Não é propriamente uma novidade, já que Mário Jardel reconheceu há mais de uma década que consumiu cocaína enquanto era jogador de futebol. O que nunca tinha acontecido até agora, na verdade, era um testemunho tão verdadeiro e pormenorizado como o que László Bölöni deu nos últimos dias sobre o tempo que passou com o avançado brasileiro no Sporting.

Em entrevista ao podcast “Vorbitorinciim”, na Roménia, o treinador que foi campeão nacional pelos leões em 2001/02 falou pela primeira vez sobre o consumo de drogas de Mário Jardel enquanto este estava em Alvalade. Questionado sobre o jogador mais problemático que orientou ao longo de toda a carreira, László Bölöni não teve dúvidas na hora de eleger o brasileiro e lembrou a temporada 2002/03, a seguinte à conquista do Campeonato, em que o avançado falhou 15 das 34 jornadas por alegados testes positivos a cocaína.

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“O jogador mais difícil de treinar e aquele com quem tive mais problemas foi o Jardel. O pai e a mãe dele eram alcoólicos, o problema era esse. Eu escrevia a equipa no quadro, na presença dos jogadores, colocava-o no onze e o médico fazia-me sinal de que não era possível porque o Jardel estava com… [passou os dedos pelo nariz]. Eles faziam o teste, para percebermos se o médico podia dar luz verde para jogar, e ele estava positivo”, revelou o romeno, atualmente com 72 anos.

Mais à frente, o treinador lembrou a maneira como tentou ajudar Mário Jardel. “Eu era um treinador jovem, fiz um grande esforço. Estou em paz com a minha consciência, fiz o que pensava estar certo. Um dia disse-lhe: ‘Ouve, vou levar-te para o estágio comigo. Vamos e ficamos lá fechados, eu no meu quarto e tu no teu. Conversamos, comemos, treinamos, corremos’. Ele concordou. Fiquei com as chaves do carro e dormi com ele no centro de estágios. Eu estava a fazer horas extra nessa segunda época. Além disso, telefonava para o Brasil, falava com a mulher dele, a Karen, e com a filha. Começou tudo bem, mas depois tornou-se terrível”, começou por contar.

“Ao fim de seis dias ele disse-me: ‘Não me sinto bem, vou ter de sair durante algum tempo, mas volto’. Respondi-lhe: ‘Mário, eu conheço-te. Não vais a lado nenhum. Vamos lá fora, vamos correr, fazer um exercício’. E ele: ‘Sim, sim, mas eu volto’. Eu sabia que ele nunca mais iria voltar. Fez uma chamada, chegou um táxi e ele desapareceu. Ele de facto apareceu no dia seguinte, mas o médico começou a acenar-me…”, acrescentou.

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No final dessa temporada, Mário Jardel saiu para o Bolton a troco de pouco mais de 1,5 milhões de euros e László Bölöni, que não tinha ido além de um terceiro lugar depois de ser campeão na época anterior, rumou ao Rennes de França. “Perder o Mário Jardel na minha segunda época no Sporting foi uma grande derrota para mim. Ele tinha marcado mais de 40 golos na primeira temporada, na segunda estava com seis”, lamentou o treinador romeno, que está sem clube desde que saiu do Metz em julho do ano passado.

De recordar que, em 2008 e quando Mário Jardel assumiu publicamente que consumiu cocaína enquanto jogou futebol, o antigo diretor do laboratório de análises do Conselho Nacional Antidopagem, Luís Horta, sublinhou que o avançado brasileiro nunca tinha tido um controlo antidoping positivo enquanto atuou em Portugal, entre FC Porto (1996-2000), Sporting (2001-2003) e Beira-Mar (2006/07). Ou seja, o consumo de estupefacientes de Mário Jardel seria feito entre jogos, algo agora também confirmado por László Bölöni.