Fósseis microscópicos encontrados em sedimentos no fundo do oceano Atlântico podem representar componentes de um “sistema GPS” interno de uma antiga criatura marinha que utilizavam o campo magnético da Terra para navegar longas distâncias. A hipótese consta de um estudo que saiu recentemente no periódico Communications Earth & Environment.
Os pesquisadores disseram que os fósseis, que são cerca de 50 vezes menores de um fio de cabelo humano, são feitos de um mineral de ferro fortemente magnético chamado magnetita. Eles suspeitam que essas partículas já foram parte de um organismo marinho, embora sua identidade permaneça misteriosa.
Cientistas recuperaram vários desses fósseis cuja datação é de até 97 milhões de anos atrás. Porém, há um debate se eles têm origem biológica ou não.
Embora se acredite que alguns animais migratórios, entre os quais aves, peixes e insetos, usem o campo magnético da Terra para navegar, como eles conseguem fazer isso ainda é uma questão sem resposta. Uma hipótese é que partículas de magnetita dentro de seus corpos se alinhem com o campo magnético da Terra, semelhante ao que ocorre com uma agulha de bússola.
Identificar a criatura à qual os fósseis podem ter pertencido é um desafio, pois eles não estavam associados a quaisquer outros restos corporais.
Faria sentido, segundo pesquisadores, se eles viessem de um animal migratório comum o suficiente para ter deixado abundantes restos fósseis. Enguias são uma possibilidade, segundo Harrison.
“As enguias são apenas um exemplo de um organismo marinho migratório, famoso por ter que navegar duas vezes através do Atlântico. Suas larvas são transportadas por correntes oceânicas associadas ao sistema da Corrente do Golfo, desde os locais de reprodução no mar dos Sargaços até habitats costeiros e de água doce, do norte da África até a Escandinávia. Depois de uma década ou mais, os adultos em fase de maturação migram de volta para o mar dos Sargaços, desovam e morrem”, explicou Harrison.
O organismo responsável pelos fósseis de magnetita também pode ter sido simplesmente um tipo de micróbio. Essas partículas se parecem muito com os fósseis de magnetita chamados magnetossomos produzidos por certas bactérias, embora os magnetossomos sejam em torno de 20 vezes menores.
Certas bactérias aquáticas possuem uma forma de magnetorrecepção decorrente de cadeias de magnetossomos dentro desses organismos unicelulares que lhes permitem se alinhar com o campo magnético da Terra, ajudando-as a navegar até sua profundidade de água preferida.
“Há fortes evidências sugerindo que muitos outros organismos —incluindo mamíferos, aves, anfíbios, répteis e insetos— possuem capacidades de navegação magnética. O que permanece desconhecido é como eles fazem isso”, disse o físico e colíder do estudo Sergio Valencia, do instituto de pesquisa Helmholtz-Zentrum Berlim, na Alemanha.
“Um grande desafio é que, se partículas magnéticas existem nesses animais, elas são extremamente pequenas e esparsas, tornando-as muito difíceis de localizar dentro do organismo inteiro”, disse Valencia.
Então, como funcionaria esse “sistema de GPS” biológico?
“Se essas partículas fossem de fato parte de um organismo vivo, uma possibilidade é que elas estivessem conectadas a células magnetorreceptivas, atuando como sensores magnéticos. Conforme a partícula se reorientasse com o campo magnético da Terra, ela poderia ter gerado um sinal mecânico ou elétrico que o organismo usava para detectar a intensidade e direção magnética”, afirmou Valencia.
“Dessa forma, o organismo poderia ter tido um ‘sentido’ magnético —análogo ao nosso sentido de visão, que capta a distribuição de luz—, permitindo-lhe navegar com segurança em seu ambiente usando a força e direção locais do campo magnético do planeta como guia”, explicou o pesquisador.