onde venho, isto significa o mundo para mim. A minha família está cá. Disse depois do jogo com Portugal que os sonhos são feitos disto, mas esta noite… penso que não terei uma melhor na minha vida», resumiu.

Parrott substituiu Pavlidis no AZ e foi treinado por José Mourinho no Tottenham 

Troy Parrott, natural de Dublin, ainda não tinha marcado no apuramento. Aliás, tinha sido suplente utilizado nos dois primeiros jogos, sem grande expressão. As duas titularidades concedidas por Heimir Hallgrímsson foram retribuídas com cinco golos marcados.

Parrott levou a bola de jogo para casa no final, assinada pelos colegas de equipa. Aos 23 anos vive uma temporada excecional, a pedir outros voos. Juntando seleção irlandesa e AZ Alkmaar, o seu clube, tem 18 golos em 18 jogos. Na Liga Conferência, é o melhor marcador.

É a segunda temporada do irlandês no clube neerlandês, onde ganhou protagonismo. Curiosamente, foi Troy Parrott que ocupou o espaço vago deixado por Vangelis Pavlidis no verão de 2024 – o grego assinou pelo Benfica no início do mercado de transferências e Parrott chegou quinze dias depois.

Não serviu para o Tottenham – formado nesse clube, fez apenas quatro jogos na equipa principal e nunca marcou. Curiosamente, três desses jogos aconteceram sob o leme de José Mourinho, em 2019/20. 

Teve vários empréstimos no Championship e um no Excelsior, nos Países Baixos, até conseguir convencer o AZ a investir oito milhões de euros nele. A continuar assim, dará lucro ao clube neerlandês.

Aos 17 anos, tinha o mundo a seus pés. Um dirigente do Belvedere, pequeno clube onde Parrott jogou até essa idade, revelou ao jornal RTE que clubes como Barcelona, Bayern Munique, Juventus e Real Madrid perguntaram pelos seus préstimos, mas optou pelo Tottenham que outrora foi do compatriota Robbie Keane. Desde aí até agora, o percurso foi feito de altos e baixos, mas as luzes da ribalta voltaram a iluminá-lo.

A história não acaba aqui. Falta agora conhecer o adversário do play-off e, quem sabe, a Irlanda pode voltar a um Mundial 24 anos depois. Os irlandeses disputaram três vezes a competição, em 1990, 1994 e 2002… quando Parrott tinha apenas quatro meses.