The Invisible Battalion Project / Facebook

Situação difícil na frente de batalha faz com que feridos esperem demasiado tempo por socorro, o que aumenta o risco de gangrena gasosa. Considerada letal, a infeção tinha sido erradicada na Europa antes da guerra.
Os soldados na linha da frente, como na guerra na Ucrânia, têm de esperar por ajuda durante longos períodos, porque a evacuação e, consequentemente, o atendimento médico urgente, podem ser simplesmente impossíveis.
Isso expõe os combatentes ao risco de contrair gangrena gasosa, uma doença perigosa que se inicia no tecido morto e provoca a formação de bolhas de gás sob a pele.
O que parece uma história de terror de guerras antigas está a tornar-se realidade na Ucrânia. Segundo uma reportagem do jornal britânico The Telegraph, a gangrena gasosa está a espalhar-se pelo país.
“Aprendemos sobre gangrena gasosa na escola, mas vemos isto agora na Ucrânia porque os feridos não estão a receber o atendimento adequado”, disse Alex, um paramédico voluntário que trabalha na região de Zaporíjia, ao jornal. “Chegam ao hospital pessoas feridas há semanas, que estavam em salas de estabilização médica subterrâneas, onde eram mantidas vivas de forma improvisada.”
Ainda não foi verificado de forma independente se a doença que se espalha entre os soldados ucranianos é de facto gangrena gasosa. Mas é inegável que a frente de batalha é de difícil acesso devido aos frequentes ataques de drones russos.
Os abastecimentos muitas vezes não chegam até às tropas, ou chegam com enorme atraso. Novos soldados, por vezes, têm de caminhar quilómetros antes de atingirem as frentes de batalha, onde os feridos aguardam socorro.
O que causa a gangrena gasosa
A doença infecciosa tóxica destrói rapidamente o tecido muscular. É causada por bactérias do género Clostridium, naturalmente presentes, por exemplo, no solo ou no intestino humano, explica a Deutsch Welle.
Estas bactérias não são necessariamente patogénicas. Tornam-se perigosas apenas quando entram em tecidos com falta de oxigénio, como ocorre em feridas profundas e complexas. O tecido morto, ou necrótico, impede a cicatrização da ferida, favorecendo a proliferação das bactérias Clostridium.
A infeção espalha-se rapidamente em condições como as encontradas nas trincheiras, onde existem muitos ferimentos e higiene precária.
Para os afetados, a gangrena gasosa é extremamente dolorosa. Formam-se bolhas de gás sob a pele, que podem ser sentidas e ouvidas a crepitar ao apalpar a área em redor da ferida. Os músculos afetados tornam-se vermelho-acinzentados e incham.
Soldados infetados desenvolvem sépsis, o ritmo cardíaco acelera, surgem problemas circulatórios e respiratórios e, por fim, falência múltipla de órgãos.
Mesmo com tratamento hospitalar, a cura não é garantida após o desenvolvimento da doença. Sem tratamento — por exemplo, devido a tempos de evacuação excessivamente longos —, a taxa de mortalidade aproxima-se dos 100%.
O tecido afetado deve ser removido cirurgicamente o mais rápido possível. Antibióticos potentes também devem ser administrados por via intravenosa. Para identificar os antibióticos mais adequados a cada paciente, realizam-se culturas microbiológicas e testam-se quanto à resistência.
Estes procedimentos exigem condições de higiene impecáveis e só podem ser realizados em hospitais com laboratórios, não em salas de tratamento improvisadas em abrigos antiaéreos. Embora alguns antibióticos possam ser armazenados nesses abrigos, não existem alternativas caso haja resistência a esses medicamentos.
A gangrena gasosa era considerada praticamente erradicada na Europa devido aos avanços da medicina, especialmente nos antibióticos.
Na I Guerra Mundial, muitos soldados feridos morreram da doença. Acredita-se que mais de 100 mil combatentes alemães tenham sucumbido a esta infeção.
Na altura, muitos militares feridos permaneciam longos períodos sem tratamento em trincheiras lamacentas, e os cuidados com os ferimentos e a higiene eram inexistentes.
Na II Guerra Mundial, a gangrena gasosa era um problema muito menos significativo. Os antibióticos já estavam suficientemente difundidos, embora ainda não tão comuns como atualmente — e, ao contrário do que acontece nos dias de hoje, nessa altura a resistência aos antibióticos não era um problema significativo.