As gravatas azuis de Luís Marques Mendes e de António Filipe foram as únicas coisas em que houve sintonia entre estes candidatos presidenciais. Isso e as acusações de “facção” dirigidas um ao outro. De resto, no primeiro debate televisivo destes candidatos, as posições foram totalmente opostas em matérias como a lei laboral, as cerimónias dos 50 anos do 25 de Novembro, a TAP ou a guerra na Ucrânia.
Com o primeiro tema em cima da mesa a ser a revisão da lei laboral, Luís Marques Mendes foi o primeiro a intervir para sublinhar a necessidade de “não dramatizar” a existência de uma greve geral, relativizar os “transtornos” e manifestar a esperança de que será possível “o diálogo e o equilíbrio” depois da greve geral. Quanto ao mais – se vetaria ou não –, Marques Mendes continua sem se pronunciar, argumentando que só se deve pronunciar quando existir uma lei aprovada e que o processo se pode estender para lá da data da posse do próximo Presidente.
Sinalizando a “profunda discordância”, António Filipe acusou Marques Mendes de ser o “candidato do Governo”, enquanto ele é “o candidato dos trabalhadores”. Por isso, não tem dúvidas de que se deve pronunciar contra uma intenção do executivo que “inverte toda a lógica do direito do trabalho” e que “tudo o que está em cima da mesa é lesivo”. Mote que serviu para Marques Mendes utilizar a acusação de que António Filipe é um “candidato de facção” e ouvir, na resposta: “Sou tão de facção como Marques Mendes, que é do PSD”.
Passando para o tema do 25 de Novembro, o candidato apoiado pelo PCP acusou a direita de querer “reescrever a história e menorizar o 25 de Abril”. “Posição incompreensível”, retorquiu Marques Mendes, voltando a acusá-lo de ser faccioso e de “não ter sentido de Estado”, notando que ambas as datas são importantes na construção da democracia, sendo o 25 de Abril a “data mais importante”. Puxando do adjectivo mais utilizado no debate, António Filipe falou também em “cerimónia de facção” e jogou a cartada de ter, ao seu lado, pessoas do Grupo dos Nove (no caso, Pezarat Correia).
Com o antigo líder do PSD a dizer que vai primar pela “estabilidade”, referindo-se ao cenário político, António Filipe concordou no termo, mas acrescentou que, sendo eleito, será pela “estabilidade das vidas das pessoas”. A partir daí, oportunidade para vincar novamente as diferenças à boleia da TAP.
Para o comunista, as notícias desta terça-feira sobre as buscas na companhia aérea “demonstram que é necessário impedir o processo de privatização” em curso; já o social-democrata realçou que “se não houver privatização, ainda que parcial, a TAP não vai crescer” e que, “pelas regras de Bruxelas”, o Estado “não pode meter dinheiro”.
Antes da discordância final, questionados sobre eventuais derivas autoritárias no país, Marques Mendes afirmou que não lhe passa pela cabeça “um cenário tremendista dessa natureza”, mas garantiu que será “intransigente” nos valores de “defender a democracia, liberdade e justiça social”. Já António Filipe sublinhou que, como “último reduto”, poderia, respaldado pela Constituição, “demitir o Governo para garantir o regular funcionamento das instituições democráticas”.
Por fim, a Ucrânia. Marques Mendes acusou António Filipe de não condenar a Rússia agressora e António Filipe lembrou que o fez, em 2022. No entanto, no remate final, Marques Mendes insistiu e António Filipe, reiterando a condenação de há três anos, disse que Marques Mendes estava a “simplificar aquilo que não é simplificável”, realçando também que a guerra começou em 2014.