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18/11/2025 – 9:00 GMT+1

Superbactérias resistentes aos antimicrobianos são uma ameaça crescente para a saúde em toda a Europa e podem anular anos de avanços médicos, alertaram as autoridades de saúde num novo relatório.

Resistência aos antimicrobianos (RAM) ocorre quando agentes patogénicos, como bactérias ou vírus, evoluem ao ponto de conseguirem escapar aos medicamentos existentes, tornando as infeções mais difíceis de tratar e procedimentos como transplantes de órgãos e tratamentos oncológicos mais arriscados.

A RAM provoca mais de 35 mil mortes por ano na União Europeia, Islândia, Liechtenstein e Noruega, segundo estimativas do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) divulgadas na terça-feira.

Um conjunto de fatores criou uma “tempestade perfeita” para a RAM, disse a agência: o envelhecimento da população europeia torna-a mais vulnerável a infeções; patogénios resistentes a medicamentos estão a espalhar-se além-fronteiras; médicos e doentes recorrem em excesso aos antibióticos; e há lacunas críticas na prevenção e no controlo de infeções.

“É preciso garantir que ninguém na Europa fique sem uma opção terapêutica eficaz”, disse o Dr. Diamantis Plachouras, que lidera o trabalho do ECDC sobre RAM e infeções associadas aos cuidados de saúde.

Em 2023, o Conselho da UE fixou cinco metas para os Estados-membros: travar o uso de antibióticos, garantir que pelo menos 65% dos antibióticos utilizados sejam de primeira linha e reduzir o número de novas infeções da corrente sanguínea por três tipos de bactérias resistentes.

A Europa só cumpriu um destes objetivos até agora, indica o relatório. Face a 2019, as novas infeções da corrente sanguínea por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) diminuíram 20,4%, superando a meta de 15%.

O bloco não se sai tão bem noutras medidas. Desde 2019, as novas infeções da corrente sanguínea causadas por outra destas bactérias, Klebsiella pneumoniae resistente aos carbapenemos, aumentaram mais de 60%, apesar de a meta apontar para uma redução de 5%, referiu o ECDC.

Entretanto, as infeções causadas por uma estirpe de Escherichia coli (E. coli) altamente resistente subiram mais de 5%, apesar de a meta ser uma redução de 10%.

Os europeus também estão a tomar mais antibióticos do que no passado, e muitos são fármacos que, segundo as autoridades, só devem ser usados em último recurso quando os de primeira linha não são eficazes.

Em paralelo, há poucos antibióticos novos no horizonte para combater bactérias prioritárias, como as gram-negativas resistentes aos carbapenemos (CR-GNB), disse o ECDC.

A diretora do ECDC, Dra. Pamela Rendi-Wagner, afirmou que a Europa precisa de investir mais em promover o uso responsável de antibióticos, controlar infeções e desenvolver novos antibióticos.

“Combater a RAM exige inovação decisiva”, afirmou em comunicado.