A primeira-ministra deposta do Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte, à revelia, esta segunda-feira, no final de um julgamento que durou meses e a considerou culpada de ordenar uma repressão violenta contra uma revolta estudantil em 2024. A ex-governante afirma que as acusações “são tendenciosas e têm motivações políticas”.Sheikh Hasina está atualmente exilada na Índia.


“No seu pedido repugnante pela pena de morte, revelam a intenção descarada e assassina de figuras extremistas dentro do Governo interino de destituir a última primeira-ministra eleita do Bangladesh e anular a Liga Awami como força política”, acrescentou Sheikh Hasina.


A ex-governante do Bangladesh, Sheikh Hasina, atualmente exilada na Índia, afirmou, esta segunda-feira, que a sua sentença de morte anunciada pelo tribunal tem “motivações políticas”.

“As sentenças anunciadas contra mim foram decididas por um tribunal ilegal, nomeado e presidido por um Governo que não foi eleito e sem mandato democrático”, afirmou Hasina, de 78 anos, em comunicado.”São tendenciosas e têm motivações políticas”, acrescentou Sheikh Hasina na nota.

Este veredicto de culpada foi predeterminado. Não tenho medo de enfrentar os meus acusadores perante um tribunal imparcial, no qual as provas possam ser vistas de forma honesta”, acrescentou.

Sheikh Hasina, que fugiu para a Índia em agosto de 2024, estava a ser julgada à revelia desde junho por um tribunal da capital do Bangladesh.


“No seu pedido repugnante pela pena de morte, revelam a intenção descarada e assassina de figuras extremistas dentro do governo interino de destituir a última primeira-ministra eleita do Bangladesh e anular a Liga Awami como força política”, acrescentou Sheikh Hasina.


O tribunal também condenou à morte o ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan Kamal, que também está em fuga. O ex-chefe da polícia, Chowdhury Abdullah Al-Mamun, que está sob custódia e declarou-se culpado, foi condenado a cinco anos de prisão. 


Crimes contra a humanidade

Um tribunal do Bangladesh condenou a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina à morte por ter ordenado a repressão violenta dos protestos que levaram à sua deposição no verão de 2024.

“Todos os elementos (…) que constituem crimes contra a humanidade estão presentes. Nós decidimos impor apenas uma sentença: a pena de morte”, declarou o juiz Golam Mortuza Mozumder, do tribunal de Daca.

No final do julgamento, os juízes consideraram a ex-primeira-ministra culpada de crimes contra a humanidade – incluindo o incitamento ao assassínio e de ordenar mortes -, de acordo com a sentença. Hasina sempre negou as acusações das autoridades judiciais do Bangladesh.O Governo interino liderado pelo Prémio Nobel,
Muhammad Yunus, descreveu o veredicto como “histórico”, mas pediu calma e
avisou que iria lidar com qualquer distúrbio.

O governo interino governa o país de maioria muçulmana, localizado no sul da Ásia e com 170 milhões de habitantes, desde que Hasina fugiu.

Após o veredicto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Bangladesh pediu à Índia a extradição de Hasina e do ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan Kamal, que também foi condenado à morte no mesmo caso. A Índia afirmou ter tomado conhecimento do veredicto e que “se iria empenhar construtivamente”, sem entrar em mais pormenores.

Em julho e agosto de 2024, os protestos antigovernamentais que a obrigaram a fugir do país, após quinze anos no poder, fizeram pelo menos 1.400 mortos, segundo as Nações Unidas, a maioria civis.Num país já sob intensa tensão política e com as eleições parlamentares
marcadas para daqui a três meses, esta decisão estava a ser muito
aguardada.

A polícia da capital foi colocada em alerta máximo e um grande número de agentes foram mobilizados para a zona em redor do tribunal e em todos os pontos-chave da cidade, observaram os jornalistas da agência de notícias AFP.



O responsável da acusação tinha pedido no mês passado que Sheikh Hasina fosse condenada à morte.

Sheikh Hasina pronunciou-se em outubro a vários órgãos de imprensa estrangeiros, incluindo a AFP, para rejeitar todas as acusações contra si, que considerou infundadas.

Os problemas legais de Sheikh Hasina não terminam com este julgamento. É também alvo de inúmeras denúncias sobre vários assassinatos e raptos ao longo dos seus mandatos, pelos seus adversários políticos e organizações não-governamentais (ONG).


Uma comissão de inquérito estimou recentemente que o Governo da primeira-ministra ordenou o desaparecimento de mais de 250 membros da oposição. 
O Bangladesh é um dos maiores exportadores de
vestuário do mundo, fornecendo grandes marcas globais. O setor foi
duramente atingido pelos protestos do ano passado.

Após vencer as eleições parlamentares no início de 2024, consideradas fraudulentas, o partido Hasina, a Liga Awami, foi banido pelo atual Governo interino do Bangladesh liderado pelo Prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus.

Na oposição durante o Governo de Hasina, o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP, na sigla em inglês) é considerado o favorito nas próximas eleições.