Uma série de antigos chefes das Forças Armadas, responsáveis de agências de espionagem e comissários da polícia, além de outros altos responsáveis fizeram um apelo para o fim da guerra na Faixa de Gaza, dizendo que os objectivos operacionais foram atingidos há mais de um ano e que a guerra está a continuar apenas por razões políticas.
Foi um apelo classificado como “extraordinário” pelo jornalista especialista em espionagem e questões de segurança Yossi Melman, “como nunca vimos em Israel”, com um leque impressionante de pessoas em chefias, escreveu no X (antigo Twitter).
Os responsáveis fizeram um apelo em vídeo e escreveram ainda uma carta a pedir ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que ajude a acabar com a guerra.
No vídeo, entre os 19 antigos responsáveis estão chefes das Forças Armadas como Ehud Barak (que foi depois primeiro-ministro), Moshe Yaalon e Dan Halutz, e antigos directores do Shin Bet e da Mossad. Pedem o fim da guerra através de um acordo de cessar-fogo “permanente e completo, que assegure a libertação de todos os 50 reféns de uma só vez”.
O Hamas afirmou antes que libertaria todos os reféns desde que Israel retirasse totalmente as suas forças do território e se comprometesse com o fim da guerra. As negociações actuais estão, entretanto, bloqueadas pela exigência de Israel que o movimento desarme, o que o Hamas recusa fazer antes que haja um Estado palestiniano.
Agora, o movimento disse que faria chegar alimentação aos reféns se Israel permitisse a entrada de ajuda abrindo de modo permanente corredores humanitários.
A intervenção dos antigos chefes militares e de segurança acontece quando se teme um aumento da intensidade das acções israelitas na Faixa de Gaza, depois de um responsável israelita muito citado nos media israelitas ter dito que Netanyahu estava a trabalhar para a libertação dos reféns através da “derrota militar do Hamas”, segundo a BBC.
Acontece ainda num momento em que a fome no território está a atingir níveis inéditos, com países a levarem a cabo entregas de mantimentos por via aérea (algo considerado pouco eficaz e até perigoso), e quando a guerra em Gaza é classificada por cada vez mais pessoas e organizações (mesmo em Israel) como um genocídio. E quando vários países anunciaram que irão reconhecer o Estado da Palestina numa sessão especial da ONU em Setembro, sinalizando um aumento de pressão sobre Israel.
Também acontece depois da divulgação de vídeos de dois reféns, Rom Braslavski e Evyatar David, ambos muito magros. Braslavski implora por comida e diz que está a prestes a morrer. David é mostrado, a dada altura, num túnel, a escavar um buraco: diz que recebeu ordens para cavar a sua própria sepultura.
“Deixou de ser uma guerra justa”
Israel está “à beira do precipício da derrota” na Faixa de Gaza, disse no vídeo Tamir Pardo, antigo director da Mossad, a espionagem externa.
“Temos o dever de dizer o que temos de dizer”, disse o antigo chefe do Shin Bet (secreta interna) Ami Ayalon, citado pelo Times of Israel. “Esta guerra começou por ser uma guerra justa. Era uma guerra defensiva. Mas uma vez que atingimos todos os nossos objectivos militares, uma vez que atingimos uma vitória militar brilhante sobre todos os nossos inimigos, esta deixou de ser uma guerra justa. Está a levar o Estado de Israel à perda da sua segurança e identidade.”
O antigo chefe da secreta militar Amos Malka partilhou a sua avaliação: “Há bem mais de um ano que passámos o ponto em que podíamos ter acabado a guerra com sucesso operacional suficiente.”
Yoram Cohen, antigo chefe do Shin Bet, criticou quem acredita na ideia impossível de que Israel “pode chegar a cada terrorista, a cada buraco, a cada arma, e ao mesmo tempo trazer os nossos reféns de volta”.
Outro ex-director da secreta interna, Nadav Argaman, disse que os responsáveis agora no activo “têm de ter a coragem de enfrentar o primeiro-ministro e o Governo” e dizer o que pensam “sobre esta guerra e a sua futilidade”.
O grupo também enviou uma carta ao Presidente Donald Trump, em que repetiu os seus argumentos, fazendo um apelo directo: “Pedimos-lhe que acabe com a guerra em Gaza. Fê-lo no Líbano. Chegou a altura de o fazer também em Gaza”.