António Filipe, candidato presidencial apoiado pelo PCP, e Luís Marques Mendes, candidato com o apoio de sociais-democratas e o aval de alguns militantes do CDS, reuniam todas as condições para protagonizar um debate intenso. E foi, de facto, um debate — mas morno.

Ao longo de 30 minutos, os dois candidatos à Presidência da República revelaram sentido de Estado e a serenidade necessária para discutir o que um Presidente da República — figura sem poder directo para alterar a governação — pode fazer para melhorar o país, seja lá o que cada um entenda por isso. Depois do aceso confronto televisivo entre André Ventura e José António Seguro, na segunda-feira, este encontro começou por ser, em certa medida, refrescante pela diferença.

Mas o que acabou por sobressair foi a ausência de qualquer lampejo — de um lado e do outro. Transpareceu mais um respeito mútuo que quase roçou o embaraço sempre que tiveram de se confrontar. Trocaram elogios várias vezes. E desperdiçaram uma boa oportunidade de tentar alargar os seus eleitorados tradicionais.

Ambos defenderam o direito à greve por causa da revisão das leis laborais, ainda que com nuances diferentes: Marques Mendes insistiu que “não devemos dramatizar”; António Filipe lembrou que é “o candidato dos trabalhadores” e que o adversário representa o Governo que quer fazer alterações às leis laborais. Mas Marques Mendes reforçou que “o problema não termina com a greve” e apelou à “paz social” — sem, no entanto, clarificar como lá chegar.

Também se posicionaram em lados opostos quanto à celebração do 25 de Novembro, mas com uma calma quase sonolenta. António Filipe criticou o que considera ser uma tentativa de reescrever a história, apontando para uma cerimónia que procura “menorizar o 25 de Abril” e na qual não pretende participar; Marques Mendes, por sua vez, enalteceu que o “25 de Novembro também deve ser comemorado”, defendendo que “restituiu ao país a pureza dos ideais do 25 de Abril”.

No tema da estabilidade, houve acordo na expressão, mas uma vez mais com focos distintos: Marques Mendes sublinhou a importância da estabilidade política e afastou a hipótese de eleições antecipadas; António Filipe preferiu destacar a necessidade de “estabilidade de vida”.

Depois veio a Ucrânia. E aí aqueceu e foi bem claro que os dois habitam mundos diferentes. Ambos defendem a paz, mas enquanto António Filipe falou em “mediação”, Marques Mendes aproveitou para colocar o adversário em xeque: “Como é possível, entre Putin e Zelensky, escolher Putin?”, questionou. António Filipe fugiu, remetendo para os acontecimentos de 2014, com a anexação da Crimeia, e não para 2022, ano da invasão da Ucrânia.

Quem venceu? Tudo indica que ninguém. Terá sido um empate — claro e muito morno. A haver um vencedor, só poderá ser um: quem moderou o debate.