O diabetes é uma das doenças crônicas mais prevalentes e, ao mesmo tempo, uma das mais silenciosas. Em muitos casos, a glicemia elevada progride por anos sem apresentar manifestações perceptíveis, até que surjam alterações em órgãos vitais.
“O perigo do diabetes está justamente na ausência de sinais. Enquanto a doença avança de forma discreta, o açúcar em excesso no sangue compromete gradualmente órgãos e tecidos. Quando o diagnóstico é feito tardiamente, o paciente pode já ter alterações em rins, visão, coração ou sistema nervoso”, explica a endocrinologista Flávia Pieroni, do São Marcos Saúde e Medicina Diagnóstica.
Por isso, identificar precocemente é decisivo. Na prática clínica, o rastreamento e a confirmação do diagnóstico se baseiam em exames simples, como a glicemia em jejum e a hemoglobina glicada (HbA1c). “A combinação desses exames permite detectar alterações antes que apareçam complicações. No tipo 1, a deficiência de insulina é absoluta, os sintomas são mais proeminentes e o tratamento é imediato. Já o tipo 2, que responde pela maior parte dos casos e tem sua apresentação mais silenciosa e progressiva, envolve resistência à insulina e fatores como excesso de peso, sedentarismo e predisposição genética em sua gênese. Ambos exigem acompanhamento com metas de controle bem definidas”, detalha a médica.
Dados internacionais e nacionais reforçam a dimensão do problema. A Federação Internacional de Diabetes estima que 589 milhões de adultos vivem com a doença, e 43% ainda não sabem que têm diabetes, o equivalente a quase metade dos casos em todo o mundo. No Brasil, o Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, indica que 10,1% das pessoas nas capitais já receberam diagnóstico médico.
Além dos fatores pessoais, o contexto urbano também pesa sobre o controle glicêmico. O estudo “Neighborhood green space and diabetes mellitus in Brazil”, publicado em 2025 na revista científica Cell Reports Medicine, observou maior taxa de internações por complicações do diabetes em áreas com menor cobertura de espaços verdes, apontando que ambiente, estresse e falta de oportunidades para se exercitar influenciam a adesão ao tratamento e os desfechos da doença.
“Tratar o diabetes não é apenas prescrever medicamentos. É estabelecer uma rotina de cuidado: alimentação equilibrada, prática regular de exercícios, acompanhamento periódico e controle clínico contínuo. Informação e constância fazem diferença no prognóstico”, avalia Flávia Pieroni.