A crise das abelhas está a inspirar soluções criativas. De colmeias reinventadas a pavilhões urbanos que alimentam estes insetos polonizadores, o design junta-se agora à luta pela biodiversidade

“Se os polinizadores desenhassem jardins, o que veriam os humanos?” Por videochamada, a artista londrina Alexandra Daisy Ginsberg fala sobre o “Pollinator Pathmaker”, uma ferramenta online que desenvolveu e que permite aos utilizadores criar jardins para o benefício dos insetos polinizadores, como as abelhas – muitas das espécies que estão ameaçadas de extinção.

Os projetos de plantação são gerados por um algoritmo que prioriza as flores que os polinizadores mais gostam de visitar. O resultado são jardins repletos de flores em todo o mundo, que Ginsberg descreve como “obras de arte vivas”.

O projeto é uma das muitas propostas em exibição em “More than Human”, mostra patente no Design Museum, em Londres, até 5 de outubro. A exposição explora a relação interligada entre humanos, animais, plantas e outros seres vivos, apresentando ideias sobre como viver em maior harmonia com o mundo natural.

Com o “Bee Home”, ou “Casa das Abelhas”, os utilizadores podem selecionar o tamanho, a altura e o estilo que mais se adequam ao seu gosto. (Imagem: Irina Boersma)

As abelhas e outros polinizadores – como borboletas, vespas e beija-flores – são essenciais para manter a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas terrestres. À medida que se deslocam entre flores, recolhendo néctar para se alimentarem, transportam pólen involuntariamente, permitindo que as plantas se reproduzam.

Segundo as Nações Unidas, um terço da produção alimentar mundial depende dos polinizadores, incluindo as abelhas.

O Pollinator Pathmaker, na Serpentine, em Londres, era uma escultura viva feita de plantas. (Imagem: Royston Hunt/Cortesia de Alexandra Daisy Ginsberg Ltd)

Mas as populações de abelhas têm vindo a diminuir drasticamente. Nos Estados Unidos, o Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas registou uma redução de 5,9 milhões de colónias produtoras de mel em 1947 para 2,44 milhões em 2008. Entre junho de 2024 e fevereiro de 2025, os apicultores comerciais norte-americanos reportaram a perda de 62% das suas colónias de abelhas geridas.

“Uma das principais causas do declínio dos polinizadores é a alteração das paisagens e a perda de flores nos ambientes humanos”, explica Harland Patch, investigador no departamento de entomologia da Universidade Estatal da Pensilvânia e coautor do livro “The Lives of Bees”.

Os cientistas atribuem essa perda de habitat natural e biodiverso às alterações climáticas, à poluição, aos pesticidas e ao desenvolvimento humano.

“Devíamos ficar chocados se um bairro não estiver cheio de flores”

Uma das formas mais eficazes de apoiar as abelhas é garantir que têm uma grande variedade de flores para se alimentarem. Em resposta, arquitetos e designers começaram a criar jardins “amigos dos polinizadores”.

A exposição “More than Human” (Mais do que humano) no Museu do Design, em Londres, explora a relação interligada entre humanos e animais, plantas e outros seres vivos. (Imagem: Luke Hayes/Cortesia do Museu do Design)

Também apresenta ideias sobre como viver em mais harmonia com o mundo natural, como o pavilhão “Alusta”. (Imagem: Maiju Suomi)

O pavilhão “Alusta”, criado pelo estúdio finlandês Suomi/Koivisto e também exibido em “More than Human”, é uma estrutura temporária e jardim concebido em Helsínquia, em 2022.

“Contactámos um grupo de investigadores em ecologia para perguntar se era possível atrair polinizadores para um parque de estacionamento pavimentado no centro de Helsínquia”, conta a cofundadora Maiju Suomi por videochamada. “Disseram-nos que sim, se escolhermos as plantas certas.”

Com a ajuda dos ecologistas, a equipa selecionou plantas favoráveis aos polinizadores, como prímulas, tomilho-limão, morangueiro-bravo e hissopo, dispondo-as em torno de um pavilhão feito de blocos de argila.

“Queríamos criar um espaço que representasse como os nossos destinos estão entrelaçados com os das espécies não humanas”, argumenta Miju Suomi. “Se elas não sobreviverem, nós também não.”

Trabalhar num projeto como este, acrescenta, ajuda os designers a compreender como as suas decisões podem apoiar – e não quebrar – essas relações.

No Arboreto da Universidade Estatal da Pensilvânia, um complexo de parque e jardim botânico, foi criado em 2021 um Jardim de Polinizadores e Aves para atrair insetos e aves locais.

Desenhado pelo Didier Design Studio, Claudia West e Phyto Studio, o jardim inclui plantas floridas como solidágos, hortelã-das-montanhas nativa e funcho. As equipas organizaram as plantações para unirem beleza estética e função científica.

O Jardim dos Polinizadores e Aves no Arboreto da Penn-State. (Imagem: Harland Patch)

Um dos objetivos do jardim é inspirar os visitantes a criar os seus próprios espaços amigos dos polinizadores, se tiverem recursos.

