A conferência de imprensa estava a ser marcada por vários elogios e por um clima de otimismo. O Presidente norte-americano, Donald Trump, destacava as boas relações entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos da América (EUA), realçando que o homem ao seu lado, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, é um “grande amigo seu” e garantindo que é “muito respeitado”. Contudo, duas questões da jornalista da ABC News Mary Bruce alteraram por completo a atmosfera.

A primeira questão tinha a ver com a possível promiscuidade entre os investimentos sauditas e os negócios que a família de Donald Trump mantém na Arábia Saudita. Mas a que causou o constrangimento (visível na cara de bin Salman) teve a ver com a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que era um dos principais críticos da coroa da Arábia Saudita. Os serviços de informações norte-americanos concluíram que foi uma morte politicamente motivada — e ordenada diretamente pelo príncipe herdeiro, que naquele momento estava a tentar fazer uma ofensiva de charme ao chefe de Estado norte-americano.

Após ouvir as perguntas, Donald Trump questionou logo a que meio de comunicação pertencia a jornalista. “ABC News”, respondeu Mary Bruce. O Presidente norte-americano classificou o canal de televisão como “fake news”, mas respondeu às perguntas, mas sem uma acusação. A repórter da ABC News estava a “embaraçar” Mohammed bin Salman. “Fizeste uma pergunta horrível.”

Sobre os negócios da sua família na Arábia Saudita, o Presidente norte-americano assinalou que a família está “sempre a fazer negócios”: “Fizeram poucos com a Arábia Saudita. Eles podiam [fazer mais]. E todos o que eles fizeram foram muito bons”. Donald Trump também destacou que se tem dedicado a gerir os Estados Unidos da América e que não está atualmente dedicado ao ramo empresarial ou financeiro.

Em relação ao jornalista saudita assassinado em Istambul em 2020, Donald Trump referiu que Jamal Khashoggi foi “controverso”: “Muitas pessoas não gostaram desse homem. As coisas acontecem. Ele [Mohammed bin Salman] não sabe nada disso. Tem feito um trabalho excecional”.

Relatório norte-americano confirma: Príncipe herdeiro saudita aprovou morte de Jamal Khashoggi, que era tido como uma “ameaça”

Por sua vez, Mohammed bin Salman disse que a morte do jornalista foi um evento “doloroso” e que as autoridades sauditas investigaram o sucedido. “Foi um grande erro”, concedeu o príncipe herdeiro. “Melhorámos o nosso sistema para garantirmos que nada como isto acontece outra vez. Estamos a fazer o nosso melhor para que não aconteça outra vez.”

O príncipe herdeiro saudita mencionou ainda o nome de Osama bin Laden, referindo que o antigo líder da Al Qaeda tentou destruir as relações entre Riade e Washington na sequência do 11 de setembro. “Temos trabalhado para provar que [Bin Laden] estava enganado e continuamos a desenvolver a nossa nação. É crítico para a segurança do mundo.”

Mais no final da conferência de imprensa, a jornalista da ABC voltou a fazer uma pergunta a Donald Trump, desta vez sobre o caso Epstein. E voltou a receber uma reprimenda do Presidente. “Não é a pergunta, é a tua atitude. Acho que és uma jornalista terrível. É a forma como fazes perguntas. És uma pessoa e uma jornalista horrível”, atirou, acrescentando que o canal de televisão para o qual trabalha Mary Bruce devia ver a sua “licença cancelada”.

Sobre Jeffrey Epstein, Donald Trump garantiu que nunca teve nada a ver com o homem que montou uma rede de exploração sexual de menores. “Expulsei-o do meu clube, achava que era um tarado doentio. E depois estava certo sobre isso. Mas sabem quem teve a ver com isso? Bill Clinton, que foi à ilha dele várias vezes”, explicou Donald Trump, voltando ao argumento de que o caso Epstein é uma “fraude democrata”.