Viver com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma luta silenciosa, travada a cada inspiração. É a angústia de sentir o ar faltar em tarefas tão simples como vestir uma camisa ou abraçar um neto. Para quase 800.000 portugueses, esta não é uma metáfora; é a realidade diária de uma doença que rouba a autonomia e isola. Mas esta luta, já por si tão dura, torna-se ainda mais revoltante quando confrontada com o silêncio no Orçamento do Estado.

Em 2024, a DPOC foi responsável por mais de 10.000 internamentos hospitalares, muitos deles em ventilação, representando uma fatia esmagadora e crescente dos internamentos por doenças respiratórias. Cada um destes números representa uma família em crise, uma vida suspensa e um custo enorme para um Serviço Nacional de Saúde (SNS) sobrecarregado. É uma crise de Saúde Pública previsível e, em grande parte, evitável.

No entanto, ao analisar a proposta de Orçamento do Estado para 2026, sentimos inevitavelmente uma profunda falta de ar. Vemos um documento que, embora reforce áreas essenciais, deixa as doenças respiratórias numa perigosa zona cinzenta. Temos um Plano Nacional para as Doenças Respiratórias (PNDR), mas sem metas claras e, acima de tudo, sem o oxigénio financeiro para ser implementado. A ausência de uma estratégia orçamental explícita para a DPOC não é uma mera omissão técnica; é uma decisão política que condena milhares de pessoas a diagnósticos tardios e a cuidados insuficientes.

Investir no diagnóstico precoce da DPOC, através da generalização de espirometrias nos Cuidados de Saúde Primários, e no acesso universal à reabilitação respiratória não é uma despesa. É o investimento mais inteligente que podemos fazer, uma vez que reduz hospitalizações, diminui a necessidade de tratamentos complexos e caros e, o mais importante, devolve qualidade de vida a quem a doença a roubou.

Neste Dia Mundial da DPOC, a nossa mensagem transcende a sensibilização. É uma convocatória para a ação conjunta. Em nome dos doentes que represento, convidamos o Governo e o Parlamento a sentarem-se à mesa connosco, não para ouvir lamentos, mas para desenhar um plano de ação concreto, com financiamento adequado, que transforme o PNDR numa realidade palpável. Apelamos ao sentido de responsabilidade dos nossos decisores para que o Orçamento do Estado seja um instrumento de esperança, e não de resignação. A DPOC não pode esperar: precisamos de conseguir Mais Ar Para Viver.