“A principal regra é plantar o maior número possível de plantas floridas”, diz Harland Patch, investigador e diretor do programa de polinizadores do Arboreto. “Criem clubes de plantação, envolvam os vossos vizinhos e a vossa cidade. No século XXI, devíamos ficar chocados se um bairro não estiver cheio de flores.”

Casas com privacidade

Além das flores para alimentação, designers têm criado abrigos inovadores para que as abelhas possam refugiar-se e nidificar, ajudando à sua sobrevivência.

As colmeias, estruturas construídas pelo ser humano para abrigar abelhas produtoras de mel, existem há milénios, mas os designs continuam a evoluir.

Na Semana de Design de Milão deste ano, foi apresentada a colmeia “Host”, criada pelo estúdio londrino Layer em colaboração com o fabricante espanhol Andreu World.

De design modular, construída em madeira, metal e palha, a “Host” reformula o modelo tradicional de colmeias em caixas empilhadas.

“Analisámos colmeias existentes e vimos oportunidades para melhorá-las”, conta Benjamin Hubert, fundador da Layer.

Desenvolvido pelo estúdio de design industrial Layer, sediado em Londres, em colaboração com o fabricante espanhol de mobiliário Andreu World, o “Host” tem como objetivo melhorar a “habitabilidade” da colmeia. (Imagem: Cortesia de Layer)

O novo modelo inclui ventilação eficiente, proteção contra chuva e isolamento em palha em torno da câmara de criação, mantendo as abelhas mais quentes em climas frios – tudo para melhorar a habitabilidade da colmeia, explica Benjamin Hubert.

A artista e designer francesa Marlene Huissoud criou uma colmeia especial no Museu SFER IK, no México, para a abelha Melipona, uma espécie local em declínio.

A colmeia, chamada “Mama”, assemelha-se a um grupo de troncos de árvore interligados.

“É como uma árvore com vários canais, e em cada um vive um enxame diferente”, explica Marlene Huissoud.

Ela trabalhou com um apicultor local para criar uma estrutura confortável para as abelhas, oferecendo-lhes máxima privacidade em relação aos observadores humanos.

Huissoud cresceu entre colmeias – o pai era apicultor – e essa convivência despertou-lhe uma fascínio profundo por estes insetos.

“Viver com abelhas despertou o meu interesse”, afirma. 

Muitas das suas peças são habitats para abelhas e outros polinizadores. A cadeira “Please Stand By”, feita em argila e perfurada com buracos para insetos, também está exposta em “More than Human”.

“Todas as nossas decisões de design que não combatem as alterações climáticas tornam piores as condições de vida de todos os seres – humanos e não humanos”, afirma Miju Suomi, da Suomi/Koivisto.

As colmeias destinam-se apenas às abelhas produtoras de mel, que representam uma pequena fração das cerca de 20 mil espécies de abelhas existentes. Muitas são solitárias, preferindo nidificar sozinhas.

Os chamados “hotéis para abelhas” utilizam feixes de canas ocas ou troncos de madeira perfurados, integrados em pequenas estruturas de madeira semelhantes a casas de pássaros, recriando os habitats naturais dessas abelhas solitárias. Versões destes hotéis podem ser encontradas em jardins e parques de todo o mundo, incluindo o Arboreto da Penn State.

Em 2020, a designer dinamarquesa Tanita Klein, em parceria com os estúdios Bakken & Bæck e Space10 (antigo laboratório de investigação e design da IKEA), criou o “Bee Home”, um hotel modular para abelhas em madeira, com design aberto e paramétrico.

Através de uma ferramenta online, os utilizadores podiam escolher o tamanho, a altura e o estilo, descarregando os ficheiros para fabricar as suas próprias versões.

Os resultados assemelhavam-se a pequenas torres de madeira, com padrões de buracos semelhantes a janelas.

Uma colmeia especial no Museu SFER IK, no México, foi desenvolvida para a abelha melipona, uma espécie local que enfrenta um declínio populacional. (Imagem: Gamaliel Mendez Garcia/Museu SFER IK)

Criada por Marlene Huissoud, a colmeia chamada “Mama” assemelha-se a um conjunto dinâmico de troncos de árvores. (Imagem: Museu SFER IK)

Há também os tijolos arquitetónicos perfurados, conhecidos como “bee bricks”, que podem ser integrados em fachadas ou muros de jardim para criar oportunidades de nidificação. Na cidade inglesa de Brighton, esses tijolos tornaram-se uma exigência obrigatória para a aprovação da maioria dos novos projetos de construção.

Miju Suomi considera estas intervenções diretas de design essenciais, mas lembra que os designers também podem ajudar os polinizadores de forma indireta, através de escolhas conscientes.

“As alterações climáticas estão a mudar as condições de vida de todos os seres, piorando-as na maioria dos casos e acelerando a perda de biodiversidade”, diz.

“Todas as nossas decisões de design que não combatem as alterações climáticas pioram as condições de vida de todos – humanos e não humanos.”