Numa série de declarações sobre a forma como as marcas chinesas estão a entrar na Europa, em comparação com as restrições impostas às marcas europeias quando quiseram fabricar, há anos, em solo chinês, o presidente da Renault em Espanha deixou claro que, na Europa, as empresas têm de estar à altura das exigências dos decisores e clientes europeus.
A presença de marcas chinesas na Europa é cada vez mais evidente, sobretudo no mercado dos carros elétricos, no qual as suas alternativas são particularmente apetecíveis.
Num evento recente organizado pela Tribuna de Automoción, o presidente da Renault em Espanha e da Association of Automobile and Truck Manufacturers (Anfac) explicou o que as marcas pretendem no país e em toda a Europa relativamente à acelerada expansão das fabricantes chinesas no velho continente.
Marcas europeias tiveram de se unir aos nomes da China
Conforme recordado por Josep Maria Recasens, a chegada das empresas baseadas na China à Europa está a diferir do processo inverso, que ocorreu durante a década de 1980.
Na altura, marcas como a Volkswagen, a Peugeot, a Citroën e a própria Renault tiveram de se aliar a empresas locais através de joint ventures, por forma a operar no país.
Há alguns anos, quando queríamos ir para a China, diziam-nos: vais entrar, mas com estas condições.
Recordou Josep Maria Recasens, conforme citado.
Com o tempo, algumas destas empresas fortaleceram-se e aprenderam com o design europeu. O website automóvel Motor.es evocou o caso do primeiro Chery conhecido no mundo, que era essencialmente um Seat Toledo de primeira geração quando terminou o seu ciclo comercial na Europa, embora equipado com motores Ford da década de 1980.
Agora, é a forma como a Chery se instalou na fábrica de Zona Franca, em Barcelona, de onde saem os modelos Omoda, Jaecoo e Ebro, bem como a chegada da nova marca Lepas, que parecem estar a gerar descontentamento.
“É necessário criar ordem” relativamente às fabricantes chinesas
No evento, o presidente da Renault em Espanha destacou uma diferença de valor acrescentado.
Não se pode chegar aqui e construir quatro chapas com rodas e bancos com pouco valor acrescentado. O que é preciso é comprometê-las a que nos ensinem, que tragam produtos com valor acrescentado. Nós não fizemos isso quando fomos para a China, eles não devem fazê-lo quando vêm para a Europa.
Disse Josep Maria Recasens, reclamando que “abrimos todo o campo e estão a entrar por todos os lados, é necessário criar ordem a nível europeu”. Neste cenário, as tarifas “não passam de uma forma de igualar aquilo que não é equitativo, para equilibrar a balança”.
Na sua perspetiva, embora o setor automóvel europeu esteja enraizado no motor de combustão, é para o carro elétrico que tudo irá convergir no futuro.
O único vetor de crescimento é o veículo elétrico. O carro de combustão terá menos vendas e, para tudo o que construímos à sua volta, é preciso acelerar para o colocar ao serviço da tecnologia dominante do futuro. Isto não diz respeito à política, diz respeito à tecnologia.
Indo ao encontro de alertas deixados por outros executivos, anteriormente, o presidente da Renault em Espanha disse que, não sabendo o que será decidido na revisão da proibição da venda de novos carros com motores de combustão a partir de 2035, “gostaria que as medidas de curto prazo, aquilo de que precisamos em 2026 e 2027, ficassem perfeitamente claras”.
Afinal, “o emprego está a ser destruído, não em 2035, mas hoje; o sentido de urgência é mais curto do que nunca”.


