O anúncio sobre os financiamentos sauditas seguiu-se ao agradecimento do presidente norte-americano pelos investimentos nos EUA prometidos por bin Salman em nome do reino saudita em setores como a tecnologia e a inteligência artificial..
“Quero agradecer-lhe por ter aceite investir 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos e, como é meu amigo, pode aumentar esse valor para um bilião, mas terei de o convencer”, propôs Trump, bem disposto, a bin Salman, frisando o impacto positivo da iniciativa saudita na economia norte.americana.

O príncipe herdeiro saudita aceitou o repto e anunciou que, como a Arábia Saudita “acredita no futuro da América” irá aumentar o seu compromisso para quase um bilião de dólares (mais de 860 mil milhões de euros) em investimentos nos Estados Unidos.

Questionado sobre a oportunidade de investir tal montante nos Estados Unidos, tendo em conta a baixa do preço do petróleo, bin Salman afirmou que o reino não estava a “criar oportunidades falsas para agradar aos Estados Unidos ou a Trump” e que na Arábia Saudita há uma “enorme procura” por potência computacional e desejo por chips avançados dos EUA.
O grupo Trump possui vários investimentos com empresas sauditas. A perguntas sobre um eventual conflito de interesses entre a Administração norte-americana e os laços familiares de Trump com o reino, o presidente afirmou que se afastou dos negócios da família.
“Não tenho nada a ver com o negócio da família. Saí e dediquei-lhes 100% da minha energia. O que a minha família faz é ótimo. Têm negócios em todo o mundo”, reagiu.
“Na verdade, fizeram muito pouco com a Arábia Saudita. Tenho a certeza de que poderiam fazer muito mais, e tudo o que fizeram foi muito bom”, acrescentou.
Aproximação a Israel
Donald Trump confirmou por seu lado um acordo de Defesa com Riade que inclui a venda de caças furtivos F-35 à Arábia Saudita, num acordo semelhante ao que têm com Israel.
“No que me diz respeito, penso que ambos estão num nível em que deveriam receber os melhores”, afirmou o norte-americano, referindo-se à Arábia Saudita e a Israel como grandes aliados.
Israel e Arábia Saudita nunca tiveram relações diplomáticas formais, mas mantêm uma cooperação secreta em questões como o Irão.
Circunstância que poderá mudar em breve para relações formais, caso se concretize outro desejo de Trump para pacificar a região, o do reino saudita subscrever os Acordos de Abraão, que normalizam em 2018 as relações dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrain com Israel.
Trump afirmou esta terça-feira, na Sala Oval, que abordou o assunto com bin Salman, acrescentando acreditar ter recebido uma resposta positiva.
Mohammed bin Salman, cuja família dita grande parte da política externa dos seus aliados no Médio Oriente, acrescentou que, embora a Arábia Saudita queira fazer parte dos Acordos de Abraão, também deseja garantir um caminho claro para uma solução de dois Estados e que deseja trabalhar para o reconhecimento de Israel “o mais rapidamente possível”. “Queremos fazer parte dos Acordos de Abraão. Mas também queremos garantir que o caminho para uma solução de dois Estados está claramente definido”, disse o líder saudita no Salão Oval, ao lado de Donald Trump.
Bin Salman referiu que teve “uma conversa construtiva” sobre o assunto com Donald Trump e que “vamos trabalhar nisso para garantir que podemos criar as condições adequadas o mais rapidamente possível para alcançar esse objetivo”.
“Somos muito bons amigos há já muito tempo”, reagiu o presidente norte-americano sobre MBS.
Trump admitiu ainda que “consegue ver” um acordo para transferir tecnologia nuclear norte-americana para a Arábia Saudita sem especificar qualquer calendário.
Só a hipótese deverá levantar críticas em Teerão. O regime iraniano tem sido impedido de desenvolver o seu próprio programa nuclear, que afirma ser pacífico, depois das potências ocidentais afirmarem que os rivais xiitas de Riade e de israel pretendem desenvolver bombas atómicas.
A controvérsia Khashoggi
Outro assunto que mereceu comentários foi o assassínio brutal do jornalista turco, Jamal Khashoggi, crítico do poder da família real saudita. O príncipe MBS, conhecido pela sua irredutibilidade para com os adversários, é o principal suspeito de ser o mandante da execução de Khashoggi, ocorrida em 2018 no consulado saudita em Istambul.
O escândalo marcou a primeira visita de bin Salman à Casa Branca, em 2018. Esta terça-feira, Donald Trump afirmou que bin Salman “não sabia de nada” sobre o assassinato de Khashoggi, apesar de os serviços de informação norte-americanos terem concluído que o aprovou.
Um repórter da ABC abordou a questão polémica, perguntando porque é que os americanos devem confiar em bin Salman, dado que os serviços de informação americanos concluíram que ele orquestrou o brutal assassinato do jornalista.
Trump criticou a ABC News, chamando-lhe notícias falsas. “Está a falar de alguém (Khashoggi) extremamente controverso. Muitas pessoas não gostavam deste senhor de quem está a falar”, afirmou.
“As coisas acontecem. Mas ele (bin Salman) não sabia de nada. E podemos ficar por aqui”, acrescentou o presidente.
O príncipe herdeiro negou ter ordenado a operação, mas reconheceu a responsabilidade como governante de facto do reino saudita.
Apesar de Mohammed bin Salman não ser o monarca da Arábia Saudita é o seu líder de facto e foi recebido com altas honras reservadas para visitas de Estado.